Libertadores

Atlético-MG x Botafogo: como amizade entre clubes ‘coirmãos’ se rompeu há mais de 50 anos

Por conta das cores preta e branca, Galo e Fogo eram tratados como times "coirmãos" até 1967, quando um episódio curioso na Taça Brasil rompeu com a amizade

Rivais na final da Libertadores, Atlético-MG e Botafogo já protagonizaram enfrentamentos históricos, como a final do Campeonato Brasileiro de 1971 (primeira com o nome de Campeonato Brasileiro), e o empate por 5 a 5 no Brasileirão de 1998.

Até a década de 1960, a relação entre os dois clubes era mais próxima. A página Memória Atleticana publicou uma thread no X (antigo Twitter) contando o início da amizade entre Atlético e Botafogo, e como ela se perdeu.

A relação entre Galo e Fogo iniciou há quase 100 anos, mais precisamente em 21 de outubro de 1923, quando os dois alvinegros se enfrentaram pela primeira vez, em Belo Horizonte, num amistoso disputado no bairro Barro Preto.

Um jornal da época, chamado Minas Geraes, destacou o entusiasmo da capital mineira com a partida interestadual, pois era a primeira vez que o Atlético recebia um adversário do Rio de Janeiro, então capital do país, em seus domínios.

O Atlético preparou um banquete aos cariocas e lhes ofereceu um troféu, a taça Palestra Itália, pela vitória por 4 a 2 obtida no amistoso.

Em 1930, o Atlético foi convidado pela equipe da Estrela Solitária para a realização de um amistoso que inaugurou os refletores do seu Estádio de General Severiano. Aquela era a primeira vez que o time mineiro viajava para enfrentar uma equipe do Rio em solo carioca.

Mas o Galo só foi vencer o Botafogo pela primeira vez em 1947, também no General Severiano, com dois gols de Carlyle (um deles de bicicleta). Placar final: 2 a 1 para o time mineiro.

Naquela época, as duas torcidas se confraternizavam principalmente pelas cores preta e branca. O Botafogo, inclusive, participou da festa de 50 anos do Atlético, comemorado em 23 de março de 1958, num amistoso disputado no Independência.

A partida fez jus à fama dos dois clubes. O Atlético abriu 4 a 0 no primeiro tempo, mas o Botafogo, que contava com Garrincha, Nilton Santos, Didi, Quarentinha, Paulo Valentim e companhia, virou o placar para 5 a 4.

Numa pesquisa realizada em 1964, Atlético e Botafogo dividiam a grande preferências dos mineiros. A equipe carioca tinha, por exemplo, números maiores até que de Cruzeiro e América em terras mineiras, além de ser a mais popular no Estado da Guanabara.

O carinho dos mineiros com o Botafogo era tamanha que chegaram a lamentar o fato da decisão entre o Fogão e o Vasco na Taça Guanabara, no Maracanã, coincidiu com o dia da inauguração do Mineirão, em 5 de setembro de 1965.

— Os mineiros lamentaram que sua festa tivesse coincidido com o clássico Vasco e Botafogo. Muita gente teria ido até o próprio Maracanã para ver a decisão da Taça Guanabara. Não era tanto pelo Vasco, mas pelo Botafogo, que é em Belo Horizonte o clube carioca com o coração mineiro. Muita gente explica que a simpatia decorre das cores do uniforme do Botafogo, que são semelhantes às do Atlético Mineiro, que é o dono da massa de Belo Horizonte — escreveu o “Jornal dos Sports”, do Rio, na época.

O fim da amizade entre Atlético-MG e Botafogo

A cisão entre os clubes aconteceu em 15 de novembro de 1967, quando Atlético e Botafogo se enfrentaram pela Taça Brasil. No jogo de ida, no Maracanã, Gérson, do Alvinegro carioca, provocou a torcida atleticana na vitória carioca por 3 a 2.

Dirigentes do Botafogo receberam cartas de torcedores ameaçando jogadores da equipe da Estrela Solitária. Elas não foram divulgadas na época para não inflamar o clima de tensão para o jogo da volta. Mário Jorge Lobo Zagallo, técnico do time carioca na época, pediu para a direção do clube, inclusive, que a delegação viajasse para Belo Horizonte no próprio dia da partida.

Na partida de volta, em 1º de novembro de 1967, o Jornal dos Sports destacava a tensão que pairava sobre o Mineirão. O Atlético venceu por 1 a 0 num confronto pegado, com muitas entradas duras por parte das duas equipes, e o Botafogo deixou Belo Horizonte ameaçando não entrar em campo para o terceiro e decisivo duelo.

O Botafogo alegou à época que só voltaria jogar em Minas “quando restaurada a tradicional amizade do alvinegro atleticano ao seu coirmão da Guanabara”.

O Mineirão recebeu o terceiro jogo em 16 de novembro de 1967. A partida terminou empatada por 0 a 0 no tempo normal. Na prorrogação, Ronaldo Drummond, que marcou o gol da vitória na partida anterior, estufou as redes do Gigante da Pampulha, mas Gérson empatou pouco tempo depois.

O desempate, então, veio no cara ou coroa, como previa o regulamento. O árbitro Armando Marques chamou os capitães Décio Teixeira, do Galo, e Gérson, do Botafogo, para o centro do campo. Com sorte, o Galo se classificou.

Reaproximação e volta da rivalidade

Mesmo depois de anos sem grandes ligações, em 2013, no confronto de ida entre Atlético e Botafogo pela Copa do Brasil, as torcidas organizadas Galoucura e a Torcida Jovem do Botafogo alinharam suas bandeiras no Independência. Porém, no jogo mais recente entre as duas equipes, também no Indepa, o clima voltou a esquentar.

Com troca de farpas e provocações, os alvinegros entraram no clima de decisão da Libertadores, com direito a confusão e briga após o apito final.

No próximo sábado (30), Atlético e Botafogo decidem a final da Copa Libertadores da América de 2024 no Monumental de Nuñez, na Argentina. Será mais um capítulo da história dos alvinegros, coroando um deles com a “Glória Eterna”.

Foto de Romulo Giacomin

Romulo GiacominRedator de esportes

Formado em Jornalismo na UFOP, passou por Mais Minas, Esporte News Mundo, Estado de Minas e Premier League Brasil. Atualmente, escreve para a Trivela.
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