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Atlético-MG usou milho do Cruzeiro na Arena MRV como combustível para título

Provocação histórica reproduzida por Machado, do Cruzeiro, foi combustível para o Atlético sair com a taça no Mineirão

O Atlético-MG venceu o Cruzeiro, de virada, e se sagrou pentacampeão Mineiro em um Mineirão lotado de cruzeirenses. Com a vitória, o Galo fez questão de mostrar que transformou os milhos jogados pelos adversários na Arena MRV em combustível para darem a volta por cima e se tornarem campeões no seu salão de festas.

No primeiro clássico da história da Arena MRV, o Cruzeiro surpreendeu e bateu o Atlético por 1 a 0. No fim daquele jogo, o volante Machado, do time celeste, fez gestos de que estava jogando milho no gramado, provocação muito comum pelo fato do mascote atleticano ser um Galo.

Esse episódio aconteceu no fim de 2023, e de la pra cá o Atlético guardou essa provocação para usar como combustível. Não funcionou nos dois jogos seguintes, ambos na Arena, mas, como Ronaldinho Gaúcho disse em 2013 com a camisa atleticana: “Quando tá valendo, tá valendo”.

Na decisiva partida da final do Mineiro, o Atlético bateu o Cruzeiro, foi campeão e soltou todo o seu arsenal de provocações contra o maior rival e o “episódio do milho”.

O roteiro da final foi ainda mais favorável ao Atlético

Como se não bastasse só vencer o maior rival com o Mineirão lotado de cruzeirenses e poder utilizar seu arsenal de provocações, o roteiro da grande decisão do Campeonato Mineiro ainda foi muito favorável ao que o Galo tinha preparado. Se a ideia inicial era só o “Joga milho que pipoca título”, o Alvinegro ganhou de bandeja o fato do Cruzeiro ter aberto o placar na final, ter a vantagem do empate, o estádio todo a seu favor e ainda assim ter perdido o título, o que configura uma “pipocada”, e o pentacampeão Mineiro não perdeu a chance de seguir nessa linha também.

Quando tá valendo, tá valendo e a reação dos jogadores

A provocação de Machado citada não afetou só o Atlético como clube, mas também os jogadores. Além disso, a forma como os atletas cruzeirenses trataram o empate na Arena MRV também irritou os atleticanos. Em campo, o que se viu foi um time muito aguerrido, lutando por cada bola. A vontade de calar o Mineirão e os adversários ficou clara nos atletas atleticanos que, antes mesmo do final do jogo, já provocavam de volta.

O que mais provocou foi Guilherme Arana. No Atlético desde 2020, ele é um dos mais velhos do elenco e um dos que sabe a importância do clássico. Após o terceiro gol atleticano, que sacramentou a vitória e o título, o jogador se virou para os torcedores do Cruzeiro e fez o gesto de “choro”. No fim do jogo, voltou a provocar com a mesma alusão: “Fiz até um chororô e falei que é perigoso para quem mora perto da Pampulha. Porque tem risco de alagamento, muita gente chorando aí fora”, disparou.

Já no vestiário após o título Arana ainda provocou Machado de volta: “Cadê o malandrão que jogou milho na nossa casa? Cadê o malandrão? Cadê você, malandrão? Não vi você pegar sua medalha de vice”. Depois de pegarem as medalhas, alguns jogadores do Atlético ainda gravaram um vídeo jogando-as no campo, como se fosse milho.

Outra zoação que o Atlético não perdeu tempo de fazer foi usar uma célebre frase de Ronaldinho Gaúcho quando atuava pelo clube: “Quando tá valendo, tá valendo”. O Bruxo afirmou isso depois do Galo eliminar o São Paulo da Libertadores de 2013 logos depois deles terem perdido para o próprio Tricolo Paulista na última rodada da fase de grupos, quando já estavam classificados. No campo, o Alvinegro levou uma figurinha com a cara do jogador e a frase, e deu a Hulk para segurá-la.

Desta vez, a frase se encaixa, pois o Atlético perdeu os três últimos jogos para o Cruzeiro, mas venceu o último e mais importante, conquistando mais uma taça. Ou seja, quando tá valendo, tá valendo.

Além da zoação: jogadores entenderam a importância do clássico

Mais do que sentirem a provocação do rival e quererem vencer para devolver, os jogadores do Atlético demonstraram algo que a torcida pedia e não via recentemente: entender a importância do clássico.

Desde 2020, quando o Cruzeiro passou a jogar a Série B e ficou vários degraus abaixo do Atlético em vários sentidos, parece que a rivalidade entre os clubes foi esfriando. Os jogadores atuais do elenco atleticano viam muito mais Flamengo e Palmeiras, que é com quem eles disputaram títulos e fizeram grandes jogos, como rivais, do que a Raposa.

O debate sobre isso aumentou depois dos últimos três clássicos, em que o Atlético não conseguiu vencer o Cruzeiro na Arena MRV. O primeiro, inclusive, foi o que sacramentou isso para o torcedor, de que os jogadores não entendiam de fato a importância de vencer o Cruzeiro. Ao perder o segundo jogo, então, ficou mais evidente. Mas, agora, sendo campeão da forma que foi e com as provocações que aconteceram por parte dos atletas, fica uma sensação de que eles entenderam de vez o que é e o que significa jogar e ganhar do Cruzeiro. No fim, é a melhor vitória que o atleticano tira deste título.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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