Limoeiro: A nova força do futebol cearense
Quando o regulamento complicado da Série C do campeonato brasileiro definiu os quatro clubes para o quadrangular final, três eram nomes conhecidos no mundo do futebol: o Gama, de Brasília, que há pouco estava na primeira divisão do Brasileirão; o Americano, de Campos, ´quinta força´ atual do Rio de Janeiro e famoso por ser o time de coração de Eduardo ´Caixa D´água´ Vianna; e a União Barbarense, que disputa a primeira divisão do campeonato paulista desde 1999 e que em 2004 vendeu caro para o Santos a classificação nas semifinais do Estadual.
Faltava identificar o quarto time. Limoeiro, do Ceará. Que equipe é essa?
Essa resposta talvez nem muitos cearenses podem dar, já que o Limoeiro não é tão conhecido por lá. O futebol do estado é dominado por Fortaleza e Ceará, com o tricolor Ferroviário correndo por fora. Essas três equipes, juntas, conquistaram 75 dos 81 campeonatos cearenses já disputados. O torneio do Ceará é, inclusive, um dos mais ´polarizados´ do Brasil – com exceção da confusa edição de 1992, que teve quatro vencedores, nunca o título do estado foi para um clube de fora da capital. O que fez então com que o Limoeiro aparecesse no cenário nacional?
O antigo Limoeiro
Antes de tentar explicar a ascensão do Limoeiro, vamos conhecer a cidade em que o clube está sediado. O município de Limoeiro do Norte (não confundir com Limoeiro, em Pernambuco, nem com Limoeiro de Anadia, em Alagoas) está localizado no centro do Ceará. A cidade, distante a pouco mais de 200 quilômetros de Fortaleza, tem população de cerca de 46 mil habitantes e o clima de lá é semi-árido, com cara de sertão.
E é nessa cidade que surgiu, em 1942, o Esporte Clube Limoeiro, embrião da atual equipe. O EC Limoeiro, apesar de não figurar entre as maiores potências do estado, foi presença constante no futebol cearense, oscilando entre a primeira e a segunda divisões do Ceará. A maior glória da equipe foi a conquista do campeonato cearense da segunda divisão em 1994. Na elite, a melhor colocação foi um quinto lugar em 1998.
Talvez essa falta de títulos – e a tradicional má administração dos clubes brasileiros – tenha sido o principal motivo da crise do Limoeiro. Em 2000, perto de completar 60 anos, o clube foi obrigado a fechar as portas. Pediu licença da federação cearense e parou de disputar o campeonato local. Suas atividades estariam restritas ao futebol amador e às categorias de base.
Ressurgindo das cinzas
Mas a cidade de Limoeiro do Norte não poderia ficar sem futebol. Pensando nisso, fãs do EC Limoeiro e empresários da cidade se juntaram em janeiro de 2001 para formar a Associação Desportiva Limoeiro Futebol Clube, que teria de seu lado a tradição e o desejo de dar uma nova cara ao futebol do estado.
Os resultados já apareceram no primeiro ano da equipe como profissional: o novo Limoeiro foi o campeão cearense da segunda divisão em 2001. A conquista veio chorada, suada, típica de um time que começava a se firmar. Depois de ser o primeiro colocado na primeira fase do torneio, o Limoeiro tinha pela frente no quadrangular final os sempre difíceis Quixadá, Uruburetama e Maranguape (cidade do Professor Raimundo, lembram?). No primeiro turno dessa fase final, foram três vitórias nos três jogos e a certeza de que a vaga estaria próxima.
Mas no returno o time desandou e foi superado por Maranguape e Quixadá, o que pôs a classificação em risco. Tudo estaria em jogo na decisiva partida que realizaria em seu estádio contra o Uruburetama. Um empate poderia acabar com as pretensões do Limoeiro.
Não foi o que ocorreu. Jogando um futebol de gala e com o apoio da torcida, o Limoeiro goleou o Uruburetama por 5 a 1 e se garantiu na primeira divisão cearense do ano seguinte. Mais que isso, faturou o título da Segundona. Daí para frente, começaria uma nova era no futebol da cidade, com o Limoeiro FC permanecendo na primeira divisão do estado.
2004, um ano inesquecível
O auge do desempenho desse novo Limoeiro viria em 2004. Pela primeira vez, o time chegara ao estadual com grandes pretensões, sonhando bater os poderosos Fortaleza e Ceará. O título não veio, mas o time obteve um terceiro lugar que o levou a representar o estado na Série C.
Na terceira divisão, o Limoeiro foi crescendo sem que desse conta dos passos largos que dava. Logo na primeira etapa, eliminou, junto com o Parnahyba, o tradicional River e o rival local Ferroviário. Depois, em três mata-matas seguidos, despachou equipes com mais fama no Nordeste: Moto Clube, Sampaio Corrêa e Treze. Esta última classificação veio nos pênaltis, na casa do adversário, em atuação histórica do goleiro Marleudo. Chegou com isso a tão sonhada vaga no quadrangular final, contra Barbarense, Gama e Americano.
Contra esses adversários, o desempenho não foi tão bom, e o Limoeiro dificilmente avançará para a Série B de 2005. Mas seu nome já está marcado na memória dos torcedores do Brasil, e principalmente nos cearenses. É bom que torcedores de Ceará e Fortaleza se preparem, porque o estado agora tem uma nova força.