Deisler: Ele está de volta
Depois de quase um ano entre salas de fisioterapia, treinos diferenciados e apenas alguns minutos em partidas oficiais, eis que Sebastian Deisler faz sua verdadeira estréia para a torcida do Bayern de Munique. Em 1° de agosto, contra o Eintracht Frankfurt, ele enfim conseguiu ficar em campo os 90 minutos – o que não acontecia há quase dois anos. E não foi só isso: ele jogou bem e deu o passe para o segundo gol da partida (vencida pelos bávaros por 3 a 1), marcado por Salihamidzic.
Ele chegou ao clube no meio do ano passado, e tudo o que fez nesse meio-tempo foi jogar os minutos finais de sete partidas pela Bundesliga e alguns outros em partidas da copa da Alemanha.
O Bayern pagou por ele cerca de US$ 7 milhões, menos de um terço dos US$ 22,5 milhões que o Hertha Berlim queria por ele antes de sofrer a grave contusão no joelho que por pouco não o fez encerrar a carreira precocemente. Para o clube berlinense, negociá-lo era uma solução inadiável, uma vez que Deisler já começava a dar prejuízo.
Sua contusão era tão grave quanto a de Ronaldo, e a opinião geral era a de que ele jamais seria o mesmo. Mas os bávaros acreditaram, investiram, tiveram calma e conseguiram recuperá-lo. Agora, com ´Basti´ em forma, é de se esperar que a dupla de ataque formada por Santa Cruz e Roy Makaay não tenha problemas no quesito assistências.
Antes de defender as cores do Bayern, ele jogou pelo Hertha Berlim e pelo Borussia Mönchengladbach, clube pelo qual se profissionalizou, em 1998, mas foi no time da capital que ele ganhou o status de fenômeno.
Sul-americano enrustido
Deisler é um jogador cujas características fogem das do alemão clássico. Nada de bicões para a frente, nada de caneladas e nada de jogo bruto. Seu estilo abusado lembra mais o de jogadores argentinos e brasileiros.
Ele conduz a bola com segurança e sabe colocá-la nos pés ou na cabeça de seus companheiros com precisão. Dentro da Alemanha, muitos o proclamam como o novo Mehmet Scholl, mas sua precisão em passes e lançamentos lembram mais um ex-jogador de seu atual clube: Stefan Effenberg.
Apesar de saber chutar com as duas pernas e se movimentar bem pelos dois lados do campo, é pela direita que Deisler faz a festa. Ao contrário da maioria de seus conterrâneos, que ao chegar a alguma ponta do campo prefere ir para a linha de fundo para cruzar a bola na área, ele, via de regra, vai para cima do zagueiro para tentar o drible. Sua capacidade e sua habilidade lhe dão essa possibilidade.
Suas arrancadas pela direita e as várias bolas passadas por baixo das pernas de seus adversários lhe renderam o apelido de ´Basti-Fantasti´ e também o sem-número de contusões que o deixou longe dos gramados nos dois últimos anos.
Quem o viu jogar sabe que com ele em campo são grandes as chances de jogadas espetaculares e dribles desconcertantes. Seu grande defeito, se levado em conta o estilo alemão de jogo, é a marcação. Os treinadores que o tiveram no elenco, porém, sabem que é mais fácil colocar um volante para cobrir suas investidas a pedir que ele ajude na marcação. A vantagem é incalculável.
Salvação alemã
Quem mais tem a comemorar com a volta de Deisler é Rudi Völler. Ele chegou a ser convocado para a Copa do Mundo, mesmo sem ter jogado boa parte da temporada 2001/2. O treinador da seleção alemã havia garantido ao então camisa 26 do Hertha Berlim todo o tempo necessário para que a recuperação de sua lesão no joelho fosse completa.
Tudo correu bem até o amistoso contra a Áustria, algumas semanas antes do Mundial. Naquele jogo, Deisler sofreu uma entrada criminosa e teve de adiar o sonho de jogar sua primeira Copa.
Völler sentiu muito a falta de um jogador com as características dele na Copa do Mundo, já que o Nationalelf era um time capenga, com jogadas ofensivas apenas pelo lado esquerdo.
Com seu retorno, a equipe deverá ganhar – e muito – em termos ofensivos, uma vez que o meio-campo não será formado exclusivamente por volantes defensivos e o ataque voltará a ser servido de maneira apropriada – e pelos dois lados.
Além disso, a volta de Deisler à seleção deve dar uma razoável levantada no interesse da torcida, que anda descrente no potencial do time em fazer bonito na Euro-2004.