Bundesliga

Hoeness: “Tuchel ofereceu um banquete aos tabloides ao pedir mais reforços”

Presidente honorário do Bayern de Munique, Uli Hoeness criticou as reclamações públicas de Thomas Tuchel sobre a falta de profundidade de seu elenco

As lideranças do Bayern de Munique não costumam ter muito receio na hora de fazer críticas públicas a problemas do clube. Thomas Tuchel agiu desta maneira recentemente, ao pedir mais contratações e reclamar da falta de opções no elenco, com algumas posições desguarnecidas e certas dificuldades na rotação de peças. Da mesma forma, Uli Hoeness não viu problemas para rebatê-lo. O ex-presidente, de volta ao dia a dia do clube de forma mais ativa, agora como conselheiro, apontou que o treinador não deveria ter botado lenha da fogueira e exposto seus comandados à imprensa. Garantiu que o plantel dos bávaros está bem recheado – embora a abundância em certos setores do campo não se repita em outros.

As palavras de Tuchel se direcionaram principalmente em relação à atuação do Bayern no mercado de transferências. Apesar das contratações estelares de Harry Kane e Kim Min-jae, o clube não conseguiu suprir todas as suas carências na última janela. As chegadas de um goleiro, de um lateral direito e de um volante eram primordiais, assim como pensava-se num zagueiro para a saída de Benjamin Pavard. Apesar de muitos nomes especulados e de negociações que ficaram a um triz de se concretizar, nem todos desembarcaram na Baviera.

“Essas declarações são um banquete para a imprensa, especialmente para os tabloides sensacionalistas. Algumas pessoas, incluindo o treinador, fizeram afirmações imprudentes – eu não deveria fazer meu próprio elenco parecer ruim, ao falar que há pouca profundidade. Quando você vê o tipo de jogadores que temos no banco todas as semanas, não acho que temos um elenco curto”, afirmou Hoeness, em entrevista à RTL.

Apesar disso, Hoeness indica seu apoio a Tuchel. Coloca como objetivo ao treinador uma campanha até as semifinais da Champions League, sem ser muito exigente dentro daquilo que costuma ser parâmetro no Bayern: “Se formos campeões da Bundesliga, será ótimo. Também será ótimo conquistar a Copa da Alemanha. Mas o maior dos sentimentos seria chegar pelo menos às semifinais da Champions League. Quando se chega perto de vencer a Champions, é preciso elogiar o treinador e os responsáveis”.

O mercado do Bayern

Outro assunto abordado por Uli Hoeness foi o rendimento do Bayern no início da temporada. Ofensivamente, as coisas funcionam bem para a equipe. Harry Kane vive um começo avassalador pelos bávaros e outros jogadores crescem de produção, em especial Leroy Sané. Por outro lado, as fragilidades defensivas estão expostas, mesmo com o bom início de Kim Min-jae na zaga. Contudo, o dirigente acha que a questão está numa postura mais agressiva.

“O que ainda está faltando ao Bayern, na minha opinião, é destruir um adversário com seis, sete, oito gols. Deveríamos ter feito isso contra o Freiburg, tão desfalcado. Não fico feliz quando vejo um domínio total terminar com uma vitória por apenas três gols”, comentou Hoeness.

Diante dos desfalques da zaga, o Bayern de Munique cogitou o retorno de Jérôme Boateng, sem clube. O veterano, dispensado pelo Lyon, voltou a treinar pelo clube. Porém, a recontratação do zagueiro foi rechaçada pela torcida, diante do caso de agressão à ex-namorada. Boateng chegou a ser condenado a pagar uma multa milionária, embora o episódio esteja novamente sob investigação. A ex-modelo Kasia Lenhardt tirou a própria vida em janeiro de 2021, em meio aos primeiros desdobramentos do processo. Hoeness admitiu que trazer Boateng seria um erro, não apenas do ponto de vista moral, mas também esportivo e financeiro.

“Ouvi dizer que Jérôme apresentou uma excelente forma física durante os treinos. Mas o seu passado, com os casos que vem enfrentando, levou o clube a decidir contra essa contratação. Ele teria sido contratado para oito jogos da Bundesliga, e isso não faz sentido do ponto de vista econômico. Podemos contratar outro defensor em janeiro, seja um zagueiro ou um lateral direito”, afirmou.

Apesar disso, Hoeness garante que o Bayern não fará investimentos massivos em janeiro: “Se sentirmos que precisamos de reforços até lá, vamos contratar. Mas não podemos viver sempre no aqui e no agora, temos que garantir que esse clube se mantenha saudável pelos próximos dez anos. Temos orgulho de viver com estabilidade financeira há 30 anos. E é assim que as coisas devem se manter”.

A saída de Julian Nagelsmann

Uli Hoeness também falou sobre a demissão de Julian Nagelsmann na temporada passada. O veterano não escondeu que tinha críticas ao treinador, mas declarou que seu descontentamento maior foi com a maneira como a saída foi conduzida por Oliver Kahn e Hasan Salihamidzic, executivos do Bayern na época. Para Hoeness, os bávaros deveriam ter esperado ao menos o final da temporada.

“Também critiquei algumas coisas que Julian fez no início do ano. Não gostei da preparação para a segunda metade da temporada, dando quatro semanas e meia de folga, e apenas duas semanas e meia de treinos. Disse isso para Hasan no momento, que poderíamos pensar em trocar de treinador ao final da temporada. Mas não entendi o timing, dez dias antes do jogo contra o Dortmund. Também não gostei da forma como foi comunicado a Julian – ele ainda estava de folga. A reação do público foi compreensivelmente ruim”, analisou.

Por outro lado, Hoeness indicou total apoio a Nagelsmann em seu recomeço na seleção da Alemanha, com uma exaltação aos predicados do técnico: “Nós aqui no Bayern concordamos que ele é exatamente a pessoa certa para dirigir a seleção. Ele é jovem e com ideias novas. Tirou longas férias depois de deixar o Bayern e agora está recuperado. E tem muito entusiasmo. Estou convencido de que ele se fortaleceu. A seleção agora precisa de otimismo, de motivação. Acho que Julian é a pessoa certa para isso”.

Outro jovem treinador bastante elogiado por Uli na entrevista foi Sebastian Hoeness, seu sobrinho. O atual comandante do Stuttgart é filho de Dieter Hoeness, irmão mais novo de Uli e jogador do Bayern nos anos 1980. Sebastian salvou os suábios do rebaixamento na temporada passada e vive um início de Bundesliga excepcional, com a atual vice-liderança. Nomes como Serhou Guirassy e Chris Führich aparecem entre os destaques individuais do campeonato. Não seria surpresa se o jovem de 41 anos treinasse o Bayern no futuro, até por ter dirigido o time B e conquistado a terceirona do Campeonato Alemão em 2019/20, num feito inédito pelos bávaros que o levou ao Hoffenheim.

“Através de seu trabalho, ele garantiu que o Stuttgart não fosse rebaixado, que jogasse bem na Copa da Alemanha e que ganhasse recursos financeiros para a nova temporada. Ele perdeu seus três melhores jogadores, nunca reclamou e fez o melhor possível. A maneira como eles jogam faz você sorrir. Devo admitir que gosto muito de assistir aos jogos do Stuttgart neste momento. Se eles são melhores que nós, precisam estar à nossa frente. Será trabalho do Bayern e de seu treinador evitar isso”, apontou Hoeness.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
Botão Voltar ao topo