Futebol, uma Paixão Nacional
A princípio, ´´Futebol, uma Paixão Nacional´´ pode parecer um título muito sem graça para um livro. Afinal, é um clichê que não diz nada, por englobar todo o futebol brasileiro. Mas, involuntariamente, esse título acaba refletindo de maneira fiel o que é este livro de Rubim Aquino – ao tentar contar toda a história do futebol (além de alguns outros aspectos), acabou não dizendo nada, apesar de alguns bons momentos.
O livro é dividido em três partes, cada uma com resultados bem diferentes: história das origens do futebol, o futebol desde a primeira Copa do Mundo e um anexo com frases, curiosidades, uma lista de clubes brasileiros e outras coisas mais.
A primeira parte, apesar de cobrir um período muito extenso de tempo (desde o Egito antigo até 1930) num espaço muito pequeno (39 páginas), não é ruim. É claro que é superficial, mas não deixa de ser um modo rápido e interessante para alguém que não conhece nada sobre a história do futebol tomar contato com o tema. Destacam-se os capítulos 4, 5 e 6, que falam sobre as primeiras décadas do futebol no Brasil com bastante ênfase sobre o racismo no esporte. Como professor de história que é, Aquino faz uma boa contextualização da época, com destaque para a interessante relação que estabelece entre a proibição da capoeira no Rio de Janeiro e a popularização do futebol na cidade.
Já a segunda parte do livro é muito fraca. O autor aborda a história das Copas do Mundo – ou melhor, das participações do Brasil em Mundiais – de maneira superficial e sem nenhuma novidade. Há um excesso de informações de almanaque (placares, números de participantes, etc.) e poucas histórias interessantes. Especialmente no último capítulo fica visível a saudosista diferenciação entre o maravilhoso ´futebol arte´ de antigamente e o horrível ´futebol força´ praticado nos dias de hoje. O autor se estende mais do que deveria falando sobre as eliminatórias para a Copa de 2002 e repete as mesmas batidas críticas a Luiz Felipe Scolari – nem é preciso dizer que o livro foi escrito antes do Mundial.
Mesmo assim, esta parte poderia servir como leitura introdutória para quem não sabe nada sobre a história das Copas. Mas não é o caso, por um motivo: o grande número de erros. São tantos que o leitor perde a confiança inclusive nos dados apresentados nas outras duas partes da obra. E alguns erros são gritantes, como dizer que a Argentina ganhou em 1986 sua terceira Copa (pg. 108) ou que brasileiros e argentinos se enfrentaram nas quartas-de-final do Mundial de 1990 (pg. 118). Para quem quer conhecer a trajetória do Brasil em Copas, é leitura infinitamente superior o livro ´´O Jogo Bruto das Copas do Mundo´´, que já foi comentado nesta seção. Aliás, o próprio Aquino cita diversas vezes o livro de Teixeira Heizer.
A terceira parte, embora não seja mais que uma seqüência de listas, é a mais interessante do livro. Primeiro, há uma boa lista de frases folclóricas de dirigentes, jogadores e jornalistas. Embora a maioria já seja conhecida, é interessante que todas têm seus autores identificados. Depois vem uma seqüência de curiosidades e um glossário de termos futebolísticos (ambos sem muito interesse), seguidos por uma ótima listagem de filmes e documentários brasileiros sobre futebol – além dos títulos, há uma pequena descrição de cada um, que inclui produtores e ano de lançamento. Surpreendentemente, o autor conseguiu reunir quase 70 produções. Melhor ainda é a lista dos principais clubes de futebol do Brasil. ´Principais´ aqui apenas significa que não estão presentes todos os clubes, já que estão listados por volta de 500 times. E o mais impressionante: todos com nome completo, cidade, data de fundação e o nome do estádio onde mandam seus jogos. Um ótimo material de referência para quem trabalha com futebol brasileiro.
Quando os apêndices são a melhor parte do livro, isso significa uma de duas coisas: ou essa parte é realmente muito bem feita ou o resto do livro é muito fraco. Em ´´Futebol, uma Paixão Nacional´´, talvez as duas hipóteses sejam verdadeiras.