Metz: A cruz e o dragão

Na Metz dos anos 30, o futebol dividia a cidade em duas partes. Dois clubes se sobressaíam e se rivalizavam tanto no campo esportivo como no social. Nesse clima em que o esporte evidenciava as diferenças entre as camadas da sociedade local, o FC Metz lançava suas raízes.

O CAM (Club Athlétique Messin) reunia membros da elite local. Sua sede ficava na rua Serpenoise, e os jovens vindos de famílias abastadas treinavam em um terreno situado na rua Verdun, que mais tarde abrigaria o estádio Saint Symphorien. Eles usavam uniformes grenás.

Por outro lado, os elementos das camadas mais humildes compunham o ASM (Association Sportive Messine). O Café Central foi adotado como sede, e os treinamentos eram realizados no estádio do Ban Saint Martin. O branco era a cor do ASM. Os confrontos entre ASM e CAM tornaram-se comuns, prevalencendo, acima da disputa esportiva, o embate entre classes, apimentando cada novo jogo.

Com o advento do profissionalismo no futebol francês, poucos anos depois, o ASM pôde bancar sua entrada no grupo de times que poderiam pagar seus jogadores. A bem da verdade, os jogadores eram semiprofissionais, uma vez que mantinham suas antigas ocupações. No dia 15 de abril de 1932, o ASM aderiu ao GCA (Grupo de Clubes Autorizados) e mudou seu nome para Football Club de Metz. No primeiro campeonato francês da era profissional, lá estava o clube da elite da cidade. Seu primeiro jogo foi contra o Rennes, perdendo por 2 a 1.

Tempos de guerra

A temporada de estréia revelou-se desastrosa para os grenás, pois o nono lugar no grupo B selou a queda para a segunda divisão. Em 1933/4, a equipe terminou em quinto, mas sagrou-se campeã no próximo ano. Foi em 1934/5 que o clube mudou seu nome para CSM (Cercle de Sports de Metz), apenas consolidando a fusão que acontecera em 22 de junho de 1933 com o ASM. Porém, no ano seguinte, o time retomou sua antiga denominação: Football Club de Metz.

Em 1938, o Metz chegou a sua primeira final na Copa da França, na qual enfrentou o Olympique de Marselha. O resultado da partida provoca controvérsias até hoje. O árbitro marcou um pênalti favorável ao Metz, mas voltou atrás em sua decisão, gerando protestos dos jogadores e dos 3 mil torcedores do clube que compareceram a Paris. Mas ainda viria mais: ao final da partida, o juiz anulou um gol dos grenás. Voaram então todos os objetos possíveis dentro do gramado.

A Segunda Guerra tirou do clube alguns de seus jogadores, e até maio de 1940 a equipe participou de amistosos contra times regionais dos exércitos franceses e britânicos que se encontravam na região de Moselle. No ano seguinte, os atletas que estavam no front retornaram ao clube, e já se pensava na retomada da liga nacional. Mas, devido à invasão do território francês pelas colunas do exército de Hitler, o Metz acabou por disputar uma liga alemã regional com o Sarre, a Renânia e o Palatinado e viu seu nome mudar para Fussball-Verein Metz. O território havia sido anexado, e, por isso, o FV Metz disputou também a 'Tschammerpokal', a copa nacional da Alemanha.

De volta ao lar

Nesse período, o medo convivia dia após dia com os atletas, pois a qualquer hora algum deles poderia ser convocado para defender o ideal nazista nas frentes de batalha. Antes de que tal fato ocorresse, muitos deles preferiram fugir e atravessar clandestinamente a fronteira.

Apenas no fim de 1944 o Metz pôde voltar a seu lar, destruído pelos conflitos. Entre dezembro daquele ano e agosto de 1945, o clube ressurgiu e passou a ostentar como símbolo a Cruz de Lorraine, símbolo das Forças Francesas Livres (é o único clube francês com esse direito). Para sobreviver e montar um time, o Metz disputava alguns amistosos pelo país, mas ficava evidente sua fragilidade.

Antes do reinício oficial do campeonato francês, em 26 de agosto de 1945, a Federação Francesa de Futebol tomou algumas atitudes que beneficiaram o clube. A primeira delas foi admiti-lo novamente na primeira divisão, da mesma forma que o Strasbourg, em virtude da situação de ambos durante a guerra. Além disso, os dois não poderiam ser rebaixados, qualquer que fosse sua classificação final. Foi a salvação do Metz, que terminou em penúltimo lugar e mesmo assim manteve-se na elite.

O clube conseguiu se sustentar na primeira divisão até a temporada 1949/50, quando terminou em último. Voltou à elite em 1951/2, mas caiu de novo em 1957/8. Começava um período inglório ao Metz, pois em nove temporadas o clube só disputou uma na primeira divisão, em 1961/2. A promoção só veio em 1966/7, quando foi o vice na segunda divisão. A ascensão coroou a chegada de Charles Molinari, que assumiu a presidência para não mais sair. Ele permanece no poder até hoje, com exceção de um intervalo entre 1978 e 1983.

Um escudo e a chegada dos títulos

Em 1967, quando o Metz subiu para a divisão principal, criou-se o escudo atual do time. Além da Cruz de Lorraine, há também um dragão lendário, o Graoully. Segundo a lenda, a criatura espalhava o terror pela região, até o dia em que São Clemente o exterminou, fincando sua cruz no coração do dragão.

De volta à elite, o Metz realizou campanhas razoáveis na liga nacional. No início dos anos 70, um garoto procurou o clube para tentar a sorte. Ele não foi aproveitado, sob a alegação de possuir baixa capacidade respiratória. Pior para o time, que assim deixava Michel Platini partir para o Nancy.

O ano de 1984 representou a conquista do primeiro título maior. No dia 11 de maio, o time entrou no Parc des Princes como zebra diante do Monaco, na final da Copa da França. O empate sem gols levou o jogo para a prorrogação, quando o Metz marcou duas vezes e conquistou a taça.

Em 1986, o Metz levantou a Copa da Liga após vencer o Cannes por 2 a 1, na final. Na fase anterior, os grenás golearam o Bordeaux por 6 a 3. Dois anos depois, o Metz voltaria a ganhar a Copa da França, dessa vez vencendo o Sochaux na disputa por pênaltis por 5 a 4. A Copa da Liga voltaria para as mãos do Metz em 1996, quando superou o Lyon nos pênaltis, mais uma vez por 5 a 4.

Passadas as conquistas das copas, faltava ao clube vencer o campeonato nacional. A oportunidade veio na temporada 1997/8. Entretanto, o título escapou por apenas uma vitória. O time terminou empatado em número de pontos com o Lens (68), mas perdeu no primeiro critério de desempate. O Lens tinha 21 vitórias, contra 20 dos grenás.

Após o vice, o time caiu de rendimento. Com a fraca campanha em 2001/2, quando foi penúltimo, o Metz foi rebaixado, mas ficou apenas uma temporada na segunda divisão. O terceiro lugar lhe valeu a promoção em 2003/4, e o clube espera não cair mais uma vez.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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