CSKA Sófia: A vitória tem vários nomes
“It's now or never come hold me tight
Kiss me my darling be mine tonight
Tomorrow will be too late
It's now or never my love won't wait”
Imagine 20 mil pessoas cantando juntas o trecho da música acima. O estádio está lotado e não é um show musical que empolga os espectadores. O palco é o gramado verde, e os músicos são os jogadores do CSKA Sofia. A fanática torcida alvi-rubra tem a música “It's Now or Never”, de Elvis Presley, como refrão para embalar os jogadores em campo. Essa trilha sonora parece dar certo: desde que estreou no campeonato búlgaro, em 1948, quando levou o título em cima do bicampeão da época, o CSKA tornou-se o maior clube da Bulgária.
Estreante e campeão
Em maio de 1948, um acordo foi assinado entre os jogadores de futebol do September e do Chavdar, para unir o nome Setembro à Casa Central do Exército. O comando do recém-criado clube estava nas mãos de militares: o ministro da defesa da nação era o presidente de honra, e o general Bojan Balgaranov, o presidente do clube. Eles assumiram seus postos em 5 de maio de 1948, dia de assinatura do acordo entre o September e o Chavdar e data oficial da inauguração do Central Sports Klub Army Sofia, na época sob a alcunha Septemvri pri CDV.
O clube se esforçou para conseguir ganhar seu primeiro campeonato búlgaro, que aconteceu entre maio e setembro daquele ano. E foi emocionante o caminho percorrido até chegar à final. A disputa do título aconteceu em jogos de ida e volta no estádio Junak, e os alvi-rubros enfrentaram ninguém menos que o bicampeão nacional (e futuramente maior rival) Levsky Sofia. No primeiro jogo, venceu a lógica: Levsky 2 a 1. Só que os jogadores não desistiram – talvez até mesmo pela filosofia militar que tinha o clube – e conseguiram um histórico 3 a 1 no jogo de volta, vencendo seu primeiro título búlgaro logo em sua estréia. Foi apenas o primeiro de vários que o CSKA venceria.
Militares empreiteiros
O ano da história do time que sempre será lembrado é aquele em que o clube fez fortes melhorias organizacionais, em 1954. Um fã clube foi fundado, sob a direção de outro militar, o coronel Georgi Popov. O clube fortaleceu e ampliou suas relações internacionais. Além disso, surgiu a idéia de criar um centro de treinamento para produção de jogadores.
As melhorias administrativas trouxeram um resultado melhor que o esperado. Ainda no ano de 1954, o CSKA conquistou o campeonato búlgaro invicto e ainda bateu o recorde de gols marcados, 76. Para deixar ainda mais feliz a torcida, o jovem clube das cores vermelho e branco sagrou-se bicampeão da Copa do Exército Soviético.
Com base nas experiências que vários países aprovaram, no final da década de 50 o campeonato passou a acontecer como nos dias hoje, do outono até a primavera. Além disso, os dirigentes do clube perceberam a necessidade de fazer mudanças e inovações, entre elas a promoção dos garotos das categorias de base à equipe principal. Depois de alguns anos em jejum, outra grande mudança levou o time de volta aos títulos e glórias.
CDV, CDNA, CSKA, CFKA e só então CSKA Sofia
O CSKA é um clube marcado por ter trocado de nome várias vezes. Mas as trocas de nome geralmente trouxeram títulos, sendo consideradas então apenas um detalhe na história do clube rumo ao topo da Bulgária.
Já em 1951, apenas três anos após sua fundação, o clube Septemvri pri CDV passou a ser chamado CDNA (Casa Central do Exército do Povo). Nesse mesmo ano, ganhou seu segundo título nacional. Logo depois, o clube venceu nove campeonatos consecutivos, tornando-se o time búlgaro a conquistar mais troféus nacionais seguidos. Foi uma época de ouro: apenas um título perdido nos anos 50.
A década de 60 começou com um bicampeonato, e logo depois houve mais uma troca de nome. Na temporada 1962/3, em vista de algumas mudanças, a primeira região de Sofia tornou-se território do clube. A nova organização esportiva adotou então o nome CSKA Cherveno zname. Constituindo exceção, esse novo nome não trouxe sucesso ao clube, e o CSKA ganhou apenas um título búlgaro.
No inverno de 1968, o comunismo resultou em modificações no território da Bulgária e conseqüente renomeação dos clubes. A terceira região da Sofia e o clube Septemvri foram adicionados ao território do clube. O clube do exército mudou a alcunha para CSKA Septemvrijsko zname.
Ainda haveria mais um nome para os alvi-rubros antes do atual CSKA Sofia. No final da década de 80, dois títulos nacionais foram ganhos com o nome CFKA Sredec. Foi só em 1990 que o clube passou a ser aclamado pelas torcidas como hoje: CSKA Sofia.
Derrotando os grandes da Europa
Mesmo sendo o melhor time da Bulgária, o CSKA nunca ganhou um título europeu. No entanto, o clube derrotou algumas vezes grandes times do continente. Em 1960, os vermelhos búlgaros eliminaram a Juventus com uma goleada em Sofia: 4 a 1. Em 1973, o campeão europeu Ajax não suportou a pressão dos fanáticos Reds da arquibancada e sucumbiu na prorrogação por 2 a 0, no jogo considerado o mais importante da história do CSKA.
