Brasil

Briga longe da Arena MRV e comportamento de torcedores do Atlético provam que torcida única é medida ineficaz e preguiçosa

Agressões, arremesso de objetos, ameaças, homofobia e confronto com a polícia nas arquibancadas: repórteres da Trivela contam o que viram no clássico

A Arena MRV recebeu, nesse sábado (3), mais um clássico entre Atlético-MG e Cruzeiro, que novamente terminou com vitória cruzeirense. Um 2 a 0 incontestável, com gols de Zé Ivaldo e João Pedro. Fora de campo — e até do estádio —, o clima esteve quente desde o início da semana, quando os clubes anunciaram acordo por torcida única e os dirigentes se atacaram na sequência. O comportamento do torcedor atleticano durante o jogo e uma briga registrada longe do estádio foram mais exemplos para provar que torcida única é a decisão mais preguiçosa e ineficaz do futebol brasileiro.

Clássicos com torcida única, infelizmente, viraram rotina no futebol brasileiro. Em São Paulo, por exemplo, essa é uma prática que já dura anos. O motivo, segundo alegam os clubes e as autoridades, é tentar acabar com os conflitos de torcedores ao redor e dentro dos estádios. Mas isso nunca aconteceu, e o clássico desse sábado em Minas Gerais serviu como mais um exemplo dessa ineficácia.

Vale ressaltar que, no caso de Atlético e Cruzeiro, foram os clubes que optaram por torcida única por conta dos problemas ocorridos no clássico de 2023 na mesma Arena MRV. As autoridades em nenhum momento propuseram essa ação, mas também não foram contra a decisão das entidades.

Briga longe da Arena MRV

Se um dos motivos para torcida única é evitar confusões entre as torcidas, podemos riscar esse ponto da lista. Antes da bola rolar na Arena MRV, circularam nas redes sociais alguns vídeos de uma emboscada que a torcida do Cruzeiro fez em um ônibus de uma organizada do Atlético que estava a caminho do jogo. A ação aconteceu em Betim, em uma distância de mais de 16 km do local da partida, e deixou um homem ferido.

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Comportamentos selvagens da torcida do Atlético

A decisão por torcida única se deu depois que, no primeiro clássico da Arena no ano passado, o Atlético teve atitudes infantis retirando, por exemplo, portas e papéis dos banheiros. A decisão revoltou os cruzeirenses, que depredaram bastante o setor visitante da casa atleticana, destruindo cadeiras, câmeras e catracas. Neste sábado, só com atleticanos, não houve quebradeira, mas ainda assim muitos incidentes.

Gritos homofóbicos para Rafael Cabral

Infelizmente, a homofobia é algo recorrente nos clássicos mineiros e não foi diferente no jogo deste fim de semana. Parte da torcida atleticana repetiu uma prática muito comum por um tempo nos estádios brasileiros, que pouco a pouco – ainda bem -, vai ficando mais rara. Desta vez, aconteceu. A cada vez que Rafael Cabral, goleiro do Cruzeiro, batia um tiro de meta longo, dando um chutão, os torcedores mandantes gritavam em uníssono: “bicha”.

A prática foi relatada pelo árbitro Paulo César Zanovelli, na súmula do jogo. Se por um lado o juiz notou as ofensas homofóbicas, por outro, citou o acontecido apenas uma vez, aos 26 minutos, sendo que os gritos se repetiram em algumas oportunidades.

Revolta de torcida do Atlético-MG após gols

Além dos gritos preconceituosos, a torcida do Atlético demonstrou toda a sua revolta após os gols do Cruzeiro. No primeiro, copos e líquidos foram arremessados em direção ao autor do gol, Zé Ivaldo. No segundo, a coisa ficou mais séria. Além de muito mais copos, torcedores tentaram invadir o campo, mas foram contidos por seguranças e pelas grades que estavam na frente da arquibancada. Na súmula, Zanovelli relatou que ninguém foi atingido, algo refutado por um vídeo postado pelo próprio clube celeste, que mostra o lateral-esquerdo Marlon sendo acertado. Confira:

Vale destacar que durante o jogo, mesmo antes dos gols do Cruzeiro, alguns objetos já estavam sendo arremessados. No início, aviõezinhos de papel feitos com o papel do mosaico foram arremessados em campo. Ainda no primeiro tempo, após o goleiro Rafael Cabral cair no gramado alegando dores, um copo também foi arremessado. Nesse caso, como a Trivela conseguiu flagrar, o torcedor foi identificado e retirado das arquibancadas.

Profissionais relatam agressões

Além dos copos arremessados nos jogadores do Cruzeiro, profissionais da comunicação da Raposa, que ficam posicionados atrás dos gols, e fotógrafos, relataram ameaças e agressões vindas da torcida atleticana. Copos e cerveja foram atirados nos trabalhadores e o fotojornalista Breno Babu denunciou que seu equipamento foi danificado após ele ser “confundido” com um cruzeirense. Ele ainda criticou a atuação da equipe de segurança da Arena MRV, e contou o que passou em entrevista ao O Tempo. Veja:

Atleticanos entram em confronto com a PM

Ao final da partida, alguns atleticanos entraram em confronto com policiais militares que faziam a segurança no estádio. Muitos copos foram arremessados nos PMs, que responderam com alguns tiros de bala de borracha. Houve certa correria, com alguns torcedores que estavam com familiares tentando se proteger.

Clima fraco na Arena MRV

Um clássico de verdade tem a sua magia no duelo das torcidas. Com as arquibancadas divididas em 50/50 ou 90/10, todos que vão ao jogo querem empurrar seu time e isso vira uma disputa muito legal nas arquibancadas. Com torcida única, como em Atlético e Cruzeiro, ficou uma sensação de que estava faltando algo – e realmente estava. Era preciso mais alguma coisa para que o jogo estivesse mais legal de ver (e ouvir).

Primeiro, soava estranho quando o Cruzeiro criava uma boa chance de gol. Ao invés do clássico “uuuh”, nada se ouvia. Não parecia, de forma alguma, se tratar de um dos maiores clássicos do futebol mundial. O clima de tensão, que seria menor num jogo “comum”, fazia com que os atleticanos se calassem nas boas chances da Raposa, o que criava um estranho momento de silêncio após as finalizações celestes.

A falta de torcedores visitantes também impediu aquele clima de “toma lá, dá cá”, quando uma torcida se sente na obrigação de cantar mais alto e tentar calar a outra. O que, geralmente, rende zoações nas redes sociais nos pós-jogo. Em diversos momentos do clássico desse sábado (3), que foi morno na maior parte do tempo, pôde se notar uma Arena MRV pouco engajada, com diversos momentos de silêncio em grande parte das arquibancadas.

Após muita festa alvinegra no início do jogo, conforme o tempo foi passando, o ímpeto da torcida — tensa com o jogo e pouco empolgada com a atuação de seu time — caiu, situação que ficou bem acentuada na segunda etapa. Depois dos gols do Cruzeiro, o silêncio sepulcral era quebrado apenas por xingamentos dos atleticanos aos seus próprios atletas. Do lado dos vencedores, se ouvia os jogadores comemorando em campo, sem uma torcida para os abraçar.

Foto de Maic Costa

Maic CostaSetorista

Maic Costa é mineiro, formado em Jornalismo na UFOP, em 2019. Passou por Estado de Minas, No Ataque, Superesportes, Esporte News Mundo, Food Service News e Mais Minas, antes de se tornar setorista do Cruzeiro na Trivela.
Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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