Paulo Junior: Internacional x Fluminense não se explica, se lamenta que acabou
Decisão entre Internacional e Fluminense entra, com facilidade, no hall das maiores já disputadas entre times brasileiros na Libertadores
Fluminense e Internacional, Internacional e Fluminense, quarta-feira só para eles depois da novela ao vivo e direto para todo o Brasil na ida e na volta, viveram um Maracanã e um Beira-Rio em festa quando saem na frente, em choque que tomam a virada, e ofereceram a tricolores, colorados e a todo resto, a maioria, apaixonados, secadores, desconfiados, ranzinzas e eufóricos, um dos maiores confrontos da história da Copa mais bonita de todas, um jogo que não se conta por melhores momentos, aplicativos de estatísticas ou comentários de grupo de WhatsApp, porque é muito jogo, é mais do que cabe, superlativo por três horas mais acréscimos como poucas vezes se viu.
O inquieto Fluminense, como de costume, teve trocentos times em um. André começa no meio, vira zagueiro, volta a volante. Marcelo constrói de lateral, de primeiro por dentro, de meia, de ponta. Cano esteve um pouco sozinho no início, e em algum momento atacou em cinco com a companhia de Yony, Arias, Kennedy, Keno. Mas a vitória por 2 a 1 nos gols que saíram em seis minutos, já depois dos 35, não são necessariamente uma resposta linear direta – mudou o time, melhorou, virou -, mas de uma história bem mais fragmentada e até um pouco indomesticável para ser contada no dia seguinte.
É que o que antecedeu o empate foram as chances criadas e perdidas por Enner Valencia, que precisava de uma em três para dormir em Porto Alegre como o melhor jogador em campo. Enquanto o Flu se mandava, com mais coragem que bom futebol, ele rompeu o Beira-Rio numa arrancada travada por Nino, cabeceou torto, sozinho, quando mirou o ângulo de Fábio (largado pelo mesmo Nino), e ainda, na mais confortável das oportunidades, errou a chapa de pé direito diante apenas do gol e do goleiro rival. Quinze minutos para sentar na mesa de um Rafael Sóbis e vestir a capa de um senhor Libertadores consolidando o que fez desde o início do mata-mata. Errou.
No fim do ano, Valencia saiu grandão da Copa do Mundo, autor dos gols da abertura e orgulho de seu país; German Cano terminou campeão do mundo na arquibancada, não no campo, em Lusail, hincha da Argentina como milhões de seu país; e o Fluminense acertou o empréstimo de John Kennedy para a Ferroviária. O que é o futebol.
O moleque de 21 anos, jogando desde a volta do intervalo, viu de longe o equatoriano de 33 perder os gols que ele tanto sonhara em Xerém. Bastou uma pressão do Inter (por que tanta?) desencaixada no corta-luz de Marcelo para Cano servir o presidente. O talento puro de Xerém acertou a passada contra a linha de impedimento, reajeitou para cavar com o lado de fora do pé e correu para o abraço. Um tapa de gol para abrir sua biografia daqui tantos anos.
Diniz seguiu mexendo, e de tédio ninguém morre em Laranjeiras. E aí aparece seu maior mérito, que não precisa explicar exatamente essa virada surpreendente, ainda que fique escancarada na miudeza dos detalhes. São muitos minutos do quarto tempo do confronto e Nino ainda assim começa a saída e acha o passe por dentro, para depois André também encontrar o seu. O Fluminense ataca com convicção de finalista de Libertadores e, com a energia a favor, até passe errado vira um doce. Toca e passa, fura, gol. Dois a um.
O Fluminense venceu demais, demais, o Inter perdeu muito também, nossa, e nós ganhamos em dobro. Independentemente do que aconteça e qual seja a final do Maracanã em novembro, terá havido o Fluminense x Internacional que pararíamos para ver um jogo 3 semana que vem. Um encontro que não se explica, se lamenta que acabou, e pede licença para as listas dos maiores da história. Foi um barato.