Atlético-MG tem centro de inteligência com maior investimento do Brasil: como ele funciona?
Galo aposta alto no CIGA em análises cada vez mais aprofundadas para maximizar acertos e minimizar erros
Praticamente todos os principais clubes do mundo atualmente têm um setor de análise de mercado e do próprio time de forma aprofundada em estatísticas e probabilidades. No Atlético-MG não é diferente. O Centro de Informação do Galo (CIGA) é o mais caro do Brasil neste segmento, mas não tem todo o poder que se presume.
Para boa parte dos torcedores do Atlético-MG, o CIGA é um setor que força para contratar ou não um jogador. Mas, como explicou o gerente de mercado atleticano, Rodrigo Weber, está longe disso.
Como o CIGA funciona?
Weber revelou que o CIGA é o departamento de análise que mais recebe investimento dentre todos os clubes no Brasil. Ele tem quatro áreas: análise de desempenho, operação de mercado, scout técnico e data analytics.
A função, com relação ao mercado, é analisar jogadores com base em dados estatísticos e probabilidade. Tudo é feito, como o próprio Weber citou, com lógica e não emoção, mesmo que o futebol vá além. Jogadores darem certo ou não dependem de vários fatores, que às vezes não podem ser previstos, mas é claro que uma análise estatística prévia auxilia na decisão.
As análises são feitas através de vários softwares que o clube contratou, além dos responsáveis por assistirem a jogos, tanto para buscar quanto para analisar um atleta em específico.
O relatório tem todas as informações necessárias dos jogadores, desde as mais básicas, como nome, idade, posição, onde atua, etc, até umas mais específicas, como se o estilo de jogo se encaixa com o treinador, se há potencial de revenda, impacto esperado, entre outras.
Com o colombiano Brahian Palacios, por exemplo, contratado no início do ano, o CIGA indicou ele ao Atlético sabendo que não traria um impacto imediato, mas que tem potencial de evolução e revenda. Já Hulk, foi ao contrário, trazendo impacto imediato, mas sem evolução ou revenda. Alguns jogadores chegam com ambos os pontos positivos, como Paulinho e Arana.
Qual a responsabilidade do CIGA nas contratações?
É importante ressaltar que é uma via de mão dupla (até tripla) na relação do CIGA com a diretoria (e o treinador). Não é só o departamento que indica, nem só a diretoria ou o treinador que pede jogador ou posição X. Todos trabalham juntos e recebendo os pedidos e as análises.
O CIGA repassa essas análises completas a diretoria de futebol, que leva tudo ao conselho da SAF do Atlético, pois tudo hoje é decidido em consenso no comitê do clube. E, basicamente, para por aí a responsabilidade do CIGA em uma contratação.
Se o Atlético vai contratar ou não um jogador da lista indicada pelo CIGA ou vai por outra alternativa, é decisão do conselho.
Weber revelou que acontece com frequência deles indicarem jogadores e o conselho optar por não fazer a contratação — muitas das vezes por conta de valor. Ao contrário também já aconteceu, como revelou, de eles avaliarem que não é uma boa contratação, mas o conselho contratar mesmo assim.
A atuação do CIGA no mercado é constante. O setor não trabalha só se o Atlético precisa de um jogador, muito pelo contrário, eles analisam jogadores durante todo o ano e em vários campeonatos ao redor do mundo.
O departamento já tem, por exemplo, pelo menos três nomes para substituir cada uma das peças do atual elenco. Ou seja, se o Galo vender Paulinho, já há jogadores analisados que podem substituí-lo.
E nas vendas?
O CIGA também faz uma análise de mercado para fora, ou seja, na hora de vender jogadores. Nesta janela, por exemplo, o Atlético recebeu uma proposta pelo jovem Alisson, que foi recusada pelo clube.
Weber explicou que o CIGA analisa vendas parecidas para indicar ao Galo se a proposta está abaixo, no padrão ou acima do mercado. Além disso, é também analisado o tipo de proposta, se é à vista, parcelada, etc. Novamente, a decisão fica nas mãos da diretoria e do comitê da SAF.
Análise do Atlético e dos jogadores no clube
A função do CIGA não termina quando o Atlético contrata um jogador. O departamento segue fazendo análises de cada atleta do profissional clube constantemente. E não só disso, há também uma análise do time como um todo.
Rodrigo Weber revelou, por exemplo, que há algumas semanas eles entenderam que o Atlético estava pecando em um aspecto defensivo, por isso não estava se saindo bem. Eles chamaram a comissão, que entendeu a análise e buscou a melhora no campo.
Segundo Weber, Gabriel Milito é um treinador muito aberto ao trabalho feito no CIGA. O treinador, inclusive, foi contratado com o aval do departamento, que fez uma análise de mais de 500 nomes até chegar no argentino.
Um documento vazado após o anúncio de Milito, que Weber citou algumas vezes em sua fala, indica um pouco do processo. Tudo foi feito baseado no estilo de jogo que o Atlético queria para o seu time. Entre todos os nomes, os que mais deram “match” e eram acessíveis foram levados ao conselho, que decidiu pelo argentino.
CIGA quer ampliar olhar na base
A maior parte do monitoramento do CIGA atualmente é para o profissional do Atlético. A base do clube tem um acompanhamento, mas não tão aprofundado como do time principal. Isso porque, segundo Weber, não há as mesmas ferramentas de análise para as categorias, com a base mais defasada no quesito.
Mesmo assim, o departamento tem como próximo passo aumentar uma análise da base atleticana, até para ajudar no processo de evolução da categoria.
Um dos pontos é implementar o mesmo estilo de jogo, para que quando o jogador suba ao profissional, já saiba exatamente o que e como fazer. É algo que acontece nos principais clubes da Europa, como o Manchester City de Pep Guardiola.