Santo André: Mais uma força do ABC
2003 termina com um saldo positivo para o Santo André. Em janeiro, o time conquistou a Taça São Paulo de futebol junior. Em dezembro, o time foi o vice-campeão da Série C, subindo para a segunda divisão do futebol brasileiro.
O Santo André nasceu em um quarto escuro, iluminado apenas pelas luzes de algumas velas. O clube não é do tempo em que os lampiões iluminavam as casa do Brasil, mas na noite de 18 de setembro de 1967, uma forte chuva castigou a cidade paulista, deixando seus moradores sem energia. A idéia inicial era que a cidade de Santo André precisava de um time forte para rivalizar com as outras cidades do interior do estado, como Campinas e Ribeirão Preto. Logo o time ficou conhecido como Ramalhão, em homenagem a João Ramalho, fundador da cidade. Apenas em janeiro de 1968 o Santo André Futebol Clube tornou-se um clube profissional. Mesmo assim, o clube não jogou nenhum campeonato oficial, pois não havia mais tempo para inscrições naquele ano.
O Rei como padrinho
O primeiro jogo do time só aconteceu em 8 de abril, aniversário da cidade, contra ninguém menos que o Santos (que jogou sem alguns de seus astros). E foi justamente um ex-santista o primeiro técnico do Santo André: o ex-goleiro Manga. Além do nascimento do novo time, a festa também era para Pelé, pois foi exatamente no estádio Américo Guazzelli onde o 'Rei' marcou seu primeiro gol como profissional, no dia 7 de setembro de 1956. O camisa 10 não jogou, mas participou da festa e assistiu à derrota de seu time da arquibancada. Isso mesmo, em seu primeiro jogo, o Ramalhão bateu o Santos por 2 a 1. “Esse time vai longe”, declarou o Pelé após a partida, quando recebeu uma placa em sua homenagem.
Para poder participar de campeonatos oficiais, o clube precisaria indicar um estádio onde mandaria seus jogos. O clube alugou o Américo Guazzelli, que pertencia ao Corinthians de Santo André, e estreou na segunda divisão de profissionais, com um 0 a 0 com o Derac de Itapetininga. Em dezembro de 1969, a cidade inaugurou um estádio municipal, que o clube utiliza até hoje para mandar seus jogos.
O início da década de 70 foi difícil para o clube, principalmente porque nesse período não havia acesso nem descenso no futebol paulista, fazendo com que os jogos dos times pequenos valessem pouca coisa. Mesmo assim, o time tinha no banco um grande nome: Lula, bicampeão mundial pelo Santos. Em outubro de 73, o estádio municipal ganha o nome de Bruno José Daniel, ex-goleiro do Primeiro de Maio e ex-prefeito da cidade. Bruno Daniel era pai do também ex-prefeito da cidade Celso Daniel, morto no ano passado.
As dificuldades econômicas eram enormes, e o clube quase foi obrigado a fechar as portas em 75, até que o empresário Acyr de Souza Lopes apareceu na história do Ramalhão. Acyr disse que sanaria todas as dividas do clube, mas ele teria que mudar seu nome para Associação Atlética São Justo. Após algumas reuniões, ficou definido que o novo nome seria Esporte Clube santo André. A oficialização do contrato aconteceu em 22 de março de 1975. Recentemente, o conselho deliberativo oficializou essa data como a de fundação do clube.
Os títulos
Com os problemas resolvidos, o Santo André disputou a Série B do Paulista em 1975. O time foi campeão do grupo 1 e se classificou para disputar a final. Após o empate sem gols fora de casa, o Ramalhão venceu o Catanduvense por 2 a 0, gols de Tulica e Souza, conquistando seu primeiro título. Em 76, volta o acesso no Paulista. Em um campeonato com 41 times, o Santo André chega ao quadrangular final, mas perde a vaga na primeira divisão para o XV de Jaú.
