Tecos: Não é um dramalhão mexicano

Um sonho de um jovem estudante. Assim começou a história do Club de Fútbol Tecos de la Universidad Autónoma de Guadalajara (mais conhecido como UAG). Auxiliado por seus colegas, Antonio Leaño Reyes levou a idéia de formar um time profissional de futebol até a diretoria da universidade.

Não muito tempo depois, a equipe estreou na liga profissional da 3ª divisão, na temporada 1971/2. No total, 20 jogadores faziam parte do elenco, comandados pelo uruguaio Donald Ross. Devido ao fato de os jogadores serem estudantes, os treinos e as viagens eram prejudicados pelas provas que eles tinham de fazer na universidade. Com isso, os resultados iniciais não foram tão animadores.

Na temporada seguinte, conseguiram seu primeiro grande feito: o acesso para a segunda divisão mexicana. Para disputar tal campeonato, o UAG se viu na necessidade de ter jogadores mais experientes. Então, trouxe Felipe de Loza, Arturo Gómez e Guillermo 'Didi' González, entre outros.

O UAG começou a temporada 1974/5 empolgado com a quinta colocação no campeonato anterior e com o pensamento de chegar à primeira divisão. Após ser disputada a última rodada, o UAG e o Irapuato se encontravam empatados em número de pontos, tendo assim que haver uma partida extra. Com um gol de Salvador Barba, o UAG ganhou o jogo e, pela primeira vez, disputaria a primeira divisão.

A diretoria começou a viajar pela América do Sul em busca de reforços, até que no Chile contratou alguns jogadores, como os selecionáveis Sérgio Ahumada e Miguel Angel Gamboa.

No dia 3 de setembro de 1975, debutou, numa partida contra o Puebla. Porém, a primeira vitória só veio aparecer um mês e meio depois, no Estádio Jalisco, com um 2 a 0 contra os Gallos Blancos. Na metade daquela temporada, chegou ao comando técnico o argentino Carlos Timoteo Grigoul, o qual treinou o Rosario Central durante nove anos. Junto com ele, vieram Raúl Basurto do Cruz Azul e Alejandro Ojeda do América. Nas quartas-de-final da competição, o UAG foi eliminado pelo América, mas deixou uma boa impressão para seus torcedores.

O palco

Não se imaginava que o Estádio Tres de Marzo seria, em tão pouco tempo, um local de jogos da elite do futebol mexicano. Foi construído em 1971 para sediar as partidas do UAG, que disputava a terceira divisão na época (levando no nome a data de fundação da Universidad Autónoma de Guadalajara). Inicialmente, tinha espaço para receber apenas 3 mil torcedores. Quando o UAG conseguiu os acessos à segunda e primeira divisões, o clube teve que atender às exigências da confederação mexicana, e algumas reformas tiveram que ser realizadas, incluindo o aumento da capacidade, que chegou a 22 mil espectadores em 1975.

Para abrigar jogos da Copa de 86, mais mudanças foram necessárias. Ao término delas, o então secretário da FIFA Joseph Blatter (atual presidente da organização) chegou a dizer que era o melhor estádio do país e um dos mais funcionais do mundo.

Chegando ao topo

O título mais esperado da história do clube só veio a ser conquistado na temporada 1993/4. O UAG conquistou 51 pontos na primeira fase, classificando-se em primeiro lugar para a próxima etapa, tendo no elenco, entre outros, os brasileiros Gonçalves e Donizete (que seriam campeões brasileiros pelo Botafogo em 1995) . Nas quartas-de-final, enfrentou o Morelia, vencendo as duas partidas. Nas semifinais, eliminou o fortíssimo América. Na primeira partida final, contra o Santos, perdeu por 1 a 0. No jogo de volta, um gol contra do Santos levou a decisão para a prorrogação. Coube ao 'Pantera Negra' Donizete marcar o gol do título inédito. O técnico Manuel Vucetich comandou o time na vitoriosa campanha. Vários foram os recordes do UAG naquela temporada: teve o melhor ataque, com 49 gols marcados, a melhor defesa, com apenas 26 gols sofridos, e ainda teve o belo feito do goleiro Alan Cruz, que ficou 737 minutos sem levar gol.

