Salah dá voz à resistência ao golpe egípcio na Champions
Mohamed Salah é um dos maiores talentos revelados pelo futebol egípcio nos últimos anos. O atacante de 21 anos soma impressionantes 16 gols em 23 partidas pela seleção e tem feito sucesso na Europa, destaque do Basel. Não bastasse a habilidade com a bola nos pés, o prodígio tem outra qualidade importante para conquistar seu povo: o esclarecimento político.
Salah foi o nome na vitória do Basel sobre o Ludogorets, que deixa os suíços bastante próximos da classificação à fase de grupos da Liga dos Campeões. O egípcio marcou dois tentos no triunfo por 4 a 2. E não comemorou nenhum deles. A alegação? Não tem o que festejar diante da repressão vivida em seu país, que passou por um golpe militar nas últimas semanas e registrou centenas de mortos em conflitos desde então.
Não é a primeira vez, aliás, que Salah deixa sua visão política se sobressair dentro de campo. Na etapa anterior da Champions, o atacante não apertou as mãos dos jogadores do Maccabi Tel-Aviv. No jogo de ida, posicionou chuteiras na beira do campo para evitar os cumprimentos, enquanto na volta deu um leve soco nas mãos espalmadas dos adversários. Porém, a motivação não foi pessoal, e sim ideológica. O egípcio é favorável à causa palestina e tinha cogitado até mesmo não viajar a Israel, mudando de ideia após a solicitação do clube.
A postura de Salah, aliás, se assemelha bastante com a do grande ídolo egípcio nos últimos tempos, Mohamed Aboutrika. O meia esteve diretamente envolvido com os desdobramentos da Primavera Árabe, especialmente do massacre de torcedores do Al Ahly em Port Said, e já apoiou publicamente os palestinos, exibindo a bandeira do país em uma camisa na comemoração de um gol. Na bola e na cabeça, Salah é o herdeiro do maior craque do Egito.