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As mãos de Jandrei, em minutos tão salvadores quanto agônicos, mexem nas duas pontas do Brasileiro

O futebol é um jogo feito de acasos. Não apenas os “e se…” que circundam um lance ou outro, e provocam o tal “efeito borboleta” em toda a narrativa, mas também os demais acasos que influenciam todas as circunstâncias. Jandrei, por exemplo. O goleiro começou sua carreira nas categorias de base do Internacional, mas não chegou a ser aproveitado pelos colorados. Os descaminhos da vida o botaram no caminho da Chapecoense e por lá se tornou ídolo. No meio do ano, por muito pouco o arqueiro não se mudou à Itália, mas as negociações travaram e a transferência dada como certa para a Sampdoria não vingou. Ficou na Arena Condá para viver justamente sua noite mais heroica, exatamente contra o Inter, e garantir três pontos que não são importantes apenas à Chape no Brasileirão, como também podem provocar um tufão na ponta de cima da tabela. O papel decisivo de Jandrei nos minutos finais valeu a vitória por 2 a 1.

Tentando recobrar a liderança do Campeonato Brasileiro, o Inter tinha um jogo bem difícil pela frente. A noite na Arena Condá corria de maneira intensa. Até que uma infelicidade de Jandrei (e não só dele, na verdade) concedeu a vantagem aos visitantes. Enquanto Rafael Thyere tentava travar Pottker dentro da área, o goleiro saiu todo estabanado para neutralizar o lance e acabou cometendo o pênalti. Na cobrança, Nico López não desperdiçou. Contudo, a Chapecoense também ameaçava bastante e logo arrancaria o empate. Depois de Diego Torres carimbar o travessão, Leandro Pereira apareceria na área em outra jogada e deixaria tudo igual aos 36 minutos.

O Internacional não vivia uma noite inspirada, desencontrado principalmente no meio-campo, onde fazia falta Rodrigo Dourado. Nem mesmo o sistema defensivo exibia a segurança de outras ocasiões, com os laterais mais expostos que o habitual. Enquanto isso, os colorados apostavam em bolas longas. Poderiam ter retomado a vantagem aos dez minutos, quando Jandrei voltou a se sobressair, agora positivamente. Jonatan Álvez partiu em velocidade e, de frente para o gol, facilitou a defesa do goleiro no mano a mano. A Chape, de qualquer forma, jogava para vencer. A situação delicada do time na tabela obrigava uma postura mais agressiva. E aos 32 minutos, uma bola que bateu no braço de Victor Cuesta (expulso logo em seguida) rendeu a virada dos catarinenses, em pênalti cobrado por Leandro Pereira.

As emoções do jogo, no entanto, haviam cumprido apenas parte de seu curso. Mesmo com um a menos, o Inter tentou sufocar a Chapecoense nos minutos finais. Foi quando Jandrei se agigantou. Primeiro, espalmou o chute colocado de D'Alessandro. Depois, agradeceu à ótima chance que Camilo desperdiçou. E terminaria mesmo como herói a partir dos 48, depois que a arbitragem deu seu terceiro pênalti da noite, o mais discutível de todos eles. Leandro Damião bateu forte, mas à meia altura e o goleiro pulou no canto direito para se consagrar. Até pareceu que o jogo acabaria ali. Mas na sequência do lance, uma falta perigosa nos arredores da área garantia o último suspiro aos gaúchos. Bola alçada e mais uma defesa magnífica de Jandrei, afastando com o pé esquerdo a cabeçada de Damião. Os colorados ainda reclamaram da quarta penalidade na confusão que se armou dentro da área, mas nada que fosse assinalado. O salvador já era abraçado pelos companheiros.

A atuação magistral de Jandrei mexe com as duas pontas da tabela. Em cima, o Inter encerra uma invencibilidade de nove jogos e permite que o São Paulo retorne à primeira posição, um ponto à frente. A Chapecoense, por sua vez, respira fora da zona de rebaixamento, agora com 28 pontos, um acima do Z-4. Os acasos da Série A determinarão o quão importante será esta defesa agônica do arqueiro. Certo é que a Arena Condá carregará nas lembranças mais uma erupção de euforia, ocasionada pelo ídolo de luvas. Em uma atmosfera espetacular no estádio, Jandrei sai nos braços.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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