Olympique de Marselha: O rei quer seu trono de volta
Quando Basile Boli ergueu a taça da Liga dos Campeões, em 1993, ele finalmente colocava um clube francês na elite européia. O Olympique de Marselha tornava-se o primeiro time da França a conquistar esse título, após derrotar o todo-poderoso Milan de Fabio Capello, no dia 26 de maio. Mas se Boli marcou o gol da conquista inédita, o presidente Bernard Tapie cuidou de macular a honra marselhesa com um escândalo de suborno.
Título cassado, rebaixamento para a segunda divisão e o orgulho ferido. Passados dez anos, o Olympique vem aos poucos sedimentando seu retorno. Em seu último passo, conseguiu voltar à competição interclubes mais importante da Europa tentando recuperar seu prestígio – e a taça.
O período mais glorioso – e que terminaria como o mais tenebroso – dos marselheses teve início em 1986, com a chegada de Bernard Tapie. Na época, o Olympique amargava campanhas pífias, pois caíra para a segunda divisão na temporada 1979/80 e por lá ficou quatro anos até ser promovido.
De volta ao grupo de elite, ficou a um passo de novo descenso em 1984/5 (17º) e terminou 1985/6 em 12º. Tapie reforçou a equipe, mas apenas um nome seria suficiente para determinar a virada: Jean-Pierre Papin. O atacante permaneceu em Marselha entre 1987 e 1992 e marcou 121 gols pelo Olympique na liga nacional.
Em apenas um ano, o Olympique chegaria em segundo na liga francesa, atrás apenas do Bordeaux, que também lhe roubaria o título da Copa da França. Em 1987/8, uma campanha apenas regular; mas 1988/9 representou o fim de um longo jejum de 27 anos sem ganhar o título nacional, feito que repetiria por mais três temporadas consecutivas.
Da glória ao limbo – e a volta por cima
Chegamos de novo em 1993. O Olympique enfrenta o Valenciennes, em jogo da 36ª rodada da liga nacional, poucos dias antes do triunfo diante do Milan. Vitória marselhesa por 1 a 0; resultado que lhe ajudaria a conquistar o penta francês, mas que se revelou desastroso. O triunfo foi conquistado graças a uma 'ajudinha' financeira, oferecida pelos dirigentes do Olympique a três jogadores do Valenciennes.
A trama foi descoberta. A UEFA tomou sua decisão em 6 de setembro: suspendeu o direito dos marselheses de disputar a Liga dos Campeões seguinte, a Supercopa e a Copa Intercontinental, declarando o Milan como o representante europeu na disputa contra o São Paulo, em Tóquio.
Na liga francesa, em 1993/4, mesmo tendo que se desfazer de seus astros, o clube terminaria como o vice-campeão. Entretanto, em 22 de abril, o Conselho Federal Francês concluiu suas investigações e declarou suas sanções: suspensão do título nacional de 1993 e o rebaixamento para a segunda divisão.
Sem dinheiro para trazer reforços, o jeito foi apostar na velha formula do 'bom e barato'. O Olympique terminou em primeiro, mas não pôde subir ainda. Em 1994/5 ficou em segundo, conseguindo então a credencial para voltar à divisão principal. Começaria outra longa caminhada.
Em 1996/7, apenas o 11º lugar. Na temporada seguinte terminou em quarto, dando-lhe a chance de disputar a Copa UEFA. Em 1998/9 foi vice e retornou à Liga dos Campeões. Seguem duas temporadas à beira do rebaixamento, quando terminou em 15º. Em 2001/2, um modesto nono lugar. Na temporada passada, o terceiro lugar abriu-lhe novamente as portas para a Liga dos Campeões.
Chegada pelo porto
O Olympique já é um clube centenário. Em Marselha, cidade litorânea localizada no sudeste francês, à beira do Mediterrâneo, o futebol chegou pelo mar, obra dos ingleses que ali desembarcavam para trabalhar e traziam em suas bagagens seus jogos com bola. Os mais populares eram o rúgbi e o football association. Em 1895, foi disputado o primeiro jogo de futebol na cidade.
Logo o Sporting Club de Marselha incorporou o futebol a suas atividades, mas o SCM se dissolveu em 1897. Sua extinção mobilizou os marselheses para criarem outra sociedade esportiva, o que originou o Football Club de Marselha. Primeiramente, o FCM se dedicava ao rúgbi, mas também passou a praticar o futebol após fundir-se com um clube de esgrima (!). Nascia o Olympique de Marselha, no ano de 1899.
Os estatutos foram aprovados alguns meses depois. Logo em sua primeira competição, o Olympique conseguiu o primeiro título, o de campeão do litoral na temporada 1899/1900.
O futebol na França aos poucos ganhava ares de esporte organizado, pois logo foi criado um torneio nacional. Ele reunia os campeões regionais em um único jogo eliminatório. O Olympique chegou a participar dessa 'copa', mas não passou das semifinais.
Com a Primeira Guerra Mundial, o futebol se resumia a disputas regionais. Com o fim da guerra, em 1918 criou-se a Copa da França, competição na qual o Olympique se tornaria o maior vencedor. Em 1919, surgiu a Federação Francesa de Futebol, que logo organizou a Liga do Sudeste. Nela, o Olympique encontrou seu grande rival, muito antes do Paris Saint-Germain: o Sète.
O começo do reinado
Entre 1921 e 1926, o Sète conquistou a Liga do Sudeste. Porém, em 1924, o Olympique desbancou o rival na Copa da França, vencendo-o por 3 a 2 e conquistando pela primeira vez o troféu. Seguiu-se um período de títulos, como o tri na Liga do Sudeste (1929 a 1931) e mais duas Copas da França (1926 e 1927).
O profissionalismo chegou à França em 1932, e o Olympique tornou-se campeão da liga nacional em 1936/7 graças ao 'goal average' (1,769 contra 1,333 do Sochaux, que havia terminado empatado com 38 pontos). Em 13 de junho de 1937, no amistoso contra o Torino, o Olympique inaugurava seu novo lar, construído para abrigar jogos da Copa do Mundo em 1938: o estádio Vélodrome.
Novamente, a guerra assolou a Europa, e a França voltou a ter campeonatos regionalizados. Em 1940, o Olympique perdeu a Copa da França para o Racing Paris, tendo como astro de seu elenco o húngaro Einsenhoffer, de 40 anos – ele chegou a disputar as Olimpíadas de 1924.
Depois de conquistar a copa em 1943 e a liga nacional em 1948, os marselheses viveram um período obscuro, chegando a cair de divisão no final da temporada 1958/9, permancendo ali por três temporadas. Jejum encerrado em 1969, de novo com a copa. Outro auge e nova decadência, com a queda em 1979/80.
Droit au but – 'direto ao gol'. Esse é o lema do Olympique, presente em seu escudo. O termo 'droit' também significa 'direito', em francês. Para os marselheses, direito ao retorno ao topo da Europa.