Brasileirão Série A

‘Da Raiz à Luta’: trio de camisas para Consciência Negra reforça luta antirracista no Brasil

Atlético-MG, Cruzeiro e Internacional foram os clubes que receberam os modelos da Adidas; apesar da causa ser exaltada, templates idênticos geraram críticas

Atlético-MG, Cruzeiro e Internacional lançaram, nesta quarta-feira (1), os uniformes comemorativos “Excelência Negra”, alusivos ao mês da Consciência Negra. A campanha, intitulada “Da Raiz à Luta”, é uma parceria da fornecedora de material esportivo Adidas com a Laboratório Fantasma — organização afro-empreendedora que nasceu na periferia de São Paulo, pelas mãos dos irmãos Emicida e Evandro Fióti.

A campanha “Da Raiz à Luta” homenageia um dos grandes símbolos de resistência da cultura negra: a trança. Os kits visam promover autoestima e contribuir para o combate à discriminação racial.

Essa não é a primeira vez que a Adidas aborda campanhas especiais. Em 2022, camisas alusivas a luta antirracista foram lançadas para Internacional e Flamengo. Já Atlético-MG Cruzeiro e São Paulo, além de Fla e Inter, novamente, ganharam modelos voltados à campanha do Outubro Rosa, para o mês de conscientização sobre o câncer de mama.

Evandro Fióti, CEO da Laboratório Fantasma, falou sobre os objetivos da campanha. Segundo ele, exaltar a beleza negra é confrontar o racismo, a eugenia e as tentativas de genocídio que a população negra passou e ainda passa.

— Essa colaboração com a Adidas e com os clubes vem com intuito de evidenciar como as tradições africanas se fazem presente na nossa sociedade e que deveriam ser motivo de orgulho, respeito e valorização. Como amante de futebol, é um sonho poder viabilizar essa collab, que vai trazer orgulho, consciência e afeto para tantos torcedores e para sociedade brasileira. As marcas têm um papel fundamental nesse diálogo e é um prazer poder ser parte desse feito — disse Evandro.

Detalhes das camisas

A cor predominante das camisas é o creme, com detalhes amarelos em todas as três. O que muda são as cores dos detalhes alusivos a cada equipe. O kit atleticano tem partes pretas, o cruzeirense possui azuis e o colorado ganhou traços vermelhos. Além disso, um patch especial da campanha aparece entre escudos e logo da Adidas. Além das cores, se destacam desenhos que simbolizam as tranças, mote da ação.

Enquanto o Atlético-MG apostou num escudo retrô, Cruzeiro e Internacional utilizaram suas logos soltas, como já é comum em alguns de seus uniformes principais.

As camisas já estão à venda nas lojas da Adidas e nas lojas oficiais dos clubes, virtuais ou físicas, por R$ 329,99, tanto os modelos masculinos, quanto os femininos. O preço das peças gerou críticas vindas de torcedores que enxergam o valor como fora da realidade do brasileiro.

Cruzeiro diz que camisas serão leiloadas e as rendas revertidas para a causa

O Cruzeiro informou, na notícia do lançamento da camisa, que o clube utilizará o uniforme em duas ocasiões: no masculino, contra o Internacional, no próximo domingo, 5 de novembro, no Mineirão, pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro; no feminino, na partida de volta da semifinal do Campeonato Mineiro, contra o Nacional de Visconde do Rio Branco, no sábado, 11 de novembro.

De acordo com o clube celeste, as camisas usadas no jogo contra o Internacional serão leiloadas no site Match Worn Shirt e terão a receita destinada ao Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

O Observatório, inclusive, será a única marca a aparecer na camisa. Todos os patrocinadores do Cruzeiro cederam seu espaço no uniforme para uma melhor visualização da campanha. Outra novidade é que em vez dos nomes dos atletas, será estampado o tema da campanha, “Risque o Racismo”, já adotada pelo clube desde 2020, e que será retomada nos próximos dias.

Até o fechamento da matéria, Atlético-MG e Internacional não haviam informado quando irão utilizar as camisas e se existirá alguma ação especial na campanha.

Torcedores criticam design repetido

Com a divulgação das camisas, que aconteceu no início da madrugada desta quarta-feira (1), antes mesmo dos clubes lançarem os modelos, diversas críticas surgiram ao fato das camisas dos três clubes terem o mesmo design. A única diferença entre os modelos está nas cores de parte dos detalhes e nos escudos das equipes.

Para muitos torcedores, principalmente de Atlético-MG e Cruzeiro, e jornalistas, a Adidas foi “preguiçosa” ao não criar layouts diferentes de clube para clube. No caso da dupla mineira, alguns não gostaram do fato de ter um uniforme praticamente idêntico ao do maior rival. Veja alguns comentários nas redes sociais:

Críticas e elogios estéticos são comuns e variam de gosto para gosto. Por outro lado, as constantes reclamações da repetição dos templates — prática comum da Adidas e de outras marcas, que utilizam do mesmo design para peças de diferentes times, até mesmo rivais — são justas.

A impressão que dá é que, apesar de peças-chave de uma campanha tão importante, os modelos são “reciclados” e que não houve tanto empenho para representar as particularidades e história de cada time, inclusive a atuação destes dentro das pautas raciais. Clubes brasileiros são bastante plurais e diversos, antigos e com suas particularidades. Quando parte importante de suas identidades, caso das camisas, se tornam algo genérico com outras instituições tão únicas quanto, a ideia de desleixo realmente fica mais forte.

Como apontado por um torcedor do Fluminense, a impressão que fica é que as camisas se apropriam da causa para vender mais um produto para torcedores que se sentirem tocados. Esta pode não ser a interpretação de todos que se enxergarem de frente com a questão, mas, não deixa de ser uma observação válida, principalmente se somada ao preço das peças. Outro apontou, ainda, que a camisa parece mais da Adidas, com patches dos times, do que o contrário.

Ainda assim, a campanha é louvável e aponta para o combate ao racismo, tema que apesar de amplamente debatido e repudiado em esferas públicas e institucionais, segue afetando, machucando, maltratando e matando pessoas mundo afora. É importante manter o assunto em pauta, em lugares de evidência e destaque, pois o caminho é longo, tortuoso, e há agentes que atuam contra o antirracismo, na política, nas instituições, no futebol, no dia a dia.

Foto de Maic Costa

Maic CostaSetorista

Maic Costa é mineiro, formado em Jornalismo na UFOP, em 2019. Passou por Estado de Minas, No Ataque, Superesportes, Esporte News Mundo, Food Service News e Mais Minas, antes de se tornar setorista do Cruzeiro na Trivela.
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