Brasileirão Série ALado B de Brasil

A agonia do Vasco em Itu terminou em alegria, com o acesso desfrutado ao lado do Bahia na rodada final

Bahia e Vasco subiram ao lado de Cruzeiro e Grêmio, enquanto os cruzeirenses lavaram a alma ao decretarem o rebaixamento do CSA que tanto os atormentou

A Série B do Brasileirão teve uma de suas temporadas mais sem sentido da história. No fim das contas, os prognósticos iniciais sobre os acessos se cumpriram e quatro das camisas mais pesadas voltam à primeira divisão. Porém, tirando o dominante Cruzeiro, todos os outros pareceram se esforçar para não subir. O Grêmio ainda conseguiu por antecipação, mas sem brilho. Isso até que a rodada final guardasse sua dose de ranger de dentes. O triunfo do Bahia por 2 a 1 sobre o CRB só veio no final, mas não que os tricolores corressem tantos riscos. O jogo que fica dessa campanha caótica é o Ituano 0x1 Vasco. O coração dos vascaínos permaneceu na boca durante os 90 minutos, ainda que os paulistas tenham dado uma forcinha no início do embate. Mas, no fim, prevaleceu a comemoração cruzmaltina por um dos acessos mais dramáticos que a segundona já viu.

Foi impressionante como o Vasco insistiu para não subir nas últimas rodadas. A derrota para o Sampaio Corrêa em São Januário serviu como símbolo irrefutável do sofrimento compartilhado pelos vascaínos pelas recorrentes panes de seu time. Os cruzmaltinos ainda dependeriam apenas de um empate na última rodada. Mas não parecia bom negócio pegar exatamente o rival direto Ituano, fora de casa, num momento bem mais confiável dos oponentes. Era a porta aberta ao furacão da loucura que se apontava no domingo final da Série B.

O destino deu uma colher de chá ao Vasco logo de cara no jogo. Lucas Dias foi inconsequente ao impedir um gol com a mão logo aos três minutos, entregando de bandeja a expulsão e o pênalti aos vascaínos – num lance em que o Ituano reclamou, em vão, de uma falta anterior em seu goleiro. Tão identificado com o clube, Nenê assumiu a responsabilidade e cobrou com segurança um dos pênaltis mais importantes de sua vida. Quase o segundo veio na sequência, inclusive com uma falta venenosa do próprio Nenê. Não parecia difícil aos cariocas administrarem a vantagem com um homem a mais por quase 90 minutos. Mas foi, até demais.

Tanto é que o melhor homem do Vasco em campo foi o goleiro Thiago Rodrigues. Criticado em vários momentos errantes do clube, o arqueiro operou milagres em sua meta, contra um Ituano que permaneceu valente com dez homens. E não que os cruzmaltinos fizessem tanto para ampliar o placar, com as decisões conservadoras de Jorginho. Quando tiveram a chance do segundo, sobretudo no início da segunda etapa, Jefferson Paulino manteve a sobrevida na meta do Galo Rubro-Negro. A expulsão grosseira de Andrey no segundo tempo flertava com um desmoronamento dos cariocas. Entretanto, o ataque do Ituano perdeu gols incríveis e Thiago Rodrigues permaneceu intransponível. A agonia terminou em alegria.

O Vasco precisa ter consciência da campanha problemática que fez na segundona. Entre as mudanças de comando e as escolhas ruins, o time patinou. A falta de comando se tornou flagrante em muitos momentos e a permanência na Série B seria compreensível nesse contexto. Ainda assim, houve um fator a mais ao redor do clube: a sua torcida. Foi ela quem sustentou as esperanças até o fim e empurrou os cruzmaltinos em períodos nos quais a equipe parecia sem rumo. Foi ela quem compareceu em massa em Itu e está no direito de celebrar a sua grandeza. Porque o departamento de futebol, em si, merece mais puxões de orelha.

Como Ituano e Sport não representaram uma ameaça de verdade nesta rodada final, o Bahia não correu riscos reais de deixar o acesso escapar. A partida contra o CRB até ofereceu sua dose de emoção em Alagoas, sob chuva torrencial, mas mesmo se fossem derrotados os baianos subiriam com os tropeços dos concorrentes paralelos. Danielzinho abriu o placar para o Tricolor, mas os alvirrubros empataram com Emerson Negueba. As expulsões de Diego Ivo e Anselmo Ramon, todavia, ajudaram o Bahia. A dez minutos do fim, coube a Lucas Mugni fechar o placar em 2 a 1.

O acesso do Bahia parecia vir até mais tranquilo, diante do primeiro turno feito pelo clube. O desgaste aconteceu com a perda de fôlego e o excesso de empates na reta final, que demoraram a resolver a vida. Não é a campanha dos sonhos dos tricolores, mas a promoção pelo menos se consumou. E a preparação para a Série A causa esperanças, diante das perspectivas de chegada do City Football Group. De qualquer forma, esses últimos meses devem desacelerar os passos, já que não servem muito de norte à sequência do trabalho.

Se por um lado há a felicidade de Vasco e Bahia, por outro o Sport encerrou o domingo em lágrimas. O acesso do time dependia de uma combinação de resultados improvável, mas o Leão sequer saiu do 0 a 0 contra o Vila Nova em Goiânia. E o saldo poderia ter sido pior, considerando que os rubro-negros tiveram seis jogadores expulsos no segundo tempo, três deles em campo e outros três no banco. A continuidade na segundona será amarga para os pernambucanos.

Por fim, na parte inferior da tabela, ainda havia a luta para escapar da última vaga do Z-4. Náutico, Operário Ferroviário e Busque já tinham caído, mas Novorizontino ou CSA poderiam se salvar. Os paulistas estavam atrás na tabela e conseguiram escapar graças a vitória por 3 a 0 sobre o Operário. Também contaram com uma ajuda providencial do Cruzeiro, que derrotou o CSA por 3 a 2 no Mineirão. Os alagoanos estiveram duas vezes à frente no placar e venciam até os 34 do segundo tempo, quando iam garantindo a permanência, mas tomaram a virada cruzeirense na reta final. A Raposa não decepcionaria os mais de 61 mil presentes, que encheram as arquibancadas para ver a entrega da taça.

O resultado, afinal, também lavava a alma celeste. Depois do “Fala, Zezé” e da maneira como os alagoanos foram um tormento nesses anos sem acesso do Cruzeiro, o ponto final da história culmina justamente com a pedra no sapato relegada à Terceirona. O CSA estava tão entalado na garganta que a torcida comemorou o rebaixamento dos oponentes, assim como os jogadores provocaram imitando ligações telefônicas em campo. Era o ato final de uma Série B que, se careceu de surpresas, entregou loucura em vários momentos.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
Botão Voltar ao topo