João Alves: O maestro do Braga

O Braga ocupa, hoje, os lugares mais altos da classificação do campeonato português. Por culpa da súbita debilidade dos três grandes, o Braga disputa, nesta temporada, o acesso à Liga dos Campeões com bastante legitimidade, uma vez que o terceiro posto permite disputar a fase preliminar da maior competição de clubes do mundo. A equipe minhota é considerada, a par do Rio Ave, a boa surpresa desta edição da Superliga, e esse rótulo não surge por acaso. É que, de facto, o conjunto de Jesualdo Ferreira pratica um futebol bastante sedutor, de vocação ofensiva, com exploração das alas e permanente dinâmica dos três médios do 4-3-3 desenvolvido pelo ‘professor’. Um desses meias é João Alves – possivelmente, a maior revelação da Superliga 2004/5.
O clube está longe de ser uma equipe poderosa do futebol português. Isso notou-se quando foram infantilmente eliminados pelo escocês Hearts na primeira fase da Copa UEFA deste ano. João Alves se recuperava de uma lesão no início da temporada, e o 4-3-3 de Jesualdo ainda não estava suficientemente trabalhado. No entanto, para a 10ª rodada do campeonato, frente ao União Leiria, Jesualdo viu-se privado de Vandinho devido a lesão e promoveu João Alves à titularidade. Desde esse momento que João Alves nunca mais largou o onze, e sua reputação como um dos grandes executantes da Superliga tem crescido de forma assustadora.
O percurso
Curiosamente, essa não foi a estréia de João Alves na principal divisão portuguesa. Em 1998/9, o técnico Horácio Gonçalves já estreara João Alves na divisão maior, na altura atuando no Chaves. Foi precisamente em 1999 que João Alves venceu o campeonato europeu sub-18 em Norrköping, na Suécia – sua primeira grande conquista a nível pessoal, ao lado de jogadores como Tonel (zagueiro cedido pelo Porto ao Marítimo), João Paulo (atacante cedido pelo Boavista ao Estoril) e mesmo seu atual colega no Braga, Cândido Costa (o tal que José Mourinho uma vez disse ser uma espécie de Luis Enrique). Hoje, já conta com algumas participações na ‘Seleção B’ e foi eleito o melhor jogador da Superliga no mês de janeiro deste ano pelo sindicato dos jogadores.
João Alves foi formado no Desportivo de Chaves, onde chegou aos nove anos de idade. Na temporada 2003/4, sua última pelo Chaves, fez dupla no meio com o actual jogador do Vitória Setúbal Ricardo Chaves, outra boa revelação da atual Superliga. Foi igualmente colega do meia-esquerda Diogo Valente, que esteve cedido pelo Boavista ao Chaves, mas que regressou esta temporada ao clube do Bessa, também fazendo uma temporada surpreendente. Diz-se que Jesualdo Ferreira, conhecedor profundo das capacidades de João Alves, tentou, sem sucesso, levá-lo para o Benfica quando era responsável pelas categorias de base no clube lisboeta. Face a essa impossibilidade, Jesualdo finalmente adquiriu o jogador para esta temporada, mas para a cidade dos arcebispos, onde é técnico principal desde abril de 2003.
A tática
João Alves tem crescido imensamente como jogador. O Braga atingiu a plenitude de seu futebol com o meio-campo constituído pelos volantes Luís Loureiro e Vandinho (brasileiro que jogou no Santa Cruz em 2000) e também pelo organizador João Alves. Tanto Loureiro como Vandinho não são meias puramente defensivos, pois integram-se bastante bem nas movimentações ofensivas da equipe – Loureiro pela esquerda e Vandinho mais pela direita. No entanto, Luís Loureiro foi recentemente transferido para o Dinamo Moscou e seu substituto na equipe titular é o argentino Andrés Madrid (ex-Gimnasia La Plata), que tem se exibido em bom nível.
Apesar dessa alteração de peso no onze bracarense, João Alves manteve o comando das operações no centro do terreno. É o elo perfeito nas transições defesa/ataque – um dos capítulos mais fundamentais do futebol moderno –, pois possui o poder de decisão para fazer a equipe jogar de forma pausada ou em contra-ataque. Aparenta alguma timidez, mas se ele não se tivesse imposto da maneira como o fez, o Braga dificilmente agüentaria tanto tempo ‘lá em cima’.
Relembramos que o Braga tem vários brasileiros no plantel: o lateral esquerdo Jorge Luiz (ex-Fluminense e Santa Cruz), o zagueiro Nem (ex-São Paulo, Bragantino, Paraná, Atlético-PR e Atlético-MG), o meia Jaime (ex-Remo), o ala direito Leonardo (ex-Fluminense) e o atacante Wender, que é um dos astros do elenco e que veio para Portugal em 1999, diretamente do Valadares.
O jogador
João Alves tem contrato com o Braga até 2010, mas já são muitos os rumores acerca da sua transferência para um grande português no final da temporada. O Benfica é, aparentemente, o mais bem colocado para a aquisição, mercê das boas relações que o administrador José Veiga tem com o clube nortenho – foi Veiga quem levou Armando Sá (Villarreal), Ricardo Rocha, Tiago (Chelsea) e Quim para o Benfica, por exemplo.
João Alves joga preferencialmente com o pé direito e é dono de uma boa meia-distância. É alto, o que lhe permite ganhar muitas bolas no jogo aéreo, rápido, e é um jogador com extrema agilidade/elegância com a bola nos pés. Tem um timing perfeito para passar a bola e faz com muita mestria toda a gestão do meio-campo. Também tem uma madura leitura de jogo aliada a um seu forte carácter e vontade de jogar coletivamente. Daí que seja dos primeiros a roubar bolas aos adversários. Não se aventura muito nos passes longos, mas isso também não convém muito ao estilo de jogo preconizado por Jesualdo Ferreira.
João Alves ainda tem outro ponto em seu favor, que é o fato de aparecer freqüentemente em zonas de finalização para chutar ao gol, o que já lhe valeu quatro gols nesta temporaa. Sempre com classe, como ele bem sabe. É, também, o cobrador de praticamente todas as faltas e escanteios do Braga, tal a precisão de seu pé direito.
Antes desta temporada, praticamente ninguém tinha ouvido falar em João Alves e, por isso, muitos pensam, ainda hoje, que se trata de um jovem de 18 ou 19 anos. Mesmo tendo ‘já’ 24 anos, não é novidade alguma afirmar que o camisa 18 do Braga é um jogador para ter muito em conta no futuro mais imediato. Até José Mourinho já elogiou este arsenalista…