Vitesse: Quero ser grande
Roy Makaay, titular absoluto do Deportivo La Coruña, artilheiro isolado do campeonato espanhol, nome certo nas listas de convocação da seleção holandesa e candidato a Bola de Ouro da UEFA. O artilheiro é apenas um dos vários jogadores revelados pelo Vitesse Arnhem – que é um celeiro de jogadores para exportação – e que atualmente faz falta ao clube. O Vitesse vem passando por dificuldades na temporada e ocupa uma das últimas posições na tabela do campeonato holandês.
O SBV Vitesse Arnhem foi fundado em 1892. Era um clube de críquete da cidade de Arnhem, que pouco depois expandiu suas atividades, o que incluiu o futebol. O Vitesse era um clube amador que não se profissionalizou totalmente mesmo quando o profissionalismo no futebol foi introduzido na Holanda, em 1954. Esse foi o motivo do clube ter passado por vários problemas financeiros. Essa atitude de 'semi-profissionalismo' foi a causa do Vitesse ficar num sobe-e-desce entre a primeira e segunda divisões da Holanda entre os anos 50 e 80.
'Um por todos e todos por um'
Essa clássica frase dos três moqueteiros resumiu o desejo do Vitesse: deixar de ser apenas um pequeno clube de uma pequena cidade para se tornar um grande time da Holanda.
Mas o clube da cidade de Arnhem teve que ir quase à bancarrota para fazer as mudanças necessárias a atingir seu objetivo. Foi então que um novo regime foi instituído em 1985, para que o clube pudesse respirar financeiramente. Sob a liderança de Karel Aalbers, o Vitesse introduziu uma estrutura nova no clube ao nomear um novo comitê executivo e instituir a rotação de gerência.
A primeira grande mudança de Aalbers foi separar os jogadores profissionais dos amadores: os primeiros tornaram-se parte da Associação Profissional de Futebol de Vitesse e os últimos continuaram, separadamente, fazendo parte do AVC Vitesse 1892. O regime novo não mudou apenas a estrutura amadora do clube, mas também transformou o ideal do outrora pequeno time de Arnhem.
Em 1989, o clube foi novamente promovido para a primeira divisão holandesa, e Karel Aalbers continuou fazendo mudanças significativas. Ele percebeu que o minúsculo estádio Nieuw Monnikenhuize era pequeno demais para seus planos de expansão. No mesmo ano foram apresentadas as primeiras plantas de um estádio multifuncional moderno, seguro, limpo e confortável.
Gelredome: estádio, casa de shows e shopping
Nove anos depois das plantas serem apresentadas, foi inaugurado o Gelredome, pondo em prática a política do Vitesse de ser mais que um pequeno clube de esportes regional. A proposta de estádio multifuncional e ultra-moderno não ficou só no papel. O Gelredome, embora não seja tão grande como os estádios dos maiores clubes da Europa, é um dos mais modernos do mundo e uma atração à parte.
Foi o primeiro a ter um campo de futebol móvel. Em poucas horas, o estádio de futebol pode ser transformado num confortável palco para grandes shows. Outra característica impressionante é a cobertura retrátil que o Gelredome possui. Além de palco de futebol e de shows, o estádio do Vitesse também possui um shopping que circunda o campo, o que atrai também mulheres e crianças aos jogos.
O estádio não esqueceu o ar de conforto projetado em 1989. Foi instalado um sistema avançado de condicionamento de ar para que no verão o Gelredome ficasse refrescante e no inverno, aconchegante com o aquecimento. Completando o pacote de medidas de conforto, há um suporte especial para o transporte desenvolvido pelo clube.
Negociar para não falir
Durante a construção do estádio, o Vitesse acrescentou à política do clube o investimento nas divisões de base para permanecer na elite do futebol holandês e espantar de vez o fantasma da falência para longe de Arnhem. O clube estabeleceu como alvo promover pelos menos dois garotos por ano ao time principal. Na temporada 1999/2000 foram investidos mais de US$ 4 milhões nas categorias amadoras.
A Vitesse Youth Academy – a sub-divisão do clube que cuida da 'produção' de jogadores de futebol – fornece educação escolar e treina meninos entre 12 e 18 anos nas categorias amadoras de futebol do clube. A venda de jogadores tem sido importante fonte financeira para o Vitesse Arnhem. Além de Roy Makaay, formado no clube e vendido para o La Coruña, recentemente as negociações de Sander Westerveld e Pierre van Hooijdonk, jogadores da seleção holandesa, ajudaram a encher os cofrinhos do clube.
A continuidade de Karel Aalbers no comando do Vitesse Arnhem trouxe resultados outrora inimagináveis para o clube holandês. O orçamento do time aumentou 45 vezes, e a média de torcedores por jogo pulou de 800 para 25 mil. O Vitesse se fixou na primeira divisão na década de 90 e conseguiu se firmar como um dos cinco melhores da Holanda, garantindo durante quase dez anos seguidos uma vaga na Copa UEFA. A inauguração do Gelredome, em 1998, foi o auge do período de ouro do clube.
Tudo que sobe tem que descer?
Ultimamente parece que esse ditado popular brasileiro vem assustando o Vitesse. Depois de passar uma década sempre no topo da Dutch Holland Casino Eredivisie, a primeira divisão holandesa, na temporada atual o time está amargando o pé da tabela.
Na 16ª colocação, o Vitesse está sofrendo o risco de ser rebaixado após 15 anos na elite holandesa. O investimento na revelação de jogadores para negociação trouxe a prosperidade financeira para o clube. Porém, levou jogadores como Makaay, Westerveld e Van Hooijdonk, que se ainda estivessem no clube poderiam tirá-lo da lamentável situação atual.