Essien: Um dos segredos do bicho papão

Sem sombra de dúvidas, não há nenhum time em campeonatos importantes da Europa (e talvez do mundo), atualmente, que domine tão amplamente uma competição nacional quanto o Lyon, na França. Três rodadas antes do término do campeonato francês, e justamente no mesmo momento em que a União Nacional dos Futebolistas Profissionais anuncia a lista dos concorrentes a melhor do ano no país, o time garantiu seu quarto título consecutivo do campeonato nacional.
E dentre a lista que a UNFP elaborou, dois jogadores fazem parte do elenco campeão: Juninho Pernambucano e Michael Essien. E é justamente esse ganês de 22 anos que apresentaremos aqui.
Começo igual em posição diferente
Vindo de um continente que se destaca no cenário mundial principalmente por seus rápidos atacantes, Essien não seguiu a regra e, desde que começou a brincar de futebol nas ruas de Accra, capital de Gana, interessou-se mais em tentar barrar os velozes adversários do que propriamente se destacar por suas fintas ou gols. Nas peladas que disputava, Michael sempre se colocava na zaga, mas, apesar de estar numa posição diferente da que seus ídolos jogavam, sua trajetória foi parecida com a de muitos jogadores africanos.
Ele começou jogando no Liberty Professionais, time grande da primeira divisão ganesa, aos 14 anos, e foi alçado ao elenco principal aos 16, em sua posição de origem: zagueiro. Essien só foi se descobrir como volante quando chegou à Europa, no Bastia.
Ainda como zagueiro, Michael se destacou logo em suas duas primeiras passagens pela seleção de seu país: uma no Mundial sub-17 no qual Gana terminou na terceira colocação e outra dois anos mais tarde, no Mundial de Juniores, em que seu país foi vice-campeão, só perdendo a final para a Argentina, dona da casa.
Por essas atuações destacadas nas seleções de base de Gana, o próprio presidente de seu clube na época (Liberty Professionals) mandou gravar e enviou fitas de vídeo com atuações de Essien para Fabien Piveteau, atual agente do jogador, que na época se iniciava na carreira de empresário. De imediato, o ex-goleiro marcou testes para Essien no Bastia e no Manchester United.
O teste no time inglês foi um sucesso, porém o acaso e uma regra do futebol inglês tratou de tirar Essien da Premier League: jogadores estrangeiros só podem jogar na terra da rainha se tiverem disputado 70% das partidas de sua seleção nos últimos dois anos, e esse não era o caso de Michael. Portanto, restou a ele aproveitar a chance que o Bastia lhe dava.
Escolha certa
A passagem de Essiena pelo Bastia, onde se descobriu como volante, foi muito boa e logo despertou interesse nos principais clubes franceses. Porém, foi apenas em junho de 2003, depois de três temporadas no Bastia, que Essien teve a real oportunidade de buscar novos ares em times de mais força.
Duas opções dentre as oferecidas balançaram o ganês, uma do Paris Saint-Germain e outra do Lyon. Uma dúvida se instalou na cabeça do jovem meia africano: escolher a melhor proposta financeira e jogar no PSG ou tentar a chance no (à época) bicampeão francês Lyon? Um fator foi determinante na escolha de Essien – a chance de disputar a Liga dos Campeões contra os melhores clubes europeus.
Logo no primeiro ano no Lyon, ganhou o tricampeonato francês, e na temporada 2004/5 Essien, além de se destacar no campeonato nacional, também fez uma ótima LC, na qual o Lyon foi eliminado apenas nos pênaltis pelo PSV, nas quartas-de-final. Nesta edição do torneio europeu, o próprio Michael destaca a partida em que seu time goleou o Werder Bremen por 7 a 2. Na oportunidade, o meia marcou dois gols e considera uma de suas melhores atuações na carreira.
Sonhos e futuro
Le Guen, técnico do Lyon, revezou Essien em duas posições: zagueiro e volante, mas algo é determinante para que ele jogue no meio: sua habilidade e suas chagadas no ataque. Jogando na zaga, essas características acabam não sendo evidenciadas. Michael também é bom marcador, sim, tanto que das 34 partidas que disputou pelo Lyon nessa temporada do campeonato francês, foi expulso apenas uma vez, o que mostra também seu jogo limpo.
Esse estilo versátil e suas boas atuações, aliado a sua juventude, despertaram interesse dos grandes clubes europeus. Boatos dão conta de que Real Madrid, Arsenal e Juventus querem contar com o futebol de Essien para a próxima temporada. Realmente, a proposta que parece ter mais fundo de verdade é a do clube de Turim, porém Jean-Michel Aulas, presidente do OL, tenta, ao mesmo tempo, prorrogar o contrato do meia, que teria hoje um preço estipulado em torno de US$ 24 milhões.
Além de jogar em um time de maior expressão na Europa, outro sonho faz parte dos planos de Essien: disputar a próxima Copa do Mundo, na Alemanha. Porém, esse desejo parece se desenhar em algo mais distante, já que seu país, Gana, ocupa apenas a terceira colocação no grupo 2 das eliminatórias africanas, restando apenas quatro jogos para o fim do torneio. Mas, aos 22 anos, Essien certamente ainda terá outras chences de disputar um Mundial.