A partir do ano de 1996, o campeonato mexicano passou a ser dividido em dois: o Invierno (de agosto a dezembro) e o Verano (de janeiro a maio). Nomes conhecidos chegaram como reforços: o camaronês David Embe (que jogou a Copa do Mundo de 94) e o brasileiro Amarildo, que atuou em diversas equipes, dentre elas o São Paulo, em 1995.

Para o Torneio de Inverno de 1999, veio o uruguaio Sebastián 'El Loco' Abreu. No Torneio de Verão de 2000, ele atingiu a marca de 14 gols, tornando-se o artilheiro da competição. Após passagens por clubes importantes como o Grêmio de Porto Alegre, o La Coruña e o Nacional de seu país, disputou a Copa do Mundo de 2002.

Personagens e curiosidades

No campeonato mexicano de 1980/1, a equipe ficou 20 jogos sem conhecer a derrota. Um recorde que permanece até hoje.

Em 1986, o atacante Javier 'Chícharo' Hernadez, revelado no UAG, foi convocado para a seleção mexicana que disputaria a Copa do Mundo no próprio país.

Dois grandes jogadores da seleção uruguaia fizeram parte do elenco do UAG nos anos 80: Antonio Alzamendi ajudou a equipe a chegar às semifinais pela primeira vez. Depois, mais tarde, chegou Carlos 'Pato' Aguilera, que venceu seis campeonatos uruguaios e a Copa América de 1983, entre outros títulos. Ambos os jogadores disputaram as Copas de 86 e 90.

O sérvio Bora Milutinovic assumiu o comando técnico da equipe no início do campeonato de 1988/9. Teve que deixar o time devido a compromissos com a seleção da Costa Rica, que participaria da Copa de 90, na Itália. O mesmo Bora já havia sido treinador da seleção mexicana na Copa de 86. Em 94, ele comandaria os norte-americanos na Copa; em 98, na França, seria o técnico da Nigéria e, na primeira Copa do Mundo deste milênio, em 2002, foi o técnico da China.

O ex-técnico do Santos Futebol Clube, Chico Formiga, campeão paulista de 1978 com a equipe do litoral, chegou ao México para dirigir o UAG no campeonato 1990/1.

Inverno quente

Atualmente, o UAG vem se destacando no Torneo Invierno, com grande ajuda do treinador uruguaio Eduardo Acevedo, um ex-jogador do clube. Ele chegou para assumir a equipe na metade do ano, encontrando um elenco desanimado com a última colocação no campeonato do primeiro semestre, com apenas uma vitória (em cima do campeão Toluca) em 19 jogos. Um recorde negativo para o clube, que chegou a ter três técnicos diferentes num período em que perdeu 10 partidas consecutivas (entre eles o argentino Oscar Ruggeri, campeão do mundo em 86 e vice em 90).

O time conseguiu se reerguer e é o líder do grupo três, com 14 pontos. Na classificação geral, tem o mesmo número de pontos do Irapuato, porém, perde no saldo de gols (5 contra 3). Os principais artilheiros do clube são: Eliomar Marcón (gaúcho de Porto Alegre), José Alfredo Castillo (boliviano de 21 anos, convocado para as duas primeiras rodadas das eliminatórias sul-americanas para a Copa de 2006) e Mirsha Serrano. Todos eles têm dois gols cada.

A perspectiva é boa para os Tecos de Guadalajara, uma equipe que se mostrou muito forte num momento ruim. Subiu das trevas aos céus em pouquíssimo tempo e agora não aparenta que irá dar brechas para os adversários com a atual campanha.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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