O time do ABC voltou a chegar perto da primeira divisão em 79, sob o comando de Sebastião Lapolla. No quadrangular final, levou mais de 20 mil torcedores em um jogo decisivo contra a Esportiva de Guaratinguetá, no Pacaembu. O Ramalhão venceu por 1 a 0, mas não subiu, pois na mesma noite o Tabuaté ganhou do São José e ficou com a vaga. Mesmo assim, a partida fica na história do Santo André até hoje, pelo número de torcedores que foram ao Pacaembu. O único time do interior que conseguiu levar mais torcedores ao estádio foi o São Caetano, na final da Copa Libertadores, em 2002.
Em 1980, o clube passou por novas dificuldades, quando surgiu o Conselho de Salvação, grupo de torcedores que assumiu o comando do clube. Em 1981, o Santo André contava com um bom time e chegou à final da segunda divisão contra o XV de Piracicaba. Seriam três jogos disputados no Palestra Itália. Os dois primeiros terminaram empatados por 1 a 1. No terceiro, o Ramalhão, novamente com Lapola no comando, venceu por 3 a 1, conquistou o título e o direito de ir para a primeira divisão. Na série A de 1982, o time estreou com uma derrota de apenas 1 a 0 para o São Paulo. O Santo André terminou o campeonato na 17ª posição, a apenas um ponto do rebaixamento.
1983 foi um dos melhores anos da história do Ramalhão. Com Jair Picerni como técnico, o time ficou em quarto lugar no Paulistão, classificando-se para a Taça de Ouro no campeonato brasileiro. No Brasileirão, ficou em 10º lugar, chegando até a terceira fase da competição.Também nesse ano, o Ramalhão teve seu primro jogador convocado para a seleção: Rotta. Alguns astros do futebol, como Luis Pereira e Vladimir, vestiram a camisa azul em 86. Com eles em campo, o Santo André ficou na sétima colocação no campeonato paulista. No final da década de 80, o clube começa a construir seu centro poliesportivo. Dentro de campo, o time não tem bons resultados e cai em 1994.
De casa nova, o time volta à primeira divisão
Em 2000, as obras do Poliesportivo foram concluídas, e o retorno à primeira divisão voltou a ser prioridade. Em 2001 o Santo André montou um bom time, que seria comandado por Vagner Benazzi. Após muito sofrimento, o Ramalhão conseguiu retornar à Série A paulista.
2003 começou com título para o Ramalhão. Em uma decisão nervosa contra o Palmeiras, o Santo André surpreendeu, batendo o alviverde nos pênaltis. A comemoração do time do ABC só não foi maior porque no final do jogo o atacante Nunes provocou os palmeirenses imitando um porco. A torcida invadiu o gramado e entrou em conflito com a polícia.
No futebol profissional veio a série C. Por sua estrutura, o Ramalhão logo foi apontado como um dos favoritos. Dentro de campo, o time correspondeu às expectativas: apesar de quase ter sido eliminado na primeira fase, chegou ao quadrangular final. Dias antes do jogo decisivo, que poderia levar o Santo André para a série B do Brasileirão, o técnico Luis Carlos Martins entregou o comando da equipe. Faltando poucos dias para a partida, Luis Carlos Ferreira foi chamado para seu lugar. Ferreira, conhecido como o 'Rei do Acesso', acabara de ter uma bela campanha com o Marília na Série B.
O jogo decisivo foi no Estádio Amigão, em Campina Grande, contra o Campinense. Para delírio dos mais de 40 mil torcedores que lotavam o estádio, o Campinense saiu na frente. A virada veio no segundo tempo, com Tássio e Marcos Dener. Luis Carlos Ferreira confirmou sua fama, levando o time para a Série B. O Ramalhão voltou a sonhar com aqueles grandes títulos, imaginados em uma sala escura, naquela noite chuvosa de setembro de 1967, na cidade do ABC paulista.