Paulo Junior: Internacional renasce copeiro em La Paz ao ritmo de sua dupla mundialista
Sergio Rochet e Enner Valencia foram os diferenciais do Internacional em vitória rara na altitude boliviana

Primeiro Sergio Rochet fez uma grande defesa com o reflexo do braço esquerdo, aos 10, e depois Enner Valencia quebrou a corrida, escondeu o chute e bateu cruzado de direita na bochecha da rede para abrir o placar, aos 16, duas especialidades dos reforços de Copa do Mundo para garantir um 1 a 0 largo para o Internacional em La Paz, o suficiente a jogar até por um empate no Beira-Rio ao receber o Bolívar na semana que vem.
O goleiro uruguaio teve ainda outras intervenções, apesar da evidente dificuldade com a velocidade da bola na altitude, e em um mês na meta colorada é impressionante seu impacto no nível de confiança, de concentração e de senso copeiro ao time. Quando um dos trocentos cruzamentos encontrou o ataque boliviano, a bola parou na trave. Sem sorte não se chupa nem um chicabon.
O centroavante equatoriano foi a flecha perfeita para a bola de Alan Patrick, esbanjando sua capacidade de finalização ao tirar qualquer chance de reação do zagueiro no mano a mano. Houve ainda mais uma ou outra esticada, mas encontrar o ar correndo sozinho na frente também era tarefa ingrata. O artilheiro do campeonato turco e autor dos gols na abertura do Mundial do Catar tem dois tentos com a camisa do Inter, um no Monumental de Núñez e outro no Hernando Siles, só.
Eles confirmaram, mais uma vez, as ótimas contratações do clube neste meio de temporada, que ainda contou com o retorno de Charles Aránguiz, outro mundialista, campeão de Copa América com o Chile e de ótima passagem pelo clube, e Bruno Henrique, que deixou o Palmeiras na pandemia como um dos capitães do time, em campanha que passou por vitória sobre o mesmo Bolívar, em La Paz, antes de partir para Arábia Saudita sem completar o caminho de título na Libertadores de 2020. Uma janela robusta, experiente.
Em campo, Coudet escalou uma linha de cinco para confiar aos três zagueiros uma maior chance de rebater as dezenas de levantamentos na área do rival. A turma do meio correu muito tentando diminuir a liberdade para as bolas alçadas, e os quase sessenta cruzamentos não significam que o Bolívar tenha amassado o time brasileiro, pelo contrário. Rochet e trave à parte, pelo contexto das visitas à altitude de La Paz, foi até um jogo bem controlado pela defesa colorada.
Passado o momento mais crítico ali pelos 20 do segundo tempo, o empate local foi ficando mais distante à medida que o Inter ia renovando seu pulmão com Igor Gomes, De Pena e Gabriel, com mais altura defensiva e pernas arejadas para lutar pela segunda bola. Do mesmo jeito que era complicado ganhar fora – é só a terceira vitória brasileira sobre o Bolívar por lá, repetindo os campeões Grêmio e Palmeiras –, é difícil imaginar uma vitória do clube celeste por aqui, feito que eles só conseguiram uma vez em toda a história.
Depois da reação para avançar diante do favorito River Plate, o Inter renovou sua amostra de força, desta vez por dar seu jeito de vencer num cenário adverso com doses bem adequadas para uma noite de Libertadores na capital boliviana, correndo certo, mediando a cera e esfriando o ímpeto de um estádio que se deu o direito de sonhar com o Maracanã em novembro. Muito por conta de um goleiro que convence na firmeza e um centroavante que gastou seu melhor pique, o primeiro, para guardar. Olho nesse Inter, o copeiro.
Nenhum torcedor de futebol deveria morrer numa viagem para seguir seu time do coração, exercendo seu pertencimento, seu lugar no mundo, entre os seus. Nenhuma jogadora de futebol deveria ser beijada a contragosto ao comemorar o grande título de sua vida. Quanta coisa acontece por conta de um jogo, e como nos afeta.