Instituto: Festa junina no interior argentino

Em 19 de junho, com um gol na morte súbita, o Instituto de Córdoba voltou à primeira divisão argentina. O gol foi de Renato Riggio, que esteve a poucos passos de ir para o Belgrano, um dos grandes rivais do Instituto. Com um jogador a menos, valeu a garra do time conhecido por ser o mais aguerrido de Córdoba. Riggio, que costumava sonhar que marcava gols jogando pelo Brasil, ao lado de Roberto Carlos, seu maior ídolo, passou a viver uma realidade e não mais um jogo de video-game. Ele é o autor do gol salvador do Instituto e será lembrado para sempre na história do clube mais popular de Córdoba.

Qual é o verdadeiro nome?

O clube foi fundado no dia 8 de agosto de 1918 na oficina do salão de máquinas da Alta Córdoba, por funcionários da Ferrocarril Central Córdoba, empresa ferroviária da cidade, que resolveram criar um instituto em que se realizariam aulas para o processo de educação de todos os funcionários que aderissem ao movimento, além da prática de esportes em todas suas fases.

Esse instituto foi batizado como Ferrocarril Instituto Central Córdoba. Nesse mesmo encontro ficou acordado que as cores símbolo do clube cordobês seriam o vermelho e o branco. O curioso é que em 1924, com o crescimento do clube, o termo ´ferrocarril´, que o identificava como algo ligado à companhia férrea de Cordóba, foi substituído por Atlético. Porém, os associados não aderiram ao nome. O curioso é que em toda a Argentina o time ainda é conhecido como ´Instituto´. Somente os torcedores mais fanáticos ainda relutam em dizer que o nome verdadeiro do time é Central Córdoba e que ´Instituto´ é apenas um sinônimo de ´clube´.

Dos campeonatos regionais ao nacional

O campeonato nacional organizado pela AFA a partir de 1967 sempre levou dois representantes de certas praças do interior. O Instituto era indiscutivelmente um dos dois que ficaria com as vagas de Córdoba, juntamente com o Talleres, e isso ocorreu até 1979.

Uma resolução da AFA determinava que a partir de 1980 os times que estiveram nas finais do nacional por dois anos consecutivos ganhava uma vaga certa no campeonato seguinte, não precisando disputar o torneio de sua praça. O Talleres tinha conseguido tal feito no nacional, portanto, nesse ano a cidade de Córdoba teria três vagas no campeonato argentino. Ia ser moleza para o Instituto? Nem tanto. A zebra tomou conta do interior, e o campeão cordobês foi o Racing. O medo foi tão grande de ficar de fora do nacional que no campeonato que definiria o terceiro representante de Córdoba o Central se aliou ao Unión San Vicente, e ficou acordado que quem ganhasse o campeonato – e conseqüentemente ficasse com a terceira vaga – acolheria os atletas do time perdedor e jogaria o nacional com o nome de Instituto.

Não deu outra: o Unión San Vicente foi o campeão, agregou a seu elenco os jogadores do Central e ingressaram no campeonato argentino de 1980 com o nome de Instituto. O clube permaneceu na Primeira A da argentina até 1998, quando foi rebaixado. No ano seguinte, já conseguiu seu acesso, numa final contra o Chacarita Juniors. Mas o time não resistiu à força dos grandes argentinos e voltou à segunda divisão, para regressar à elite somente neste ano.

Grandes times e um grande ídolo

Os grandes títulos do Central foram sempre conquistados em nível regional. Mesmo o famoso time tetracampeão de 1925 a 1928, que na época venceu os grandes da Argentina, só teve a oportunidade de ser campeão cordobês, porque naquele período ainda não existia o nacional. Esse time ficou tão conhecido no país que recebeu o apelido de ´El Glorioso Cordobés´´ – daí vem o apelido que o time carrega até hoje de ´La Gloria´.

O campeonato de 1998/9 do Nacional B também ficou para história alvi-rubra. A torcida e os dirigentes estavam cansados dos insucessos e formaram um belo time para tentar subir em 1999. Manteve-se a base de 1998 e conseguiu-se fazer um belo campeonato, garantindo a passagem para a fase final com três rodadas de antecedência, para ganhar do Arsenal nas semis e do Chacarita na final.

Porém, foi em 1972 que o Instituto Atlético Central Córdoba entrou para história do futebol argentino. Um time entrosado e com um futebol clássico recebeu o apelido de ´poetas do gramado´. ´La Gloria´ estava próxima de marcar época no país, com um esquadrão que tinha um toque de bola maravilhoso e, acima de tudo, um ataque definidor e muito eficiente.

Nesse time de 1972 surgiu um jogador que por seu censo de colocação na área e sua finalização precisa recebeu o apelido de ´El Matador´. O nome desse jogador? Era Mario… Mario Alberto Kempes. Sim, esse garoto, que na época do título do Instituto tinha apenas 18 anos, viria a brilhar seis anos mais tarde, sendo o maior jogador da seleção argentina na Copa do Mundo de 1978. O engraçado é que muitos jornalistas quando citam Mario Kempes nem levam em consideração sua passagem pelo Instituto. Embora esse tenha sido esse seu primeiro clube, muitos ainda associam o começo da carreira de Kempes ao Rosario Central.

Patrimônio e rivalidade

Duas coisas o torcedor do Instituto tem orgulho de possuir: a primeira é o patrimônio do clube. Ele pode não ser o mais conhecido do interior, tampouco o mais rico, porém orgulha seus torcedores pelo trabalho dentro e fora dos gramados. O clube, que nasceu de uma empresa férrea, é uma potência no basquete e grande em diversos outros esportes, incluindo os amadores. O complexo esportivo La Agustina tem quadras de tênis, quadras para disputa de jogos de hóquei e um centro poliesportivo para prática de diversos esportes. Tudo isso numa área de mais de 6 hectares, que tem como porta de entrada um majestoso castelo que carrega traços de arquitetura medieval inglesa.

Além do complexo esportivo e da tradição nos esportes menores, o clube tem seu estádio como grande patrimônio. Ele começou a ser construído em 1941 e foi sendo reformado até 1999 para chegar no que é hoje: um grande estádio, com boa localização e com capacidade para 32 mil pessoas, sendo o maior particular de Córdoba.

Mas vocês lembram que eu disse que os torcedores do Instituto tinham orgulho de duas coisas: a primeira é o patrimônio; e a segunda? Como eles mesmo dizem, eles tem orgulho de terem nascido torcedores do Instituto e se livrado da ´maldição´ de torcer para o Talleres.

Os três times mais tradicionais de Córdoba são esses dois mais o Belgrano, mas, na verdade, a rivalidade é maior entre os azuis do Talleres e os vermelhos do Instituto. Essa rixa existe desde a época das ligas regionais. É verdade também que o Talleres sempre levou a melhor sobre o rival, porém isso não afasta a rivalidade. A maioria dos torcedores do Instituto é do bairro de Alta Córdoba, uma zona extremamente populosa e com moradores mais pobres.

Os fãs do Central chamam os torcedores do Talleres de ´Gallinas´, e a música mais cantada nos últimos tempos pelos torcedores alvi-rubros foi: ´´Che Talleres, Che Talleres, que amargado se te vé, cada vez nos falta menos para volvernos a ver´´. A profecia da torcida só não se concretizou porque o Talleres foi rebaixado ao final do Clausura 2004.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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