Estreia contra time da Igreja e ‘mentor tricolor’: as histórias do jovem Fábio em BH
Fábio e Belo Horizonte viveram uma história de amor que começou com engano e teve a Igreja Universal do Reino de Deus no caminho
Antes de fazer 976 jogos em 16 anos de Cruzeiro, Fábio morou em Belo Horizonte e jogou no mesmo clube com um mentor que o acompanha hoje no Fluminense. Essa história começou com um capítulo que só ficaria famoso depois: a religião. Hoje cristão fervoroso, o goleiro estreou como profissional contra o time da Igreja Universal do Reino de Deus.
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A Trivela viajou para Belo Horizonte para acompanhar o jogo de volta das quartas-de-final da Libertadores. Atlético-MG x Fluminense se enfrentam na Arena MRV nesta quarta (25), às 19h (de Brasília). E Fábio está muito acostumado à cidade.
A idolatria que já possui no Rio de Janeiro não é nem sombra da que conquistou na capital mineira. Por aqui, cruzeirenses o veneram, e atleticanos o respeitam.
— A coisa mais impressionante para mim é essa. Ele é muito ídolo do Cruzeiro, mas sempre respeitou os rivais, e mesmo que eles não torçam ao seu favor, claro, ele é respeitado por toda Belo Horizonte — disse Flávio Tênius, coordenador técnico da preparação de goleiros do Fluminense.
Um engano na chegada à Belo Horizonte
Fábio começou a carreira no União Bandeirante, do Paraná, e passou pelo Athletico-PR muito jovem. Na então Arena da Baixada, ele participou do título paranaense de 1998, mas não ficou no clube.
No fim de 1999, ele chegaria a um gigante do futebol pela primeira vez: o Cruzeiro. O problema é que houve um engano em sua chegada.
— Contaram para ele que a ideia era ser goleiro profissional no Cruzeiro. Mas foi um engano. Ele chegou para a base — conta Tenius.
A chegada de Flávio Tenius mudou a vida de Fábio na Toca da Raposa. Então preparador de goleiros da comissão técnica de Paulo Autuori, ele chegou com o treinador ao clube em 2000. E trouxe rapidamente o jovem goleiro para os profissionais.
— O Fábio já tinha passagens por seleções de base em seus tempos no Paraná. Nós nos conhecíamos dessa época e ele já era um fenômeno. Mas quando cheguei, em 2000, o clube contratou o André (Doring, ex-Inter) para ser titular. Ele ficaria “encostado”, mas eu o trouxe para o profissional. Depois, ninguém queria que ele saísse — relembra o preparador.
Fábio estreia como profissional contra time da Igreja Universal
Fábio é muito conhecido no futebol pela carreira longeva embaixo das traves. E também por sua religião. Isso porque, evangélico fervoroso, o goleiro sempre cita sua fé em entrevistas e no dia a dia.
O que pouca gente sabe, é que antes de virar cristão, a igreja já tinha sido importante em sua vida. É que o goleiro estreou justamente contra o time da Igreja Universal do Reino de Deus, comandada pelo Bispo Edir Macedo.
Isso aconteceu em um amistoso entre o Cruzeiro e o Universal-RJ, projeto que durou apenas um ano. A equipe celeste venceu por 2 a 0, e a estreia de Fábio, em 4 de março de 2000, no Mineirão, já foi sem sofrer gols.
— O André começou muito bem no Cruzeiro, era um grande goleiro, e mesmo sendo o reserva direto, Fábio jogava pouco. Acabou que a estreia dele foi contra o time da Universal (risos), uma história curiosa — explica Tenius.
‘Belo Horizonte é a casa que Fábio escolheu', diz mentor
Flávio Tenius conheceu Fábio aos 20 anos, em 2000. Depois, trabalhou com o goleiro novamente entre 2006 e 2007, também no Cruzeiro, e desde 2023, está novamente com o fenômeno da posição no dia a dia.
Para o mentor que o acolheu ainda jovem e admira sua vitoriosa e impressionante carreira até os dias atuais, a cidade de Belo Horizonte é um amor na vida do goleiro.
— Ele ama a cidade. Belo Horizonte é a casa que Fábio escolheu. Não sei se ele vai morar lá quando encerrar a carreira, mas é um lugar pelo qual ele tem muito carinho, e vice-versa. A idolatria dele em BH é impressionante.
Auge aos 40: para preparador, Fábio está melhor que nunca
Os goleiros costumam ter vida longa na profissão. É normal ver grandes da posição terem uma carreira mais longeva. O que separa Fábio dos demais é que quase aos 44 anos, ele está melhor do que nunca.
— É impressionante. Ele sempre foi um grande goleiro, desde jovem já mostrava uma qualidade rara. Mas hoje, é verdade, Fábio parece melhor que aos 26 ou 27 anos — diz Tenius.
Com a experiência de quem treinou outros nomes como Júlio César, Jefferson e Gomes, todos goleiros de Copa do Mundo, Flávio Tenius lamenta que Fábio não tenha tido essa oportunidade.
— Ele merecia muito. É uma injustiça do futebol que isso não tenha acontecido. Um goleiro impressionante, que em todas as rodadas, aos quase 44 anos, é destaque e salva o time. Isso é muito raro. É muito difícil fazer gol no Fábio — opina.
Ídolo preocupado com os mais jovens — até com os que não conhece
Em agosto de 2023, Fábio renovou com o Fluminense até o fim de 2025. O contrato pareceu longo demais para um goleiro que estava prestes a completar 43 anos. Mas, na prática, a idade é só um número para ele.
São 175 jogos e quatro títulos para Fábio no Flu. O goleiro já virou ídolo, mas mantém sua preocupação com os mais jovens. Não é raro contar com ele para ações individuais, coletivas e institucionais para os goleiros do clube.
— Ele não está sempre disponível para ajudar apenas em campo — resume Tenius.
A ideia do Fluminense é que Fábio participe ativamente da transição para quem “herdar suas luvas”.
— É um cara que sobretudo quer sempre ajudar o próximo, dá toques aos reservas, aos mais jovens, mas sempre com carinho, com a preocupação de não soar pedante.
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E muitos já as herdaram, mesmo que ele nem saiba quem.
— Algumas vezes ele liga e avisa que está com uma mala de presentes. Deixa 40, 50 pares de luvas e outras coisas para goleiros do sub-9 ao sub-20 do Fluminense, até para as meninas do sub-19 e profissional do futebol feminino — conta Tenius.