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Felizes os que desfrutaram a madrugada de sono e evitaram a decepção com o errático Brasil na derrota para o Peru

Assistir a um jogo da Seleção, por si, já é um grande teste de resistência. O nível sonífero aumenta exponencialmente nestas Datas Fifa que servem apenas para encher linguiça. E tudo parecia pior num reencontro com o Peru, somente dois meses após a final da Copa América. Com o pontapé inicial depois da meia-noite, no horário de Brasília, herói foi aquele que não tirou um cochilo diante da TV. O prêmio? Uma atuação modorrenta do time de Tite e uma derrota sofrida nos minutos finais. Graças a um gol de cabeça, a Blanquirroja comemorou o triunfo por 1 a 0 em Los Angeles. Pobre de quem confiou que valeria a pena ficar acordado.

Tite trouxe algumas novidades no time titular, mas não tantas quanto se imagina em um amistoso sem qualquer valor. Fágner, Éder Militão, Allan e David Neres eram as mudanças em relação ao empate com a Colômbia na última sexta-feira. Neymar começava no banco desta vez. Ricardo Gareca também não contava com medalhões do porte de Paolo Guerrero e Jefferson Farfán, mas manteve sua base principal. Raúl Ruidíaz era o homem de referência na frente.

E a verdade é que tudo parecia errado num jogo que poderia muito bem não ter acontecido. A começar pelo próprio estádio. O campo do Los Angeles Memorial Coliseum tinha marcas de futebol americano, que dificultavam a vida de quem estava assistindo. Pior ainda era o gramado a quem jogava, muito curto e seco. Os dois times demonstravam uma dificuldade imensa para manejar a bola, com muitos erros de passes.

O primeiro tempo foi sofrível. O Brasil pressionava sem a bola, mas tentava forçar demais os lançamentos quando retomava a posse e não criava no ataque. Preponderava a boa marcação peruana. A primeira chance do jogo foi do Peru, só aos 13, a partir de uma cobrança de escanteio que Renato Tapia completou para fora. A Seleção respondeu pouco depois, quando David Neres invadiu a área e Luis Advíncula travou de maneira espetacular. Mas a partida não ia muito além disso. Ederson desviou levemente um chute perigoso de Edison Flores aos 22, enquanto Richarlison assustaria Gallese pouco depois, tirando tinta da trave.

Faltava cadência no amistoso. Não se via uma jogada bem trabalhada. As aproximações inexistiam. Sobrava afobação. Entre os poucos que se salvavam, mais uma vez Richarlison chamava a responsabilidade do lado brasileiro e aparecia bem no ataque. Mas era pouco para tirar alguma coisa da partida. A Seleção ainda tomou um susto quando Casemiro e David Neres sofreram um choque de cabeça, mas ambos acabaram voltando a campo. Já o melhor lance brasileiro veio aos 43, em batida de Richarlison que Pedro Gallese foi buscar. Somente nos minutos finais da primeira etapa é que o Brasil criou certa pressão.

O segundo tempo foi ligeiramente melhor. O Brasil continuava acelerando, mas começou a criar um pouco mais. Allan fez uma boa infiltração na área e ficou de frente com Gallese, mas chutou em cima do goleiro. O peruano ainda faria outras boas defesas na sequência, em tentativas de Philippe Coutinho antes dos 20 minutos. E a Seleção parecia pronta a jogar para frente, especialmente após as entradas de Neymar e Lucas Paquetá. De fato, havia certa vontade, mas os brasileiros erravam demais suas escolhas na hora de definir. O jogo passou a ver uma sequência de finalizações para fora.

O Peru ainda jogava por um lance. Advíncula lembrou que Ederson estava no jogo e fez o goleiro trabalhar, até que a jogada decisiva acontecesse aos 38. Em falta na entrada da área, Yoshimar Yotún fez a cobrança fechada. Ederson saiu mal, a bola raspou na cabeça de Militão e Luis Abram apareceu para desviar às redes. Era um baita banho de água fria no Brasil. Durante os minutos finais, a Seleção tentou se impor e carecia de calma. O melhor lance veio com Bruno Henrique, que saíra do banco. O ponta cruzou em direção ao segundo pau e encontrou o estreante Vinícius Júnior, que também entrou no segundo tempo, mas o garoto pegou mal demais na bola. Sem qualidade, os brasileiros tiveram que aceitar a derrota. Os peruanos foram até mais perigosos nos acréscimos.

A derrota em Los Angeles encerrou uma série invicta da Seleção que durava desde a Copa do Mundo, com 17 partidas sem perder. O revés veio amargo, em uma Data Fifa que já tinha guardado uma atuação com seus poréns contra a Colômbia. Que se pese o relaxamento após a conquista da Copa América, a oportunidade parece ainda mais desperdiçada quando se pensa que Tite sequer fez testes amplos na equipe. Os amistosos soam mais inúteis por isso.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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