Francileudo: Um nordestino campeão na África

Dono de um nome incomum, nascido no Brasil, atacante de um clube francês e naturalizado tunisiano. A resposta para essa ´charada´ parece difícil, não é? Mas basta voltar alguns dias no tempo e dar uma olhada na recente Copa Africana de Nações para decifrá-la. Francileudo dos Santos Silva, de 24 anos, inaugurou o placar na decisão entre sua seleção e a de Marrocos, cabeceando a bola no canto direito do goleiro adversário, poucos minutos após o árbitro apitar o início do jogo. O resultado final de 2 a 1 para a Tunísia deu-lhe o título inédito de campeã da CAN, que é disputada desde 1957.

Além do importante feito conseguido contra os marroquinos, Francileudo já havia marcado gols nas duas primeiras partidas, ajudando na conquista do grupo A e na abertura do caminho para chegar até a final. Na estréia contra Ruanda deixou o dele e, contra o Congo, mais dois. De quebra, ainda foi um dos artilheiros da competição, já que houve um empate entre cinco jogadores. Esse belo desempenho de Francileudo foi capaz de dar outra alegria aos torcedores, além do título tão sonhado. Na Copa Africana de 2002, disputada no Mali, a Tunísia não teve capacidade de fazer um gol sequer. Conseqüentemente, não passou da primeira fase.

Obrigado, Lemerre!

Um dos grandes responsáveis por este maranhense estar vestindo a camisa vermelha e branca da Tunísia é o técnico Roger Lemerre, que comandou a França na conquista da Eurocopa de 2000 e foi demitido do cargo após a catastrófica campanha na Copa do Mundo de 2002. Segundo Lemerre, Francileudo tem profissionalismo, velocidade e espírito de decisão. Acreditando nessa combinação, convocou o atacante, que, para ele, é um exemplo a ser seguido pelos colegas de profissão.

A proposta foi aceita rapidamente, pois Francileudo sabia que não seria nada fácil defender o Brasil, além de sentir um amor enorme pela Tunísia. No amistoso contra Benin, poucos dias antes do início da competição continental, estreou pela seleção e fez um gol na vitória por 2 a 1. Caso aconteça de ter que enfrentar sua pátria-mãe um dia, ele é bastante firme: ´´Apenas em amistosos. Se houvesse um Brasil x Tunísia numa Copa do Mundo, seria difícil para mim e, provavelmente, pediria ao técnico para não me escalar´´.

A primeira cidade onde Francileudo morou na Tunísia foi Sousse, a qual o fazia lembrar um pouco do Brasil, facilitando sua adaptação. Atuou durante dois anos no Etoile du Sahel com destaque. Nesse período, teve a felicidade de tornar-se pai pela primeira vez. Dentro de campo, foi campeão da Copa Africana de Clubes em 1999 e, no mesmo ano, foi o artilheiro do campeonato nacional, com 14 gols. Ao longo de toda sua experiência no futebol tunisiano, balançou as redes 32 vezes em 50 partidas.

Francileudo na França

Contratado pelo Sochaux, da França, em 2000, Francileudo já não precisava mais estranhar o continente europeu. Ainda garoto, aos 17 anos, o Standard Liège, da Bélgica, o havia tirado do Sampaio Correia, quando ainda não fazia parte do time profissional. Chegando ao clube francês, todos os atletas já possuíam seus números nas camisas. Restavam poucas opções para ele. Havia o 3, o 14 e outros a partir do 23. Finalmente decidiu escolher o 14, em homenagem ao holandês Johan Cruyff, que sempre teve esse número às costas.

Francileudo iniciou sua trajetória no país com um empate de 3 a 3 contra o Nimes, partida válida pela segunda divisão. Ainda em sua primeira temporada, conseguiu, junto com seus companheiros, o acesso à divisão principal. Em 2003, chegou à final da Copa da Liga francesa, mas o Sochaux foi goleado pelo Monaco por 4 a 1, no Stade de France.

Felizmente, Santos – como é conhecido por lá – terá outra chance para faturar esse título inédito para ele e que sua equipe não conquista há exatos 40 anos. No próximo dia 17 de abril, no mesmo Stade de France, haverá a decisão da Copa da Liga 2003/4, quando se enfrentarão Sochaux e Nantes. Além do desejo de dar a volta olímpica, Francileudo terá outra motivação nesta dasa, pois, caso seja campeão, o Sochaux estará classificado para a Copa UEFA. Com isso, poderá ganhar notoriedade ainda maior no Velho Continente.

No campeonato francês 2003/4, seu time faz uma boa campanha. Vale ressaltar que, até fevereiro, quando Francileudo fez gols, o Sochaux não perdeu. Foram sete vitórias e um empate, contra o Le Mans. Sua eficiência é tão grande que os diretores do clube e o treinador, Guy Lacombe, tentaram, de maneira insistente fazê-lo desistir de atuar na Copa Africana. Um dos argumentos utilizados era que a naturalização não tinha legitimidade, pois o jogador não possuía nenhuma origem tunisiana.

Porém, a tentativa foi em vão, e Francileudo decidiu desfalcar o Sochaux, enquanto corria atrás da bola nos gramados da Tunísia, onde estava sendo realizada a competição. Pobre Sochaux que, além de perder Francileudo, teve de acompanhar pela TV outros quatro africanos que fazem parte de seu elenco.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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