Libertadores

Libertadores: A tragédia anunciada na briga entre brasileiros e argentinos e o erro na segurança pública

Briga entre torcedores de Fluminense e Boca Juniors expõe como autoridades não se preparam para final da Libertadores

Desde março desse ano todo mundo sabia: a final da Copa Libertadores seria no Maracanã, no Rio de Janeiro. Semanas antes da decisão, disputada neste sábado (4) entre Fluminense e Boca Juniors, mais informações importantes: cerca de 100 mil torcedores xeinezes estariam no Rio para apoiar o clube argentino. E mesmo assim, parece que as autoridades foram pegas de surpresas com as tristes imagens de briga entre brasileiros e argentinos, sejam estaduais pela Polícia Militar, municipais por meio da Guarda Civil e da Secretaria de Ordem Pública ou até federal, visto que o Ministro da Justiça, Flávio Dino, prometeu reforçar a segurança no estado com a ajuda da Polícia Rodoviária Federal e a Força Nacional, mas tratou como importante apenas o dia do jogo, ignorando que por dias os “hinchas” do Boca ficariam nos bares e praias do Rio.

Na última quinta-feira (2), a praia de Copacabana foi palco de uma briga generalizada entre torcedores de Fluminense e Boca Juniors. Tudo iniciou quando um gigante grupo de tricolores se dirigiu a fan zone onde estavam os Xeinezes. Na briga teve de tudo: cadeiras e garrafas voando, além das agressões físicas. A Polícia Militar do Rio interviu de maneira truculenta com gás de pimenta e balas de borracha. Argentinos que estavam no momento da confusão alegaram que a PM buscou defender apenas os brasileiros – posicionamento reiterado pelos jornais argentinos, que criticaram a ação dos agentes de segurança. Dois membros da torcida do Boca foram detidos, um deles por atirar uma garrafa em direção aos policiais e outro por atacar um tricolor e o cachorro dele, proferindo o xingamento racista “macaquito”.

Fica claro que deveria ter um esquema de segurança especial para acomodar esses torcedores do Boca Juniors, visto a possibilidade de confronto. Especialmente porque a rivalidade entre Brasil e os outros países sul-americanos está cada vez mais quente nas torcidas, potencializado pelos recentes casos de violência nos jogos pela Libertadores. Quando o Argentinos Juniors visitou o Fluminense no Rio, por exemplo, aconteceram brigas em Copacabana e até no Maracanã, onde dois argentinos foram presos por racismo e houve confronto com a polícia e a segurança privada do estádio.

Todo esse clima de hostilidade, potencializado pelo fracasso no planejamento da segurança pública do Rio, pode ter consequências a partir de uma reunião nesta sexta-feira (3) entre a Conmebol, a Associação Argentina de Futebol (AFA), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e os dirigentes de Fluminense e Boca Juniors. A entidade máxima do futebol sul-americana convocou o encontro para discutir a segurança dos torcedores e pelo fim da violência, para evitar uma sanção mais dura, que seria jogar a final da Libertadores sem a presença do público. Por parte dos argentinos, há a insatisfação da forma que a polícia tratou os hinchas xeinezes.

Ainda hoje, acontecerá um bandeiraço de torcedores do Boca Juniors na praia de Copacabana. Provavelmente, estarão diversos integrantes da La Doce, principal torcida organizada do clube e considerada uma das mais violentas da América Latina, esperados para esta sexta. Será um teste para PM, sob comando do governador Claudio Castro, antes da decisão.

O pré e pós no dia da final também é motivo para preocupação pelas autoridades. Mídias da Argentina relatam os milhares de torcedores que estão no Brasil sem ingresso e, apesar de ter uma fan zone específica para eles, devem estar na frente do Maracanã amanhã para tentar adquirir entradas com cambistas, forçar a entrada no estádio ou apenas fazer a festa de frente para o palco da decisão. Para evitar que os ânimos fiquem ainda mais quentes por torcedores, a Prefeitura do Rio proibiu a venda de bebidas alcoólicas no entorno do Maraca.

A PM do Rio também será testada caso o Boca Juniors saia campeão da Libertadores. Segundo a TyC Sports, o clube argentino planeja retornar à Argentina apenas no domingo à tarde, deixando para fazer a festa no estádio e arredores, além da comemoração se estender para frente do Hotel Hilton Barra, na Barra da Tijuca, mais uma grande operação para segurança estadual e municipal evitar os confrontos entre brasileiros e argentinos.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
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