Fedato – O Estampilla Rubia

Couto Pereira foi quem lhe propôs o primeiro contrato. No auge da carreira, foi assediado por Moysés Lucarelli. Numa época em que esses nomes ainda não designavam estádios, trajava o uniforme do Coritiba seu maior ídolo até hoje: o zagueiro Fedato, que acaba de lançar sua autobiografia.

Embora o livro carregue a co-autoria do jornalista Paulo Krauss, considerá-lo autobiográfico soa adequado, uma vez que tudo é narrado em primeira pessoa. Aparentemente, o trabalho de Krauss consistiu apenas em dar ao relato do ex-atleta ordenação e respaldo bibliográfico, de maneira discreta e eficaz. Evitou-se, portanto, uma interferência muito pesada do estilo do jornalista, o que garante certa autenticidade aos casos contados.

Hoje com 80 anos, Fedato chegou ao Coritiba em 1939 e tornou-se profissional em 1943. Foi titular até 1958, quando se aposentou definitivamente – antes, decidira abandonar a bola mas fora convencido pela torcida coxa-branca a desistir do intento. Conquistou sete títulos paranaenses, todos devidamente saboreados no livro. Toda a emoção de remotos Atletibas também está lá, inclusive a da fatídica derrota em que Fedato marcou o único gol de sua vida, em 1949. Subir ao ataque era um procedimento raro para um beque, ao contrário do que ocorre nos dias atuais. Aliás, à medida que a leitura vai fluindo, outras diferenças entre o futebol de hoje e o de ontem vão emergindo: ganhava-se pouquíssimo (Fedato formou-se em contabilidade e a atividade paralela assegurava-lhe o sustento), não se cedia a camisa ao adversário no intervalo das partidas, treinava-se bem menos, a figura do empresário inexistia.

Ainda que sem agente, celular ou fax, Fedato recebeu muitos convites para deixar o Paraná, conforme nos conta o capítulo ´´Todos querem Fedato´´, em cujas páginas estão estampadas cartas enviadas por João Saldanha e outros dirigentes de clubes do eixo Rio-São Paulo. Respeitado e feliz no Coritiba, Fedato nunca quis deixar o clube. A brevíssima exceção deu-se em 1948, quando foi liberado por um mês para defender o Botafogo de Saldanha numa excursão à Bolívia, durante a qual recebeu o apelido ‘Estampilla Rubia’, presente no subtítulo do livro.

Outro capítulo interessante é ´´A Copa que não joguei´´, alusão à ausência de Fedato em 1950. Seu nome chegou a ser cogitado, mas o prestígio de quem jogava em clubes cariocas e paulistas era muito superior nesse tempo em que não existiam torneios nacionais. O imponente Murilo, outro grande zagueiro desse período, anos e anos de Atlético-MG, também nunca integrou o escrete brasileiro, apesar de, assim como Fedato, ter sido melhor do que vários contemplados. Mesmo depois da criação da Taça Brasil e da ampliação do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o futebol do Paraná permaneceu sem representantes em Copas. O quadro só veio a se alterar em 2002, quando Felipão chamou Kléberson.

´´Fedato – o Estampilla Rubia´´ não se limita a esmiuçar a trajetória do becão dentro dos gramados. Há passagens de sua infância e das experiências pós-futebol. Não espere encontrar, nas memórias de Fedato, confissões polêmicas ou revelações bombásticas, daquelas que exploram a miséria humana com objetivos comerciais. A exposição dos fatos que marcaram sua vida é sóbria e ressalta valores como a solidez da estrutura familiar.

Para os torcedores do Coritiba, essa obra é essencial. Para os torcedores do Palmeiras, um alerta: o Fedato da década de 70 não é parente deste aqui. Para os apreciadores do futebol, recomenda-se que reservem um espaço na estante, pois não é todo dia que um defensor técnico e raçudo, maior símbolo da história de um importante clube, resolve abrir o jogo.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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