Brasileirão Série A
Tendência

A liderança do Botafogo se referenda por um baita clássico, com uma vitória de grandes momentos e sacrifício premiado

O Botafogo conseguiu abrir a vitória no primeiro tempo e segurou a pressão no segundo, marcando mais um gol mesmo com dez homens

Só um time permanece com 100% de aproveitamento no Campeonato Brasileiro. E a terceira vitória do Botafogo na campanha é daquelas que orgulham a torcida, por todas as circunstâncias. Os alvinegros ganharam o clássico contra o Flamengo dentro do Maracanã por 3 a 2, numa grande atuação do time, mas que também dependeu de muitíssimo sacrifício. Depois de um início duro, os alvinegros tomaram controle do jogo e encaçaparam dois gols antes do intervalo. Era uma apresentação precisa de uma equipe bem encaixada por Luis Castro. As expulsões no início do segundo tempo, de Rafael e do próprio técnico, pareciam colocar tudo a perder. O Fla descontou e vinha com tudo. Entretanto, o Botafogo se reinventou na partida para marcar o terceiro gol e alargar a vantagem, mesmo que tenha tomado o desconto na reta final. Segurou na unha um resultado que mostra caráter e dá créditos aos botafoguenses para a sequência do campeonato.

O Flamengo teve seu primeiro problema antes mesmo de entrar em campo. Confirmado no jogo, Gérson sentiu lesão no aquecimento e terminou substituído por Ayrton Lucas. E, a princípio, os rubro-negros não tiveram problemas nisso. Foi um início bastante positivo do Fla, com trocas de passes e presença ofensiva. Não à toa, Vidal carimbou a trave logo aos seis minutos. As principais ações eram dos flamenguistas, que criavam bem mais e testavam Lucas Perri, mas o goleiro mantinha a segurança na meta botafoguense. Levou um tempo para que os alvinegros saíssem mais à frente, sobretudo a partir dos 20 minutos. Contudo, apresentavam mais organização, enquanto o desacerto do Fla sem Gérson se tornava mais exposto.

A partir de então, o clássico começou a mudar de cena. O Botafogo ganhava o meio-campo e elevava sua confiança. A melhora dos alvinegros provocou uma crescente, com lances ofensivos, até que a chance de abrir o placar viesse no pênalti aos 30 minutos. Tiquinho Soares cobrou com tranquilidade e Santos não saiu nem na foto. Os botafoguenses aproveitavam o momento e Tiquinho quase marcou do meio da rua, quando Santos estava fora do gol. O Flamengo buscaria uma resposta, mas Gabigol não acertou o alvo e Perri fez ótima defesa em cabeçada de Pedro. O goleiro alvinegro começava a prevalecer, para preservar a vantagem. E isso deu tranquilidade para o Botafogo buscar o segundo nos acréscimos. Santos defendeu a batida de Tiquinho e, no escanteio, Danilo Barbosa saltou sozinho para testar no canto.

O Flamengo voltou com Everton Ribeiro no lugar de Ayrton Lucas e melhorou muito a criação no início do segundo tempo. O meia logo começou a servir, sem que Gabigol aproveitasse dois bons passes. Foram dois lances em que o atacante ficou cara a cara com Lucas Perri, mas facilitou as defesas do goleiro. E no que já era uma melhora clara dos rubro-negros, o Botafogo botou em risco sua tranquilidade por perder os nervos. Primeiro, aos cinco minutos, Rafael foi expulso por um pisão em Everton Cebolinha. Quase o Fla capitalizou de imediato, mas o tiro colocado de Cebolinha foi salvo por Lucas Perri com a ponta dos dedos. Luis Castro também foi expulso na beira do campo, por reclamação. O primeiro gol flamenguista surgiu logo aos 13 minutos, num cruzamento de Fabrício Bruno para Léo Pereira definir na área. Por todo o cenário, o empate era iminente. Na terceira bola ótima de Everton Ribeiro, Gabigol jogou fora a chance ao bater ao lado da trave.

O mérito do Botafogo foi, neste momento de provação, não apenas conter a blitz do Flamengo. As entradas de Luis Henrique e Marlon Freitas também deram novo impulso ao time em busca dos contragolpes. O terceiro gol quase saiu na sequência, com participação dos dois. Luis Henrique parou na boa defesa de Santos e Marlon Freitas foi repetidamente travado. O gol para valer, aos 25, teve presença de dois dos grandes responsáveis pelo triunfo: Tchê Tchê e Tiquinho. O meio-campista fez uma jogada de craque pela ponta direita alvinegra, ao abrir um rombo na defesa adversária e chegar à linha de fundo. Rolou para trás, onde o incansável Tiquinho bateu firme, no fundo das rendes. Com isso, os botafoguenses tiravam o ímpeto do Fla.

Não que o Flamengo tenha desistido, mas precisava escalar a montanha novamente. Bruno Henrique entrou em campo, assim como Victor Hugo e Matheus França. Os rubro-negros correram risco de uma expulsão com Thiago Maia, enquanto tentavam impor sua vantagem numérica. Lucas Perri se reforçou como um dos heróis da tarde. O goleiro do Botafogo conseguiu brecar Pedro, uma missão difícil nos últimos tempos, depois que o centroavante saiu sozinho com o passe de letra de Everton Ribeiro. O gol só veio depois, aos 41, num escanteio de Everton Ribeiro que Léo Pereira testou no fundo das redes. O empate voltava a se tornar mais palpável e David Luiz errou o alvo em ótima cabeçada, até que viessem os 11 minutos de acréscimos. Prevaleceu a solidez alvinegra. O Fla tentava principalmente pelo alto, sem encontrar o caminho do gol. Quando o Botafogo precisou, Lucas Perri voltou a garantir segurança e a preservar o placar.

O Botafogo sai com o moral no alto, pela forma como venceu o rival, entre o bom futebol e o sacrifício. Sem dúvidas é um resultado que empolga e que chama atenção para o momento mais consistente dos alvinegros. Já o Flamengo oscilou bastante, num início de Brasileirão com tropeços apertados. Apesar do imprevisto com Gerson, a escalação de Jorge Sampaoli não foi boa e a entrada de Everton Ribeiro reforçou essa impressão. De qualquer maneira, os gols fizeram falta no momento necessário e a finalização não esteve à altura da criação na segunda etapa – sobretudo pelos lances perdidos por Gabigol. Na próxima partida, o time não pode se dar ao luxo de errar. Pega o Racing com uma margem menor de manobra na Libertadores e precisa aprender com o que não deu certo. Que os sinais com Sampaoli sejam positivos, o time ainda não venceu contra adversários mais qualificados.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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