Triestina: Série A – Trieste vem aí…

Só de história, Trieste já suscita interesse. Fundada por romanos em 180 a.C., Tergeste, como era chamada, passou boa parte de sua existência sob o domínio do Império Austro-Húngaro. Sua localização é uma boa parte da explicação. A cidade fica à beira do Golfo de Trieste, banhada pelo Mar Adriático. É a cidade mais próxima da Iugoslávia, localizada entre Veneza e Istria e com sua província tem cerca de 260 mil habitantes.
Historicamente é um grande mosaico da evolução social neste últimos 2 mil anos, com monumentos romanos, medievais e renascentistas. Entre invasões turcas, epidemias devastadoras (só de cólera, foram cinco) e domínio austríaco (durante 600 anos), a cidade sempre foi um ponto de referência na região.
E agora, em 2003, Trieste pode ver sua equipe de futebol jogar na Série A pela 26ª temporada, quebrando um jejum de quase 43 anos sem atuar na divisão máxima do futebol italiano. Superando 'potências' da Série B como Vicenza, Napoli, Sampdoria e Verona, a Triestina lidera o torneio 'cadetto' desde seu início e é o time mais regular até agora.
Trieste volta para a Itália; nasce a Triestina
Com o final da Primeira Guerra Mundial, a cidade de Trieste voltou ao comando da Itália, que existia unificada há poucas décadas, em 1918. Em dezembro daquele ano, numa reunião ocorrida no Caffé Batisti, aconteceu a fusão entre Trieste e Ponziana, originando a Triestina Calcio.
O primeiro ato foi a construção do campo de Montebello. Até meados da década de 50, a Triestina não conheceu a Série B. Na década de 30, quem brilhou no time foi Nereo Rocco, que com 117 aparições foi o primeiro astro que envergou as cores 'biancorossi'. Com Pasinati e Colaussi, foi protagonista naquele decênio, chegando a ser artilheiro na temporada 1933/4 (17 gols).
Durante a Segunda Guerra, os problemas enfrentados pelos 'allabardati' foram os mesmos de todas as equipes italianas. Logo após a guerra, a Triestina se safou da Série B pela primeira vez graças a uma ajuda da Federcalcio: não foi rebaixada por ser 'patrimônio moral' da Itália (bem CBF, não?). A recuperação veio logo. Em 1946/7, deu-se a melhor pontuação da Triestina em sua história. Vice-campeã, atrás somente do poderoso Torino, imbatível, de Valentino Mazzolla. Rocco ainda faria mais alguns grandes campeonatos antes de ir dirigir o Milan, onde também fez história.
Em 1949, o acidente aéreo que matou todo o time 'granata', a 'tragédia de Superga', levou também dois ex-craques do clube de Trieste: Grezar e Ballarin. Como toda a Itália, Trieste chorou os mortos do acidente de Turim com lágrimas amargas.
Mas quando caiu pela primeira vez, no final da década de 50, a Triestina iniciou um longo período nas divisões inferiores, passeando entre a Série B e as divisões amadoras do futebol italiano. O clube chegou a militar na Série D (quarta divisão) e somente na temporada corrente é que se prepara para voltar a uma posição de protagonista.
2002: 4-3-3 bem-sucedido
Hoje em dia, a Triestina joga no imponente estádio Nereo Rocco, uma homenagem a sua figura mais importante. No 'Rocco', até a seleção italiana joga com alguma freqüência, sendo o local onde foi marcado o milésimo gol da seleção, anotado por Christian Vieri. Mas, hoje em dia, o que a torcida local quer saber é da Triestina, que voltou a ser uma paixão.
O time montado por Ezio Rossi para a temporada não tem nenhum craque espetacular. Aliás, o próprio Rossi é um treinador que já andou perambulando por equipes de pouca expressão. O fato que chama a atenção é o esquema, um 4-3-3 que, na Itália, é considerado 'ultrapassado' e vinha sendo defendido somente pelo técnico 'maldito' Zdenek Zeman.
Fava, o atacante-artilheiro da Triestina, é o 'astro' do time (se é que pode ser chamado assim). Aproveita a vantagem numérica dada pelo terceiro atacante para sempre ficar sozinho com seu marcador. Seu nome foi cogitado até mesmo para aportar em times da Série A, mas seu cartaz não é tão grande. O maior segredo da Triestina é mesmo o conjunto.
Como também na maior parte do tempo, no passado, o time não conta com atletas espetaculares. Outro nome que chama a atenção é do defensor Domenico Maietta, de 21 anos, um dos mais promissores da nova geração. Contudo, seu passe pertence à Juventus, que o emprestou à Triestina. Outra promessa é Éder Baú, atacante que se formou nas filas do Milan.
Trieste também se orgulha de ser a cidade de Cesare Maldini, um dos maiores zagueiros italianos de todos os tempos e pai do capitão do Milan, Paolo Maldini. O clã mais famoso do futebol italiano tem raízes triestinas. Neste caso, podemos fazer uma exceção à ausência de craques de Trieste.