Perea: A força do ‘Pitbull’
Durante a infância pobre vivida em uma casa de madeira no bairro Brisa de Cauca, na periferia de Cali, uma das principais e mais problemáticas cidades da Colômbia, Edixon Perea Valencia não poderia imaginar que tão logo completasse a maioridade se transformaria na grande revelação do futebol de seu país nos últimos anos. Aos 21, o centroavante, conhecido como ‘Pitbull’ por seu forte porte físico, acaba de se transferir para o Bordeaux, da França, em busca da afirmação que todo futebolista sul-americano sonha em ter.
O começo
Nascido em 20 de abril de 1984, Edixon Perea iniciou sua trajetória no futebol no Boca Júnior – não o poderoso clube argentino, mas sim a hoje modesta agremiação varzeana de sua cidade natal, que chegou a ser vice-campeã nacional duas vezes: em 1951 e 1952. Profissionalizou-se em 2002, no Huila, clube da primeira divisão do futebol cafeteiro, onde permaneceu por seis meses até se transferir para o Quindio, de Armenia. As duas temporadas em clubes intermediários do campeonato colombiano serviram para que o jogador fosse convocado para as categorias de base da seleção nacional.
Em agosto de 2003, após ajudar a Colômbia a conquistar a quarta colocação nos Jogos Pan-Americanos, na República Dominicana (fez quatro gols na vitória colombiana contra os donos da casa no encerramento da primeira fase, seu recorde pessoal), o ‘Pitbull’ virou o queridinho do país. Os gols e as histórias da infância passaram a ser transmitidos freqüentemente pela televisão colombiana. A boa participação no Pan chamou a atenção da diretoria do Atlético Nacional de Medellín, que o contratou logo em seguida.
Atacante que se destaca pela rápida movimentação e pela boa finalização, tanto com os pés esquerdo e direito (é ambidestro), quanto com a cabeça, apesar de não ser muito alto (1,78m), Perea logo caiu nas graças da fanática e exigente torcida dos Verdes. A qualidade técnica aliada à raça foi um mistura fundamental para que o atleta tivesse uma rápida adaptação ao novo time.
No Nacional, formou dupla de ataque com o experiente Aristizábal, ex-São Paulo, Santos e Cruzeiro. Em 2004, o misto de experiência e juventude de ambos rendeu à equipe o vice-campeonato do Apertura e do Clausura, em decisões contra o Independiente de Medellín, maior rival, e Júnior de Barranquila, respectivamente. No primeiro semestre deste ano, mais uma final do Apertura, desta vez contra o Santa Fé. E o título não poderia escapar pela terceira vez consecutiva. Edixon Perea já havia recebido propostas do exterior, inclusive do Atlético-MG, e conseguiu se despedir de seu país com um título: na final, 2 a 0 para o Nacional. Além do título de campeão, o ‘Pitbull’ ficou ainda com a vice-artilharia do torneio, com 15 gols, um a menos que o companheiro Aristzábal. Com sua saída, os Verdes ocupam apenas a oitava posição no Clausura de 2005.
Pitbull mordendo a concorrência na seleção
Nome constantemente lembrado pelo técnico da seleção colombiana, Reinaldo Rueda, nas convocações para as eliminatórias, Edixon comandou também o ataque dos cafeteiros que conquistaram o terceiro lugar no Mundial sub-20 dos Emirados Árabes, em 2003. Esse foi o melhor resultado obtido por uma seleção colombiana em competições promovidas pela Fifa.
Ao assumir o comando da seleção no início de 2004, Rueda já dava indícios de que Edixon seria uma peça importante em seu projeto de levar a Colômbia ao Mundial – definiu o atacante como “a grande revelação colombiana”. No entanto, o jogador conta com forte concorrência na busca pela titularidade, a principal delas Juan Pablo Ángel, do inglês Aston Vila, de 29 anos. Como um verdadeiro pitbull, Edixon Perea tem aproveitado as chances recebidas no selecionado principal. Em suas oito primeiras participações oficiais, marcou dois gols, ambos de cabeça.
Em busca da afirmação
Edixon Perea se apresentou ao Bordeaux, da França, no dia 18 de julho, junto com o volante argentino Alejandro Alonso, ex-Huracán – ambos assinaram contrato por quatro temporadas. A contratação foi comemorada pelo técnico da equipe, o brasileiro Ricardo Gomes, que reivindicou um jogador para a posição, já que Deivid, ex-Corinthians, Cruzeiro e Santos, transferiu-se para o Sporting.
Ao assinar o contrato, Edixon ficou com a responsabilidade de mudar a estigma de que jogadores colombianos não dão certo no país em que foi inventado o cinema. Alex Viveros (ex-Cruzeiro), Victor Bonilla e Tressor Moreno, entre outros, não conseguiram repetir na França o bom futebol apresentado em outros lugares. As exceções são Carlos Valderrama, folclórico meia que brilhou no Montpellier em 1988 e 1989, e o zagueiro Mario Yepes, que atuou pelo Nantes entre 2002 e 2004, quando se transferiu para o Paris Saint-Germain, onde está até hoje.
Sua estréia pelo Bordeaux, que tenta melhorar a modesta 15ª posição no último Campeonato Francês, aconteceu em 20 de agosto, quando substituiu Darcheville faltando seis minutos para o término da vitória por 1 a 0 contra o Monaco. Sem compatriotas na equipe, Edixon Perea tem a companhia de outros dois sul-americanos no Bordeaux, além de Alonso: os brasileiros Henrique (ex-zagueiro do Flamengo) e Denílson (ex-meia-atacante do Betis).