Oviedo: A maxidesvalorização do Real
O real anda mesmo em baixa no futebol espanhol. Melhor dizendo, o Real. Melhor ainda… os Reais andam mal das pernas por lá. Os ´galácticos´ do Real Madrid jogaram um futebol pra alienígena nenhum botar defeito, perderam até disputa de figurinhas no bafo e decepcionaram a torcida. A Real Sociedad cumpre seu papel eterno, não cheira nem fede na Liga e até andou correndo risco de rebaixamento. O Real Murcia caiu (mas ganhou do Real Madrid!). O Real Betis… sem comentários.
Se na cobertura as coisas vão mal, imagine no porão. É no ´porão´, ou melhor, na quarta divisão, que está alojado o time do Real Oviedo, um clube de relativo sucesso nas décadas de 70 e 80. Hoje, o Oviedo é o retrato do que uma administração desleixada pode fazer de ruim para um clube de futebol. E ainda dizem que nosso futebol é que é bagunçado…
Hablas english?
O Oviedo nunca foi um clube do qual se possa dizer que marcou a história do futebol espanhol e, por extensão, mundial. O clube nasceu em 1903, criado por estudantes de famílias abastadas da cidade de Oviedo que foram estudar na Inglaterra. Lá, ficaram encantados com o futebol e, como nunca tinham visto nada parecido, os estudantes, assim que vieram passar as férias escolares na Espanha, não perderam tempo: montaram o Oviedo Football Club. Não que o futebol, em si, fosse novidade na Espanha, visto que marinheiros ingleses já haviam disseminado o esporte pelas cidades portuárias da Península Ibérica. Tanto é que muitos times se criaram tendo essas cidades como base, por exemplo,o Levante.
Com o tempo, o futebol foi conquistando cada vez mais adeptos, desbancando em popularidade a corrida de touros que, até então, era o supra-sumo em popularidade (e, afinal, alguém já viu um touro fazer gol de bicicleta?). Com tanta popularidade, outros clubes começaram a aparecer, e fez-se necessário que alguém colocasse ordem na casa. Criou-se, então, a federação de futebol e foram organizados os primeiros campeonatos com regras e tudo mais. Tudo isso trouxe a reboque, também, a rivalidade entre torcidas. No caso da cidade de Oviedo, então, a coisa complicou de vez.
Unidos venceremos!
Imagine a cidade de São Paulo depois de um Corinthians x Palmeiras e você vai ter uma leve dimensão do que era Oviedo quando um dos dois times da cidade ganhava o jogo. Segundo descrições da época, “travavam-se verdadeiras batalhas campais, com desdobramentos para além do campo da partida”. Para evitar mais tumulto e agressões, decidiu-se que os dois times da cidade se fundiriam em um só. Assim, o Real Staduim Club Ovetense e o Real Club Deportivo de Oviedo uniram-se no Oviedo Football Club, nos idos de 1926. Além do aspecto pacifista, a união tinha como objetivo criar um time capaz de medir forças com as equipes da província. O nome ´Real´ foi adicionado um mês depois, para fazer jus aos times que deram origem ao Oviedo.
Tudo muito bonito, tudo muito bacana, muita festa, tapinha nas costas mas e o futebol? Bom… aí, é outro departamento. Na estréia da nova agremiação, um chocolate de 7 a 4 para o Arenas Club. Bem, levando-se em conta que o adversário do Oviedo era o fnalista da Copa da Espanha de 1925, até que dá pra aceitar. Depois de lamber as feridas, o Oviedo entrou com tudo no campeonato regional de 1926/7, marcando oito gols nos três primeiros jogos, o que levou a torcida a cunhar a expressão ´La Tasa´, a taxa, para ilustrar o feito do time.
Em 1929, foi criado o campeonato espanhol, com duas divisões. A primeira era composta por nove campeões da copa da Espanha, entre eles Atlético de Madrid, Real Madrid e Barcelona. Para compor uma primeira divisão com dez times, resolveu-se fazer um ´mata-mata´ com os melhores colocados dos campeonatos regionais. O Oviedo venceu o Iberia, mas não deu sorte contra o Betis e acabou indo para o grupo Norte da Segunda divisão – onde, por sinal, não esquentou lugar por muito tempo. O time sagrou-se campeão na tmeporada 1932/3, vencendo o Atlético de Madrid por 5 a 1 na penúltima rodada. Destaque para a linha de ataque formada por Casuco, Lángara, Cale e Inciarte, chamada pelos torcedores de ´La Elétrica´.
Saldos de guerra
O futebol na Espanha sofreu um hiato de três anos (1936 a 1939) devido à Guerra Civil espanhola. Assim que o conflito acabou, o Oviedo continuou na primeira divisão, visto que ficara decidido que nada mudaria no futebol ibérico devido ao conflito. Registre-se que foi o único clube a ter um lugar reservado na primeira divisão, uma ´compensação´ pelo fato de seu campo de jogo ter virado base militar durante a guerra. Manteve-se no ´andar de cima´ até a temporada 1949-50, quando foi rebaixado. A queda não doeu tanto quanto a morte de Dom Carlos Tartiere. Presidente do clube por 25 anos, Tartiere era uma das figuras mais emblemáticas do clube. Como homenagem, o novo estádio do clube leva seu nome, assim como o antigo estádio, hoje demolido, também levava.
A partir daí, o que se vê na história do Oviedo é uma sucessão interminável de acessos e descensos. Como numa interminável montanha russa, o clube ora está no topo, ora no fundo, sem conseguir apresentar um futebol capaz de mantê-lo na primeira divisão. E assim seria nas três décadas seguintes: a mesma luta pra não ser rebaixado ou para voltar a elite. Para se ter uma idéia,as únicas alegrias dos torcedores do Oviedo foram a inauguração da iluminação do estádio, em 1969, e os acessos a elite na década de 70!
Na calçada da fama… e de volta à lama!
No fim dos anos 80, as coisas pareciam entrar nos eixos para o Oviedo. Sob o comando técnico de Radomir Antic, o time tomava jeito. Já em 1987/8, estava – mais uma vez – de volta à primeira divisão.
Porém, o encanto durou só até a temporada de 1996/7. O desmonte do time, que contava com o atacante panamenho Dely Valdés, somado à má administração e a crise econômica gerada pela má versação dos recursos do time jogou o Oviedo novamente na segunda divisão. Mas havia mais um rebaixamento à vista… e ele chegou com pompa e circunstância na temporada 2001/2. A crônica de um rebaixamento anunciado teve seu capítulo final na última rodada, quando o time perdeu em casa para o modesto Elche, por 6 a 3. Por pouco, não houve uma tragédia, com a torcida revoltada invadindo o campo, acusando os jogadores de fazerem corpo mole para provocar a derrota. Sem contar o presidente Eugenio Prieto, acusando ´certos setores da imprensa´ de planejarem e fomentarem o tumulto no estádio…
Pra piorar (mais?) ainda, após esse descenso para a divisão 2B, ainda veio um outro rebaixamento no mesmo ano, devido à falta de pagamento de alguns jogadores que registraram queixa na federação espanhola. Além disso, o FIFA impôs uma sanção ao time, pela falta de pagamento na transação jogador Martinovic.
Hoje, o Oviedo está na quarta divisão do Espanhol, enterrado por uma crise financeira sem precedentes. Aos torcedores, resta lembrar com carinho de Dely Valdés, Estebán, Onopko e tantos outros que faziam as tardes oviedenses mais alegres. Quem disse que má administração futebolísitica é esclusividade brasileira?