O Union Berlim faz um mercado para se empolgar, com Gosens e Volland
O Union Berlim aproveita a estreia na Champions para garantir uma série de reforços interessantes, incluindo Gosens e Volland, dois jogadores de seleção anunciados nesta semana

O sucesso do Union Berlim tem alguns pilares bem claros. Um deles é o Estádio An der Alten Försterei e a fanática torcida que cria um caldeirão na antiga Berlim Oriental. Outro é o trabalho do técnico Urs Fischer, pragmático, mas extremamente competitivo. E algo que também merece elogios é a postura dos Eisernen no mercado de transferências. A escalada na tabela da Bundesliga sempre se valeu de boas e numerosas contratações, ano após ano, que fortaleceram gradualmente a equipe. Pois a semana é para deixar os torcedores berlinenses empolgados, às vésperas da abertura do Campeonato Alemão. Num intervalo de dois dias, o Union anunciou as chegadas de dois jogadores de seleção alemã: o lateral Robin Gosens e o atacante Kevin Volland.
Foram duas oportunidades de mercado muito bem identificadas pelo Union Berlim. Ambos os jogadores não estavam em sua melhor sequência fora do país e acabaram atraídos pela chance de morar na capital. Nem foram tão caros assim. Gosens custou €12 milhões aos cofres dos Eisernen, comprado da Internazionale. Já Volland chegou por €4 milhões, do Monaco. São atletas rodados, na casa dos 30 anos, que não necessariamente se valorizarão para uma venda futura. Em compensação, agregam em experiência, algo valioso especialmente para uma equipe que fará sua estreia na Champions League.
Gosens se encaixa bem no Union
Robin Gosens é quem mais chama a atenção entre os dois novos reforços do Union Berlim. E não apenas por suas características, como um ala muito forte no apoio e que aparece na área para marcar gols. O alemão se sugere também como um tipo de jogador excepcional para se encaixar no padrão de jogo de Urs Fischer. Com o sistema em 3-5-2, Gosens terá total liberdade para se mandar ao ataque. Além disso, poderá aproveitar a qualidade dos cruzamentos do ala pela direita – seja Josip Juranovic ou o capitão Christopher Trimmel. Será uma arma e tanto nas campanhas dos Eisernen.
O Union Berlim oferecerá a primeira experiência de Gosens no futebol de seu país. O lateral até defendeu clubes pequenos na Alemanha, mas ainda nas categorias de base atravessou a fronteira com a Holanda. Foi por lá que seu futebol desabrochou, nas passagens pelo Dordrecht e especialmente pelo Heracles. Já o maior sucesso aconteceu na Serie A, depois de ser descoberto pela Atalanta. As grandes campanhas da Dea sob as ordens de Gian Piero Gasperini têm contribuição expressa de Gosens, que influenciou bastante o sistema de jogo. Até por algumas similaridades do que fazia em Bérgamo, dá para imaginar o seu impacto positivo em Berlim.
A fase de Gosens com a Atalanta o levou para a seleção alemã. E, mesmo que a campanha na Euro 2020 tenha acabado cedo demais, o ala foi um dos melhores jogadores do Nationalelf. A atuação na vitória sobre Portugal foi fantástica. Uma pena que as lesões tenham o atrapalhado depois do torneio, sem se firmar nas convocações com Hansi Flick. A transferência para a Internazionale também não foi feliz como se esperava. Os nerazzurri o levaram em janeiro de 2022, num negócio que custou depois €27,4 milhões. Todavia, Gosens não teve sequência como titular e acabou atropelado por Federico Dimarco. Não era indispensável, a ponto de ser vendido por menos da metade do preço.
Gosens é um jogador que depende muito de suas condições físicas. Isso será importante em sua chegada ao Union Berlim. Porém, aos 29 anos, parece ter chão para dar a volta por cima. A experiência na Bundesliga será especial e sua bagagem na Champions é importante – finalista com a Inter, mas também de grandes feitos com a Atalanta. O que fizer no An der Alten Försterei pode garantir inclusive reflexos maiores, quem sabe para que recupere seu espaço na seleção às vésperas de mais uma Eurocopa. Mesmo sem fazer uma temporada tão boa, ele esteve presente nos amistosos disputados na Data Fifa de junho. Precisa agora de ritmo e alto nível competitivo.
E I S E R N, Robin! ✊ pic.twitter.com/N2t0sHnLkE
— 1. FC Union Berlin (@fcunion) August 15, 2023
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Volland chega como referência
Kevin Volland, por sua vez, era uma necessidade do Union Berlim. O clube ainda não encontrou o comandante de seu ataque desde a saída de Taiwo Awoniyi, na temporada passada. Jordan Pefok não se consolidou nos Eisernen, enquanto Kevin Behrens serve mais como uma alternativa do que como um protagonista. Não à toa, a equipe ficou muito mais dependente das arrancadas de Sheraldo Becker, que marcou 11 gols na Bundesliga passada, mas é um atacante para chegar de trás. Volland vem como uma solução, mesmo que não seja aquele centroavante físico para bolas longas e tantas vezes em sua carreira tenha se combinado com outro homem de área.
