No ano das zebras, o Once Caldas desbancou gigantes e foi o dono da América do Sul
Equipe de Manizales passou pelo Santos, São Paulo e venceu o Boca em decisão maluca por pênaltis

Contamos como o Cienciano, do Peru, surpreendeu o continente e deu o primeiro título internacional para o futebol peruano na história. Seguindo com a série das zebras do ano de 2004, marcado por resultados quase inacreditáveis dentro das quatro linhas, seguimos com a Libertadores, que há 20 anos foi conquistado pelo Once Caldas, até então desconhecido time da cidade de Manizales, localizada a mais de 2.100 metros de altitude.
Treinados por Luis Fernando Montoya, o Once Caldas apostou na força de jogar em casa para fazer uma campanha histórica. Contando com jogadores de muita qualidade como Agudelo, Alcázar, Soto, Valentierra, a equipe colombiana tinha como seu forte a marcação implacável e a saída em velocidade. Os chutes de longa distância também eram uma arma interessante desta equipe, que ao longo da competição foi colocando gigantes pelo caminho.
Já na primeira fase, o time colombiano desbancou o Vélez Sarsfield, da Argentina, campeão da Libertadores, que acabou sucumbindo ao bom futebol praticado pelo time do Once Caldas. Nas fases seguintes, mais surpresas, com Santos e São Paulo também sofrendo com o jogo dos colombianos, principalmente jogando em Manizales.
Primeira fase tranquila, mas surpreendente do Once Caldas
O Once Caldas chegou até a disputa da fase de grupos da Libertadores após faturar o título do Campeonato Colombiano Apertura em 2003. O Deportes Tolima e o Deportivo Cali foram os outros times do país que participaram da principal competição de clubes da América do Sul no ano seguinte. O time de Manizales foi sorteado para disputar o Grupo 2 da Libertadores de 2004, ao lado do Fênix, do Uruguai, o Maracaibo, da Venezuela, e do Vélez Sarsfield.
Na estreia, vitória tranquila sobre os uruguaios pelo placar de 3 x 0. Ao longo de seis rodadas, o time colombiano venceu quatro jogos, empatou um e perdeu somente um, diante do Vélez, na Argentina, pelo placar de 2 x 0. Os 13 pontos somados na fase de grupos renderam a liderança da chave ao time de Manizales.
Na época a imprensa se surpreendeu com o resultado obtido pelo time do Once Caldas, deixando para trás o Vélez, que por sua tradição, era um dos favoritos a passar de fase, mas ficou pelo caminho somando apenas duas vitórias, um empate e três derrotas. Aliás, tirando o Tolima, os times colombianos foram muito bem na Libertadores de 2004, com o próprio Once Caldas se tornando o campeão e o Deportivo Cali chegando até as quartas de final após eliminar o Cruzeiro, em pleno Estádio do Mineirão.
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Vitória apertada nas oitavas e surpresa nas quartas
Nas oitavas de final, o Once Caldas encarou o Barcelona de Guayaquil, que havia passado sem maiores problemas pelo Maracaibo na repescagem após vitória por 6 x 1 no Equador. O time equatoriano foi o segundo colocado no grupo do Santos e foi um adversário muito complicado para a equipe de Manizales, que só conseguiu avançar de fase na disputa de pênaltis. Na ida, empate por 0 x 0 em jogo disputado no Estádio Monumental Isidro Romero Carbo.
Na volta, mais um empate, desta vez por 1 x 1 em Manizales. Naquela época não havia a definição da vaga pelo gol marcado fora de casa e a disputa teve de ser decidida nos pênaltis. Aqui um parêntese. O goleiro Henao, que depois jogou no time do Santos, foi um dos nomes mais importantes naquela campanha do Once Caldas, campeão da Libertadores em 2004. Como todo bom goleiro sul-americano, o colombiano tentava compensar sua estatura baixa para um jogador da posição (1,81 metros) para tentar vencer duelos por meio da catimba e do jogo mental.
Já nas oitavas de final contra o Barcelona de Guayaquil o goleiro pegou uma das cobranças e ajudou a sua equipe a continuar em frente na disputa pelo inédito título. Nas quartas de final, o Once Caldas teria pela frente o poderoso Santos, de Diego, Robinho, Renato, Elano e treinado por Vanderlei Luxemburgo. No jogo de ida, o Peixe foi surpreendido pela postura da equipe colombiana, que se defendeu bem e só dava espaços ao time Alvinegro para chutar de fora da área.
O Santos bem que tentou furar o bloqueio colombiano, acertou a trave em uma cabeçada de Deivid e abriu o placar somente aos 38 minutos do segundo tempo com Basílio. Cinco minutos mais tarde, Valentierra deixou tudo igual e complicou a vida do Peixe, que deveria vencer em Manizales para se manter vivo na disputa da Libertadores.
