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Os motivos que separaram Zidane de dirigir a Argélia

Filho de argelinos, Zinédine Zidane recusou a oferta de comandar a seleção da Argélia e segue na esperança de um convite da França

Não será dessa vez que veremos Zinédine Zidane representando a Argélia. Filho de imigrantes argelinos, o três vezes vencedor da Champions League e duas de La Liga como técnico do Real Madrid recusou um último convite da Federação Argelina de Futebol, feito em Paris na noite de domingo (28), para comandar a seleção do país.

A informação foi dada pela RMC Sport, mas o interesse dos Fennecs em Zidane é assunto na imprensa argelina e francesa desde a saída do técnico Djamel Belmadi após a segunda eliminação consecutiva da Argélia na fase de grupos da Copa Africana de Nações, na terça-feira (23). De acordo com o L'Équipe, Zizou já havia recusado uma oferta inicial de Walid Sadi, presidente da Federação Argelina, na sexta-feira (23), mesmo dizendo estar “lisonjeado” com a proposta.

Desde que encerrou sua carreira como jogador de futebol, Zinédine Zidane só trabalhou como treinador no Real Madrid. Depois de ser auxiliar de Carlo Ancelotti na temporada 2013/14, na qual o clube faturou a Champions League pela 10ª vez, o francês foi técnico do Real Madrid Castilla (time B merengue) por um ano e meio antes de assumir pela primeira vez o comando da equipe principal em janeiro de 2016.

Após conquistar três Champions League em sequência, uma La Liga, uma Supercopa da Espanha, duas Supercopas da Europa e dois Mundiais de Clubes, Zidane deixou o Real Madrid ao fim da temporada 2017/18. Ele ainda voltaria a assumir o time merengue em março de 2019 para substituir Santiago Solari e por lá ficaria até junho de 2021, conquistando mais uma La Liga e uma Supercopa da Espanha. Somando as duas passagens, foram 174 vitórias, 53 empates, 36 derrotas e 11 títulos em 263 partidas.

Um dos motivos para o antigo meio-campista não aceitar a proposta para comandar a Argélia seria justamente o enorme sucesso que teve no Real Madrid. Ao assumir uma seleção que desde o título da Copa Africana de Nações em 2019 tem colecionado fracassos, como as duas eliminações precoces nas edições seguintes da CAN ou a não-classificação para a Copa do Mundo de 2022, o francês estaria colocando em risco a imagem que tem até hoje de “técnico vencedor”, mesmo estando parado há dois anos e meio.

Segundo a revista francesa So Foot, outra razão para Zidane ter rejeitado a oferta seria a espera por um convite da seleção francesa. Campeão mundial em 1998 e vice em 2006 como atleta de Le Bleus, o treinador há algum tempo acredita ser o substituto natural de Didier Deschamps. A expectativa é que ele passasse a comandar Kylian Mbappé e companhia após a Copa no Catar, mas Deschamps renovou em janeiro de 2023 seu contrato com a Federação Francesa de Futebol até 2026.

Oportunidade perdida de ser o bom filho que a casa torna

Outro possível motivo para Zinédine Zidane recusar a seleção da Argélia tem relação com a imigração. Recentemente, o clima político da França tem sido voltado ao tema, com o Parlamento francês aprovando em dezembro uma nova legislação que endurece a política de imigração no país. A Corte Constitucional da França rejeitou mais de um terço dos artigos no controverso projeto de lei, mas no sábado (27) o presidente Emmanuel Macron promulgou uma nova lei de imigração após solicitar ao Ministro do Interior, Gérald Moussa Darmanin, que fizesse “tudo em seu poder” para que ela fosse implementada “o mais rápido possível, de acordo com a AFP.

Filho de imigrantes argelinos, Zidane certamente teria de responder perguntas sobre o tema em suas primeiras entrevistas coletivas caso tivesse aceitado ser o novo técnico da Argélia. Por ser um dos maiores ídolos franceses há mais de 25 anos, qualquer que fossem as respostas (ou até a falta de uma) provocaria reações políticas e poderiam colocar em dúvida uma futura chance no comando de Le Bleus.

A realidade, no entanto, é que Zinédine Zidane comandando a seleção argelina seria uma grande história e de uma simbologia gigantesca. Além do fato de possivelmente passar uma mensagem contra as novas leis de imigração, o ex-jogador seria quase que um filho prodígio voltando para casa de seus pais depois de anos para salvar a equipe nacional.

Talvez esse seja a principal razão para esta recusa de Zidane parecer uma oportunidade perdida. Apesar dos motivos citados para que ele não aceitasse a oferta, não é nada difícil de o imaginar fazendo um bom sucesso no comando da Argélia, classificando-a para a próxima Copa do Mundo depois de 12 anos de ausência e assumindo a seleção francesa depois da competição. Neste cenário hipotético, o francês deixaria de ser o descendente de argelinos que fez sucesso no exterior para entrar definitivamente na história do país como um ídolo nacional, ainda mais chegando em um momento de baixa dos Fennecs e colocando seu futuro em risco. Uma pena que esta possibilidade não deve virar realidade num futuro próximo.

Foto de Felipe Novis

Felipe NovisRedator

Felipe Novis nasceu em São Paulo (SP) e cursa jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Antes de escrever para a Trivela, passou pela Gazeta Esportiva.
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