O Jogo Bruto das Copas do Mundo

Deveria haver uma lei obrigando os autores de todos os livros a conter informação e entretenimento. Quem nunca se deparou com um livro visivelmente rico de conhecimento, mas intragável como um picolé de espinhos? Pois é. Na grande maioria das vezes, o desfecho deste infeliz encontro é o fundo de uma gaveta, cuidadosamente esquecida.

O interesse por Jogo Bruto já começa aí. O livro nem precisaria ser tão interessante sob o ponto de vista da quantidade de informação, tal é o prazer que ele proporciona ao leitor. Se vivemos no país do futebol, certamente não vivemos no país do livro. E se, por acaso, o amigo internauta gosta do esporte em questão, tem a obrigação moral de, pelo menos uma vez, percorrer as suas 324 páginas.

Teixeira Heizer certamente não precisa de mais elogios do que os estampados na capa e na contracapa da primeira edição. Literatos (Ferreira Gullar), jornalistas (Villas Boas Correia, Waldir Amaral e Jorge Sávia, do El País uruguaio) e um certo atleta de nome Édson (ex-jogador do Santos) tecem rasgados elogios a uma obra fundamental na popularização da história das Copas do Mundo, sempre tendo como ponto de partida o único participante de todas elas (pelo menos até hoje): o Brasil.

Começando pela longínqua 1930, um torneio que parece em preto e branco, Teixeira Heizer traz luz (com curiosidades saborosíssimas) sobre polêmicas pouco entendidas. O ´Maracanazo´ e a falsa culpa de Barbosa no gol uruguaio são desmontadas pela caneta de Heizer, apoiado nos pareceres confiabilíssimos de jogadores e técnicos da época.

Para dar tempero ao episódio, uma passagem em especial: o momento em que Obdúlio Varela, capitão da Celeste uruguaia, reúne o time no banheiro do hotel e ordena aos comanheiros que urinem nos jornais brasileiros, unânimes em já apontar o Brasil como campeão.

O livro não se resume a historinhas engraçadas. Ao final da última página, o painel da história da competição passa a fazer um sentido absoluto, seja ele sob o ponto de vista técnico quanto político. Passagens como a do hotel em 1950 ou a invenção do apoio ao ataque pelo lateral Nilton Santos em 1958 eliminam qualquer resquício de sabor professoral do livro.

Provavelmente a pobreza franciscana da imprensa esportiva brasileira seja a grande causa de não existirem muitos livros sobre futebol no Brasil (e menos ainda aqueles de qualidade). Mas mesmo que fôssemos um prodígio na confecção de livros sobre o esporte bretão, Jogo Bruto teria lugar certo no Escrete literário.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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