Na volta, o Santos tentou se defender mais e apostar na velocidade de seus atacantes e meias para tentar contra-atacar. A equipe santista pouco fez ofensivamente nos primeiros 45 minutos de jogo na Colômbia, mas se defendia bem e não dava oportunidades ao time do Once Caldas, que tinha dificuldades para encontrar espaços. Já no segundo tempo, o Alvinegro foi mais ousado, teve algumas chances boas com Robinho, mas aos 26 minutos, o mesmo Valentierra acertou um lindo chute no ângulo de Júlio Sérgio e deu a classificação à equipe colombiana.
Vice-campeão da edição anterior, o Santos tinha como grande objetivo de 2004 tentar disputar mais uma final da Libertadores em 2004. Contudo, acabou parando no caminho e tempos depois foi campeão brasileiro pela segunda vez em sua história.
A Batalha de Manizales contra o São Paulo
O Once Caldas tinha como uma de suas características um forte sistema defensivo. O quarteto defensivo da equipe treinada por Luis Fernando Montoya era formado por Rojas, Vanegas, Cataño e García. Viáfara e Velásquez formavam uma ótima dupla de volantes e davam a sustentação necessária para que Valentierra, Soto, Moreno, Alcázar ou Agudelo resolvessem na parte da frente. Na semifinal da Libertadores de 2004, a estratégia de marcar e se segurar mais no jogo de ida deu certo mais uma vez, e o time desbancou mais um gigante da competição, o São Paulo.
No jogo de ida, no Morumbi, o Tricolor foi para cima, criou chances, mas parou em Henao, e viu seu adversário pouco fazer durante os primeiros 90 minutos daquela decisão. O placar de 0 x 0 não foi o mais justo, tendo em vista as oportunidades criadas pelo time brasileiro, mas foi um alento para a equipe colombiana, que se mantinha viva para a decisão em casa.
Na volta, em Manizales, Once Caldas e São Paulo protagonizaram um grande jogo. Os dois times partiram para o ataque, o que deixou o confronto aberto e cheio de opções. Durante o primeiro tempo, o Once Caldas pressionou mais e foi recompensado aos 27 minutos, quando Alcázar aproveitou sobra na área e empurrou para o fundo do gol, abrindo o marcador na Colômbia.
O gol sofrido não abateu o São Paulo, que era um grande time, formado por Grafite e Luis Fabiano na frente, Danilo e Fábio Simplício no meio-campo, Cicinho na lateral-direita e toda a experiência de Rogério Ceni. A melhor qualidade do Tricolor deu o seu resultado aos 32 minutos, quando Danilo acertou um lindo chute rasteiro de fora da área e deixou tudo igual.
A partir do gol de empate, o São Paulo criou várias outras oportunidades para virar o jogo e carimbar a sua classificação para enfrentar o Boca na final da Libertadores. Porém, perdeu mais gols do que poderia e acabou punido por isso, quando Agudelo, o grande talismã colombiano, entrou no segundo tempo e aos 45 minutos fez o gol que fez chorar o torcedor são-paulino.
A grande final contra o Boca Juniors
A decisão da Libertadores de 2004 foi disputada entre Once Caldas e Boca Juniors. O time colombiano, assim como em todo o mata-mata daquela competição, teria a chance de decidir o jogo da volta em casa. Naquela época a final era definida em dois um jogos, um na casa de cada adversário. O time Xeneize, ainda treinado opor Carlos Bianchi, tinha a chance de conquistar o mais um bi-campeonato, já que no ano anterior tinha vencido o Santos na final.
Na ida na La Bombonera, o mesmo cenário. O Once Caldas suportou a pressão do Boca Juniors, contou com seu goleiro Henao, que mais uma vez fechou o gol e foi importante para segurar mais um placar sem gols e acreditar na força e mística de Manizales para tentar o feito inédito de conquistar a América. Na volta, foi a vez do time Xeneize fazer o Once Caldas provar do próprio veneno, ao segurar o ímpeto do time colombiano. Viáfara abriu o marcador para a equipe da casa aos sete do primeiro tempo da decisão.
Os argentinos osuberam se controlar, fechar os espaços e na chance que teve foi letal. O zagueiro Burdisso foi para a rede e deixou a decisão empatada. Conforme o tempo foi passando, a expectativa de que a final da Libertadores de 2004 seria definida nos pênaltis era cada vez mais clara, o que acabou acontecendo.
Nos pênaltis, um festival de erros. Abbondanzieri do lado do Boca e Henao do lado dos colombianos tentaram o possível para dar o título aos seus times. No fim, sorte dos colombianos, que venceram por 2 x 0 e conquistaram a Glória Eterna pela primeira vez, chocando o mundo do futebol.