Saprissa: Da sapataria para o mundo

Tão logo começara, parecia que a Copa dos Campeões da Concacaf iria se limitar a mexicanos e americanos. Nas três primeiras partidas das quartas-de-final, Pumas, Monterrey e DC United confirmaram essa tendência, até que o Deportivo Saprissa eliminou o Kansas City Wizards e pôs fim àquela que seria uma verdadeira festa anglo-mexicana.
E para quem está pensando que os costarriquenhos são apenas mais uma zebra ambulante, fica o informe: o Saprissa foi campeão nas edições de 1993 e 1995 e é o atual vice-campeão do torneio. Portanto, é bom não considerá-lo como carta fora do baralho. “Não dividam nada enquanto o Saprissa estiver vivo”, dizia Don Jorge Guillén, ex-presidente do clube.
As origens
Semelhante a vários dos clubes de futebol espalhados pelo mundo, a origem do Saprissa remonta a lugares dos mais esquisitos.
Foi dos fundos de uma sapataria em San José, na Costa Rica, que o clube surgiu em 16 de julho de 1935. Idealizado por Roberto Fernandez, partiu dele também a sugestão para o nome. Durante uma reunião com os demais membros da equipe, ‘Beto’ Fernandez informou que Ricardo Saprissa (benfeitor do clube) se encarregara de conseguir os uniformes. Pronto, estava decidido o nome: Saprissa FC.
Ingressando no ano seguinte na terceira divisão do campeonato local, foi apenas em 1949 que os Morados conseguiram acesso à elite nacional. Daí para frente, o Saprissa construiu uma honrosa história dentro do país, conquistando 23 títulos e 15 vice-campeonatos.
Todavia, o feito que ainda hoje eleva a imagem do clube e que orgulha seus torcedores ocorreu bem além dos limites da Costa Rica.
No ano de 1959, o Deportivo Saprissa cravou seu nome na história, ao ser o primeiro time latino-americano a dar a volta ao mundo, antes mesmo de algum sul-americano ou mexicano.
Partindo a bordo do avião ‘Holandês Voador’ no dia 29 de março, os Morados passaram por 25 países nos cinco continentes, percorreram 59.055 quilômetros e, depois de 74 dias, em 10 de junho, retornaram à Costa Rica.
E para uma maior surpresa, o Saprissa esteve longe de ser um saco de pancadas nessa excursão e obteve o dobro de vitórias em relação às derrotas. Foram 14 vitórias, 1 empate e sete derrotas.
Costume de ser campeão
Para aqueles que costumam torcer um time em cada país, o Deportivo Saprissa é uma boa opção na Costa Rica. Ele pode lhe render constantes momentos de alegria, tendo em vista que é incomum o time passar mais de três anos sem títulos.
Desde sua estréia na primeira divisão, em 1950, já contam cerca de 53 campeonatos, e uma imbatível marca de 23 títulos. Ou seja, uma média de um a cada 26 meses.
E das vezes em que disputou e não se sagrou campeão, em 15 delas conquistou o vice. Portanto, quando entra na disputa, o Saprissa tem 71% de chances de se posicionar entre os dois melhores do país.
Para nós, que vemos tudo isso com certo distanciamento e estamos mais acostumados ao futebol europeu, fica a desconfiança: “Ah, não precisa ser nenhum Chelsea, Milan ou Lyon para conquistar tantos títulos nesse campeonato”, e assim acabamos por desmerecer tal façanha.
Mas faço um desafio: tente imaginar as rivalidades nacionais, as torcidas, a imprensa local. Será que é fácil conseguir tal superioridade?
´Vergaralização´
Apesar de ter a maior torcida do país e possuir o maior número de títulos nacionais, o Deportivo Saprissa não ficou alheio ao mal que assola dezenas de times de todo o continente: as dívidas.
Excesso de dívidas e escassez de dinheiro fizeram com que o clube estivesse em vias de fechar, até que o empresário mexicano Jorge Vergara (proprietário do Guadalajara e das Chivas USA) entrasse na parada e quitasse todas as dívidas.
Com menos de dois meses após ter tomado posse, Vergara já havia sanado a principal pendência que ameaçava o fechamento do clube, a dívida com a Receita Federal.
Desde que assumiu a presidência do Saprissa, vale ressaltar dois feitos de Vergara. O primeiro ato é comum a seus clubes, e visa valorizar os talentos nacionais. O Guadalajara é o único clube mexicano que não conta com a participação de jogadores estrangeiros, sendo o mesmo percebido no Saprissa, que é o único time da Costa Rica composto apenas por valores nacionais.
O outro destaque da ‘era Vergara’ é o êxito obtido na Copa dos Campeões da Concacaf. Mesmo que tenha perdido a final em 2004 para o principal rival, o Alajuelense, não se deve considerar o resultado como um fiasco. E para repetir a façanha nesta edição de 2005, o clube disputará uma vaga na final nas próximas semanas, contra o Monterrey.