As duas vitórias em casa garantiram a classificação do maior clube búlgaro. Mas o time ainda não tinha tradição em vencer fora de casa. Até 1980. Nesse ano, o Nottingham Forest – campeão europeu da temporada anterior – sofreu duas derrotas por 1 a 0, uma delas em casa. O CSKA quebrou o tabu de só vencer em seus domínios na Copa dos Campeões.
Em 1981, o campeão europeu foi o Liverpool. Por coincidência, no ano seguinte os vermelhos ingleses tiveram que buscar a classificação para as semifinais em Sofia contra o time do exército. Mais uma vez, a torcida transformou o estádio num alçapão que eliminou os ingleses com outro 2 a 0.
Foi a última vez. Nos anos seguintes, o CSKA conseguiu apenas um empate com o Parma na Itália, válido pela fase eliminatória da Copa UEFA e em 1994 uma vitória por 3 a 2 sobre a Juventus em Sofia.
O 'Fantástico Trio'
No final dos anos 80, três jogadores fizeram a alegria dos torcedores vermelhos: Ljuboslav Penev, Emil Kostadinov e Hristo Stoichkov, que desembarcou no CSKA com o rótulo do craque-problema. Comandado por Dimitar Penev, o trio arrebentou as defesas adversárias, levou o CSKA a vencer seu maior rival duas vezes no campeonato e ainda conduziu o time ao 24º título do país. Stoichkov deixou de ser um craque-problema para se tornar apenas um craque.
Os três jogadores chamaram a atenção de vários grandes clubes da Europa, mas não deixaram o alvi-rubro de Sófia. O técnico Penev decidiu preservar os jogadores, treinando-os até chegarem ao auge antes de deixarem o clube. Foi a decisão mais sensata e também que trouxe melhores resultados para o clube e para os jogadores.
Dois anos depois, na temporada 1988/9, Ljuboslav Penev, Kostadinov e Stoichkov, contando com o apoio de Trifon Ivanov, entraram para a história de craques do CSKA. O futebol agressivo e ao mesmo tempo habilidoso dos três, aliado a Ivanov fechando a defesa do CSKA, garantiu um feito inédito ao clube mais importante da Bulgária. Pela primeira vez no país, um time ganhou os quatro campeonatos nacionais disputados: o campeonato nacional, as copas da Bulgária e do Exército Soviético e a Supercopa búlgara.
Um ano depois, o CSKA bateu novamente o recorde de gols marcados na Bulgária num único campeonato e levou título com direito a um chocolate de 5 a 0 no eterno rival Levsky. Dessa vez não deu pra segurar os craques mais importantes, e o 'trio fantástico' se desfez. Ljuboslav Penev foi vendido para o Valencia, e Kostadinov rumou para o Porto.
Stoichkov foi o mais importante dos três que levaram o CSKA a vários títulos. Ele foi apontado como melhor jogador da Bulgária em 1987, 1988 e 1989. Em 1990, ganhou a Chuteira de Ouro de maior goleador da Europa, com 38 gols. Infelizmente para os fanáticos torcedores, não deu pra segurar o assédio do Barcelona, e o maior jogador da história do CSKA foi embora deixando seu nome, jogadas, dribles, lançamentos e gols para sempre na memória e na história do futebol búlgaro.
Nunca mais o mesmo
A saída do 'trio fantástico' do CSKA Sofia deixou um vazio muito grande no clube. As vitórias nos anos 80 sobre os clubes europeus e os nove campeonatos consecutivos na década de 60 não foram tão comemorados como os títulos vencidos por Stoichkov e companhia. O clube nunca mais seria o mesmo.
Após a saída dos três, o CSKA cambaleou na Bulgária e só conseguiu dois títulos na década de 90. Durante esse período, a seleção da Bulgária conseguiu sua melhor colocação em Copas do Mundo graças aos talentos revelados pelo CSKA. Do 'trio fantástico', só Penev não foi para os Estados unidos disputar a Copa do Mundo. Mas Ivanov e Lechkov – que também jogaram no CSKA – foram titulares absolutos durante o torneio e decisivos na eliminação da Alemanha nas quartas-de-final.
Para a temporada de 2002/3, o CSKA contou com dois brasileiros no elenco: o zagueiro João Carlos, ex-Vasco, e Agnaldo, atacante que jogou no Fluminense. Não foi o time brilhante da era de Stoichkov, mas o clube garantiu seu 29º título do campeonato búlgaro. Foi uma vitória indiscutível, com duas rodadas de antecipação: em 24 partidas disputadas, o time teve o melhor ataque, com 62 gols, e também a melhor defesa, sofrendo apenas 13.
A era de Stoichkov passou e nunca mais retornará. Os tempos agora são outros, o clube tem vários estrangeiros no elenco. E esses estrangeiros trouxeram de novo a glória para o maior clube da Bulgária e o sorriso no rosto de uma das torcidas mais fanáticas do Leste Europeu.