A ideia é que Volland se torne um atacante bem mais cerebral no centro do ataque, com boa qualidade nas finalizações, mas também capacidade de movimentação e criação de espaços. De certa maneira, sua chegada se assemelha à de Max Kruse no início da jornada do Union Berlim na primeira divisão: vai ser um homem de referência mais pela inteligência do que pela fisicalidade. E isso tende a auxiliar os companheiros. Na Copa da Alemanha, Urs Fisher escalou o time com três atacantes, abrindo Sheraldo Becker e o recém-contratado David Datro Fofana nas pontas. Numa equipe em que os alas ocupam o corredor, os pontas podem partir em diagonal e buscar o gol. Volland fará a equipe girar e coordenará os movimentos.
Aos 31 anos, Volland possui uma ótima experiência em alto nível. O atacante surgiu no tradicional 1860 Munique, com o qual se destacou na segunda divisão. Seu salto para a elite aconteceu com o Hoffenheim, transformando-se num atacante de gols e assistências. Já o melhor momento ocorreu na transferência para o Bayer Leverkusen, onde atingiu dígitos duplos nas principais estatísticas. O destaque na BayArena rendeu a mudança para o Monaco há três temporadas. Os dois primeiros anos do alemão na Ligue 1 foram muito bons, chegando a anotar 16 gols pelo Francesão em 2020/21. Entretanto, jogaria bem menos na temporada passada, atrapalhado pelas lesões.
O Union Berlim precisará recuperar Volland fisicamente e a desconfiança explica seu preço mais baixo em relação ao que poderia custar. Se saudável, será um jogador de muita tarimba para liderar os Eisernen. O medalhão se aproxima dos 250 jogos pela Bundesliga, além de estar acostumado à Champions e à Liga Europa. Ainda possui 15 partidas pela seleção da Alemanha no currículo. Não é chamado desde 2021, mas também disputou a Eurocopa naquele ano.
Kugel hat kurz geklemmt, jetzt passt alles: Gutes Los, Kevin ? pic.twitter.com/RqgS8i2MeV
— 1. FC Union Berlin (@fcunion) August 17, 2023
O mercado do Union Berlim
O Union Berlim totaliza €32 milhões gastos em reforços nesta janela de transferências. Nem é um valor alto, apenas o sétimo maior entre os clubes da Bundesliga, especialmente pela quantidade de jogadores que chegaram. Robin Gosens e Kevin Volland são os mais notáveis, mas não os únicos experientes e nem os únicos interessantes. Um negócio necessário era a permanência do zagueiro Diogo Leite, comprado em definitivo após empréstimo do Porto. Os Eisernen também aproveitaram os rebaixamentos para garantir novidades. O volante Lucas Tousart e o goleiro Alexander Schwolow vieram do vizinho Hertha, a baixo custo e precisando recuperar o moral. Da mesma forma, os berlinenses garantiram o empréstimo de Alex Kral, que pertence ao Spartak Moscou e estava cedido ao rebaixado Schalke 04.
Empolgação também causam dois jovens trazidos por empréstimo da Inglaterra. Um deles é Brenden Aaronson, americano de 22 anos que não foi bem no Leeds United, mas fazia maravilhas na armação do Red Bull Salzburg e já disputou a Champions. O outro é David Datro Fofana, atacante que arrebentava no Molde e foi comprado pelo Chelsea na temporada passada, mas não será aproveitado em Stamford Bridge por enquanto. O marfinense de 20 anos pode atuar em todas as posições do ataque e impressionou na pré-temporada – chegou a fazer dois gols e dar uma assistência nos 4 a 0 sobre a Atalanta. Também vale citar os jovens Mikkel Kaufmann e Benedict Hollerbach, dois centroavantes de 22 anos comprados depois de acumularem seus gols nas divisões de acesso do Campeonato Alemão.
Mais importante, a espinha dorsal do Union Berlim está mantida. Fredrik Rönnow é o goleiro, Danilho Doekhi e Robin Knoche dão força à zaga, Josip Juranovic e Christopher Trimmel são ótimos laterais, Rani Khedira e Janik Haberer carregam o piano no meio, Sheraldo Becker é a estrela no ataque. Ir além da quarta posição na Bundesliga é difícil, mas o elenco de Urs Fischer está mais forte. Isso ajudará inclusive os Eisernen a conciliarem melhor a frente dupla, com a disputa da Liga dos Campeões. Se na temporada passada a profundidade do plantel parecia curta para lidar com a Liga Europa, desta vez a equipe está melhor abastecida, mesmo que o sarrafo seja muito mais alto na Champions.
Nas últimas cinco temporadas, desde que alcançou o acesso inédito à elite da Bundesliga, o Union Berlim já contratou 45 jogadores. É um fluxo enorme e que conta com nomes que agora parecem até restritos a um passado distante – como Neven Subotic, Christian Gentner ou Nico Schlotterbeck. Nem todos podem ter vingado no Estádio An der Alten Försterei, mas não se nega que a taxa de acerto é grande, considerando também aqueles que se valorizaram para sair depois. E o fluxo intenso não prejudica a filosofia de jogo, bem como o senso coletivo, o que é fundamental com Urs Fischer. A empreitada continental do Union tinha começado a ganhar corpo na janela de inverno no início do ano, quando Josip Juranovic e Aïssa Laidouni vieram depois de se destacarem na Copa do Mundo. No entanto, o atual mercado simboliza como Köpenick virou um destino valorizado para bons reforços – pela força crescente do time na Bundesliga e, agora, pela chance de jogar a Champions.