Vonlanthen: Para suíço ver
A seleção suíça sequer passou da primeira fase da Euro 2004, mas pode se orgulhar de ter atingido um feito importante em Portugal. Na verdade, apenas um jogador foi o responsável por isso. Na derrota por 3 a 0 para a Inglaterra, Wayne Rooney se tornou o mais jovem jogador a marcar um gol em toda a história da competição, considerando-se somente a fase final. Nessa partida, o suíço Johan Vonlanthen nem teve tempo suficiente para suar a camisa, já que entrou em campo a poucos minutos do fim. O melhor estava por vir, na rodada seguinte, quatro dias mais tarde.
Por incrível que pareça, Vonlanthen simplesmente bateu o recorde de Rooney, aos 18 anos e quase 5 meses de idade. O adversário era a França e o resultado foi 3 a 1 a favor da campeã continental daquele momento. Foi o único tento da Suíça nesta edição, mas de uma enorme importância. E quase que o garoto não teve oportunidade de se destacar na Euro. Às vésperas do início, seu ´compatriota´ Marco Streller teve a infelicidade de fraturar a perna e ele foi convocado para ocupar a vaga deixada em aberto.
Copa América poderia ter sido o destino
O personagem desta coluna poderia estar participando da Copa América, no Peru, já que nasceu na Colômbia como sua mãe. Porém, seu padrasto, Roger Vonlanthen, é suíço. Aos 13 anos de idade, mudou-se com ambos para a Suíça, ao lado de seu irmão, após a mãe ter conseguido a nacionalidade do país de origem do marido. Além disso, também teve seu sobrenome alterado. O Benavides saía de cena e dava lugar ao Vonlanthen.
Seu jeito extrovertido facilitou na adaptação aos costumes do local e a fazer amizades. Vonlanthen, que gostava de atuar na posição de goleiro, logo começou a praticar o futebol no ´novo´ continente. Integrou-se ao time juvenil de sua cidade, Flamatt, onde passou a ser escalado como atacante. Em uma liga nacional, marcou muitos gols e foi descoberto pelo Young Boys, o qual firmou um contrato com ele. E a rapidez dos acontecimentos não diminuía. Recebeu a convocação para a seleção suíça sub-16 e, logo em seguida, estreou na equipe principal do seu clube.
Até há um certo tempo, Vonlanthen desejava vestir a camisa da seleção colombiana. Pensando seriamente em defendê-la, decidiu abandonar a seleção européia (na época em que ainda fazia parte das divisões inferiores) para que pudesse ser chamado. Essa atitude não foi muito bem recebida pela população suíça e pela imprensa local. Mas não demorou para que essa idéia fosse esquecida. Os motivos? A ausência de referência dos técnicos colombianos em relação a ele, o passaporte e o nome suíços e o carinho pelo país que lhe deu várias oportunidades. A saudade da Colômbia, no entanto, ainda o acompanha.
A lei que atrasou sua transferência
O Young Boys teve a habilidade de Vonlanthen até a metade de 2003. Naquela ocasião, o PSV conseguiu levar o atleta após muito tempo de espera. O motivo da demora foi uma lei da União Européia que impedia sua transferência até que seus 18 anos fossem completos, pois possuía o passaporte colombiano. Para a sorte do PSV, houve uma alteração na lei, permitindo que a contratação fosse acertada antes do previsto. O contrato é válido até 2008.
Na Holanda, onde Vonlanthen afirma ter crescido como profissional e como pessoa, sua rotina vem sendo levantar do banco de reservas para entrar em campo no decorrer das partidas, a pedido do técnico Guus Hiddink. A boa notícia é que foi concretizada a venda do artilheiro Mateja Kezman ao Chelsea, depois de ter sido artilheiro do campeonato nacional três vezes nas últimas quatro temporadas. Sem dúvida alguma, uma redução considerável na concorrência.
Independentemente de atuar como meia ofensivo ou atacante, seu estilo de jogo é conhecido pela rapidez, pelos passes precisos e pelas finalizações direcionadas. Curiosamente, na Copa de 54, um outro suíço era dono de características muito semelhantes: Roger Vonlanthen.
Mais uma titularidade à vista
Não é só em seu clube que a vaga de titular parece estar próxima. Na seleção também. A saída do veterano Chapuisat (seu ex-colega de Young Boys) e a lesão de Streller conduzem a esse pensamento. Um fator é bem favorável a Vonlanthen: a aposta do técnico Köbi Kuhn, que convocou-o tanto para a Eurocopa como para o Campeonato Europeu sub-21, na Alemanha, disputado pouco antes da Eurocopa. Nele, a Suíça também não teve sucesso e foi eliminada na fase de grupos. Entretanto, Vonlanthen provou novamente ter um futuro promissor. Deixou sua marca uma vez, no empate por dois gols com Portugal, e ajudou sua seleção a conquistar seu único ponto.
Baseado no parágrafo acima, podemos notar a grandeza da confiança do comandante Kuhn. E não acaba aí. Vonlanthen jamais havia sido escalado na seleção principal a menos de duas semanas do pontapé inicial da Euro. Sua estréia aconteceu no dia 6 de junho, quando substituiu Frei no amistoso em que Liechtenstein perdeu por 1 a 0. Portanto, podemos perceber que o jovem subiu rapidamente de categoria. Para o comandante Kuhn, ´´Vonlanthen já revela qualidades técnicas acima da média´´.
Vonlanthen já se naturalizou, disputou uma Copa da UEFA, uma Liga dos Campeões e competições européias entre seleções. Diferentemente do suíço Johann Vogel, seu companheiro de PSV, ainda lhe resta anexar um título ao seu currículo. Se prosseguir dessa maneira, a certeza é de uma carreira exitosa.