Criciúma: O time do carvão
Ninguém pensa que um time de pouca expressão em um estado com pouca tradição no futebol possa conquistar algum título importante. Mas poucos times consagrados, com enormes torcidas espalhadas pelo país já tiveram a glória de vencer torneios como a Copa do Brasil.
A cidade de Criciúma tem como principal atividade a extração de carvão mineral. E foi assim que nasceu esse clube catarinense. Na década de 40, o assunto mais comentado nas minas eram justamente as partidas entre Ouro Preto, Atlético Operário, Barão do Rio Branco (de Içara) e Próspera, todos times da região. Porém, nenhum time defendia a parte central da cidade, o que intrigava os moradores e comerciantes da região. No dia 13 de maio de 1947, um grupo de jovens reunidos na frente do 'Monumentos dos Mineiros' fundou o Comerciário Esporte Clube, que depois se tornaria o Criciúma Esporte Clube.
Em 1948, o Comerciário organizou o Torneio de Futebol da Região Mineira. Esse torneio seria a base para a criação da Liga Atlética da Região Mineira (LARM) que nos anos seguintes promoveria disputados torneios entre as equipes da região. O Comerciário conquistou o tri-campeonato do torneio em 1949, 1950 e 1951. Nos anos seguintes, o time ficou sem títulos e perdeu um pouco do prestígio.
Duas décadas cheias de curiosidades…
Em 1955, a equipe voltou a conquistar a simpatia da população com a inauguração do Estádio Heriberto Hülse, conhecido na época como 'O Tanque'. Porém, a construção do Estádio do Comerciário foi um pouco conturbada. Quando o gramado ficou pronto, os jogadores do time perceberam que independentemente da hora em que a partida fosse realizada, o sol bateria de frente com a defesa. A posição do gramado teve que ser trocada. Também esqueceram de construir a arquibancada inclinada. Quem sentasse atrás não veria o campo, pois estaria no mesmo nível que a pessoa a sua frente. Pelo menos, a nova sede deu ânimo ao time, que em 1957 e 1958 voltou a ser campeão da LARM.
Os anos 60 foram magros para Comerciário. Principalmente pela força do Esporte Clube Metropol, principal time catarinense da época. O título mais importante veio das urnas. O Comerciário era muito discriminado pelos outros times da cidade por ser considerado um time de 'filhinhos de papai'. Para reverter a imagem, foi realizada uma eleição em 1964 para saber qual era o clube mais popular da região. O Comerciário foi campeão e eleito o 'mais querido' da cidade. O mais curioso da eleição foi que Lédio Burigo, um dos fundadores do clube, afirmou que alguns votos haviam sido comprados. Comprada ou não, a eleição animou o Comerciário, que dois anos depois lançou um plano de venda de títulos patrimoniais e conseguiu construir um complexo esportivo com piscina e ginásio. Em 1968, o Comerciário conquistou seu primeiro título de campeão catarinense.
Em 1970, o clube sofreu uma forte crise financeira e teve que interromper suas atividades no futebol profissional, só retomadas sete anos mais tarde, mas não com a mesma força de antes. Mesmo aparado por um bom apoio financeiro, faltava ao Comerciário o apoio da torcida.
Nasce o Tigre
Para atrair os torcedores dos extintos clubes Ouro Preto, Atlético Operário, Próspera (que na época estava inativo), Boa Vista e até do Metropol, o Comerciário passou por uma reformulação. Assim, em 2 de abril de 1978 foi fundado o Criciúma Esporte Clube. Em 1982 montou um grande time, mas os títulos ainda não haviam voltado.
Mesmo depois da troca de nome, o Criciúma ainda não tinha um grande apoio da torcida. Por isso, decidiu-se trocar também as cores (azul e branco) do time. Foram escolhidos o amarelo, que representa as riquezas da região, o preto, representando o carvão, e o branco, cor predominante em todos os clubes da região mineira de Santa Catarina. No dia 13 de maio de 1984, o Criciúma utilizou as novas cores no empate por 2 a 2 com o Joinville. Nascia o Tigre.
O primeiro título com novo nome e novas cores só veio em 1986, com a conquista do campeonato catarinense, e o triunfo na segunda divisão do campeonato brasileiro. Logo depois, em 1989, 1990 e 1991, o time foi tri-campeão catarinense.
A primeira 'Família Scolari'
Quando falamos da família Scolari logo lembramos de Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos, Marcos… Mas essa não foi a primeira família vitoriosa do técnico Luiz Felipe Scolari. No ínicio dos anos 90, Felipão formou no Criciúma sua primeira família. Os filhos não eram tão consagrados como os pentacampeões, mas também foram vitoriosos.
Em 1991, o Criciúma conquistou seu maior título: a Copa do Brasil. Comandado pelo então desconhecido técnico Luis Felipe Scolari, o time que contava com Roberto Cavalo, Vandelei, Grizzo e Jairo Lenzi eliminou equipes tradicionais do futebol brasileiro, como Atlético-MG, e conquistou o título após dois empates com o Grêmio na final (1 a 1 no Rio Grande do Sul e 0 a 0 em Santa Catarina).
Na década de 90, o Criciúma voltou a conquistar o campeonato catarinense, em 93, 95 e 98. No ano passado, o time foi campeão Série B do campeonato brasileiro pela segunda vez. Agora, o Tigre luta para se manter na elite do futebol brasileiro e, quem sabe, voltar a conquistar títulos importantes.