Dossiê 50
´´Por que perdemos (a Copa de 1950)?´´, escreveu Nelson Rodrigues. ´´Ainda hoje fazemos a pergunta sem achar a resposta´´, responde o mesmo. Em 16 de julho de 1950, a seleção brasileira perdeu inacreditavelmente a Copa do Mundo em pleno Maracanã. A camisa branca foi a primeira culpada pela derrota. Tanto que a partir da Copa seguinte a Seleção vestiu a canarinho – a camisa amarela – com a qual foi pentacampeã mundial.
Foi buscando a resposta à pergunta de Nelson Rodrigues que Geneton Moraes Neto escreveu o livro ´´Dossiê 50´´. A maior tragédia de nosso futebol (para alguns, da história do Brasil) gerou inúmeras conseqüências nas cabeças dos brasileiros e também revelou detalhes interessantes. Por exemplo: no dia do jogo, o soldado Zagallo, que jogava no juvenil do Flamengo, foi escalado para vigiar a arquibancada. Não pôde gritar com o gol do Brasil nem chorar a virada. Outro detalhe interessante: naquele dia, quase 1% da população brasileira (na época, por volta de 23 milhões de pessoas) estava dentro do estádio.
Conseqüências não foram poucas. Pelo menos duas pessoas presentes à derrota tentaram mudar o resultado do jogo. O cineasta Jorge Furtado fez um curta no qual Antonio Fagundes tentava avisar Barbosa do gol da virada. E o jornalista João Luiz de Albuqerque, vários anos depois, manipulou imagens para tentar fazer o Brasil campeão, num outro curta metragem. No dia seguinte à derrota, Evandro Carlos de Andrade percorreu quatro quarteirões da Tijuca buscando algum jornal nas bancas que estampasse em sua capa a vitória brasileira. Sem sucesso.
Muitas histórias surgiram também, como a de que Bigode havia tomado um soco do capitão uruguaio Obdúlio Varela. Em algumas versões, o soco foi trocado por um tapa. Para saber a verdade, só mesmo com os 11 jogadores e o técnico que estava em campo. Geneton entrevistou os 12 acusados da tragédia e conseguiu descobrir tudo o que precedeu o jogo. Desde jogadores sem tempo para comer de tanto assédio até quando eles tiveram que empurrar o ônibus num trecho do percurso.
Embora não tenha conseguido mudar o resultado da partida, o autor reuniu uma coleção de relatos não só dos jogadores, mas também de várias pessoas que se calaram após o apito final. Escrito como um grande artigo de jornal, o livro não deixa de ser um consolo para quem não esteve lá e não consegue entender por que a seleção brasileira de futebol nunca mais conseguiria ser campeã do mundo de 1950.