América do Sul

O interminável Tacuara Cardozo liderou o Libertad ao bicampeonato no Paraguai

O Libertad conquistou tanto o Apertura quanto o Clausura, ambos com folga e com Óscar Cardozo ponteando a artilharia

O Campeonato Paraguaio foi de um só time em 2023. O Libertad dominou a liga nacional do começo ao fim, para se tornar bicampeão. Se o primeiro semestre guardou o título do Torneio Apertura, neste domingo o Gumarelo comemorou o Clausura. A conquista veio com uma campanha soberana dos alvinegros, e mesmo com a saída do técnico Daniel Garnero no meio da disputa, ao aceitar a oferta para dirigir a seleção paraguaia. Nesta rodada, bastou o triunfo por 1 a 0 sobre o Sportivo Luqueño, que deixou o Libertad nove pontos à frente do Cerro Porteño. Várias figurinhas carimbadas se consagram, em especial os intermináveis Óscar Cardozo e Roque Santa Cruz, que se revezam no ataque.

O Libertad chega a 24 títulos na história do Campeonato Paraguaio, terceiro maior campeão, contra 46 troféus do Olimpia e 34 do Cerro Porteño. O período de ouro do Gumarelo acontece neste século, com 16 canecos erguidos desde 2002. Ajudava as costas quentes ligadas a Nicolas Leoz, antigo presidente da Conmebol que dirigiu o clube nos anos 1970, mas não que a ascensão dos alvinegros tenha dependido disso. Há um trabalho bem feito dentro de campo, evidenciado nas últimas temporadas. Depois de um período muito forte do Olimpia, o Libertad é a atual força dominante do Campeonato Paraguaio nesta década. Desde 2021, o time faturou quatro títulos em seis possíveis.

A dominância do Libertad

O Libertad já tinha reinado no Torneio Apertura. A equipe somou 51 pontos, dez a mais que o vice-campeão Cerro Porteño, com 16 vitórias em 22 rodadas. O Gumarelo primou sobretudo pelo desempenho de sua defesa, com apenas 15 gols sofridos. O time assumiu a liderança na segunda rodada e não saiu mais. Óscar Cardozo brilhou como artilheiro da competição, autor de dez gols. E a superioridade notada no primeiro semestre se confirmou no segundo.

O Libertad também pode chegar aos 51 pontos no Torneio Clausura. O time soma 45 pontos, com mais duas rodadas pela frente. E os números gerais são até superiores. A defesa sofreu míseros 11 gols, com o ataque anotando 41 – uma marca superior à do Apertura. E se o time venceu menos até aqui, empatou mais e sofreu só uma derrota. O Cerro Porteño aparece com 36 pontos. Nacional, Guaraní e mesmo o Olimpia veem de longe a supremacia do Gumarelo, de novo líder desde a segunda rodada.

Com os títulos, o Libertad se confirmou na fase de grupos da Libertadores 2024. A outra vaga na fase de grupos fica para o segundo time com maior pontuação acumulada na tabela anual – no caso, o Cerro Porteño. O Olimpia está ficando fora até das preliminares, com o Nacional abocanhando por enquanto a terceira vaga por pontuação acumulada, enquanto o Guaraní também está na briga. Já uma novidade na Libertadores será o Sportivo Trinidense, finalista da Copa Paraguai. Vai encarar justamente o Libertad, na decisão marcada para 29 de novembro. Será a estreia dos azarões no torneio continental.

Cardozo e Santa Cruz, reis do Paraguai

O Libertad é treinado por um comandante bastante jovem. Ariel Galeano tem apenas 27 anos e trabalhava no setor de formação do clube, até assumir no lugar de Daniel Garnero. Pegou uma base pronta e apenas precisou seguir o fluxo. Alguns jogadores, afinal, são até 15 anos mais velhos do que ele. Em dez partidas sob suas ordens, o Gumarelo venceu seis e empatou quatro. A equipe já tinha caído antes nas oitavas de final da Copa Sul-Americana para o Fortaleza.

Já em campo, os decanos do Libertad são fundamentais. Martín Silva continua em boa forma na meta, aos 40 anos. Não sofreu gols em 12 das 20 partidas. A defesa é relativamente “jovem”, mesmo com trintões rodados como Iván Piris e Diego Vera. O zagueiro Alexander Barboza é outro destaque. No meio, Cristian Riveros e William Mendieta são opções tarimbadas. Outras figurinhas carimbadas surgem mais à frente, em especial com o ponta Héctor Villalba, um dos destaques individuais do Clausura. Lorenzo Melgarejo e Antonio Bareiro também fizeram gols importantes.

De qualquer maneira, as referências do Libertad são duas lendas. Óscar Cardozo voltou ao clube disposto a fazer história. O centroavante conquista o seu quinto título no Campeonato Paraguaio desde o retorno a Assunção em 2017. E anotando gols a rodo. O Tacuara também é o artilheiro do Clausura com nove gols. Fase tão boa que Daniel Garnero o chamou de volta à seleção, mesmo aos 40 anos, após ficar ausente das listas desde 2021. No último ano, Cardozo tinha se tornado o jogador paraguaio com mais gols na história dentro do futebol profissional e sublinha como não se sacia.

Já Roque Santa Cruz é menos presente, geralmente substituto de Cardozo, com dois gols assinalados. Mas não se nega a grandeza do astro, mantendo sua sede por conquistas mesmo depois de tudo o que já viveu, desde os tempos em que era um prodígio na Europa. Deixou o Olimpia em 2022 para se reencontrar com Garnero e com a nova camisa do Gumarelo não perdeu o caminho do pódio. O veterano de 42 anos já venceu o Campeonato Paraguaio assombrosas 11 vezes. São oito troféus em 12 possíveis desde 2018.

Tudo bem que o Campeonato Paraguaio gosta de um veterano. O Libertad, mesmo assim, possui um dos melhores sistemas de formação da América do Sul. Julio Enciso, Enso González e Diego Gomes foram alguns dos talentos revelados recentemente, rendendo €20 milhões com suas vendas. Na atual campanha, cinco jogadores de até 22 anos participaram da conquista, com destaque ao meia Rubén Lezcano, de 19 anos. Neste equilíbrio entre dinossauros e prodígios, o Libertad não se cansa de erguer troféus.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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