Bojinov: Prodígio dos Bálcãs

Dezembro de 2003: Hristo Stoichkov, o mais representativo jogador búlgaro de todos os tempos, despede-se dos gramados, aos 37 anos. Janeiro de 2004: um rapazote de 17 anos, também filho de terras balcânicas, marca seu primeiro gol na Série A italiana, tornando-se o mais jovem estrangeiro a fazê-lo. Fevereiro de 2004: o astro que, ao lado de Balakov, levara seu país ao quarto posto na Copa de dez anos antes vai ao jogo Lecce x Milan conhecer pessoalmente o candidato a sucessor, que celebrava seu 18º aniversário. Foi uma espécie de passagem de cetro do futebol da Bulgária.

Em maio, foi feita a convocação para a Eurocopa. Ser o mais precoce dos 368 selecionados para a competição deste ano foi apenas mais uma das proezas de Emilov Valeri Bojinov. Em 27 de janeiro de 2002, contando 15 anos, 11 meses e 12 dias de vida, debutou no calcio – recorde entre os ´stranieri´, antes pertencente ao grego Lampros Choutos. Para o torneio continental, o craque temporão foi chamado mesmo não havendo jogado uma partida sequer pelo ´scratch´ principal da Bulgária (soma duas na categoria sub-21). Sua ótima fase no Lecce e o presságio de que figurará entre os grandes da história – algo como o que aconteceu com Ronaldo em 1994 – persuadiram o técnico Plamen Markov a lhe dar essa oportunidade. ´´Gradualmente, estou começando a me sentir parte do time. Os companheiros estão me ajudando o tempo todo´´, disse Bojinov ao site oficial da Eurocopa.

Energia e agilidade

Berbatov, do Bayern Leverkusen, joga como único atacante no 4-5-1 de Markov. Se precisar de um segundo homem no setor ofensivo, o técnico poderá recorrer a Bojinov, cuja ligeireza o faz ser letal tanto pelo meio, cortando os zagueiros, quanto pelos flancos, servindo a um centroavante tradicional. Na temporada 2003/4, exerceu com maior freqüência este último papel, o de ´seconda punta´, como dizem os italianos. Fez três gols e ajudou o uruguaio Chevantón, que teve grande temporada, marcando 19 tentos.

´Il Falco´ (o Falcão), como já foi chamado em virtude da rapidez e da potência, tem 1,78 m e 78 kg. ´´Tem um físico extraordinário, sem um filete de gordura´´, segundo o manager do Lecce, Pantaleo Corvino. De fato, Bojinov não tem o feitio dum trombador grandalhão, tampouco o perfil do franzino cai-cai. É destro, mas quase ambidestro, dinâmico, bom cabeceador e bastante hábil, capaz de defender eficazmente a posse de bola até em piques aceleradíssimos rumo à meta adversária. Falta-lhe, porém, uma qualidade peculiar aos falcões: a precisão em momentos decisivos. Precipita-se nos arremates, afoba-se quando face a face com o arqueiro inimigo. Precisa, portanto, burilar a pontaria e tem muito tempo para isso.

Bom aluno

Apesar da ansiedade tipicamente juvenil em alguns lances, Bojinov revela uma maturidade acima da média. Delio Rossi, técnico da equipe salentina entre 2002 e 2004, costumava enaltecer a abnegação, a humildade e o intuito de evoluir do pupilo búlgaro. Tais fatores certamente contribuíram para torná-lo titular no certame 2003/4, suplantando o marfinense Konan. Parte da torcida prefere Vucinic, sérvio-montenegrino que ainda se recupera de uma cirurgia.

Como se vê, o Lecce dispõe de substitutos para a inevitável saída de Chevantón, todos eles pinçados por olheiros informais, em sua maioria amigos dos dirigentes. Bojinov chegou com 12 anos ao clube de Via del Mare. Descobriram-no no modesto Pietà Hotspurs, de Malta, para onde fora com o padrasto, Sasho Angelov, que integrou a seleção búlgara no início da década de 90, e a mãe, Petranka, ex-jogadora de basquete com passagens pelo selecionado nacional. O primeiro gol de Bojinov na Série A foi dedicado a ela.

Outro tento importante na incipiente carreira do ´bebè´ ocorreu na última rodada da Série B 2002/3, contra o Palermo. A vitória por 3 a 0 reconduziu o Lecce à elite, e o terceiro gol, um míssil depois de uma estocada fantástica, foi de Bojinov. Nesse dia, a Gazetta dello Sport deu-lhe 7,5 e uma bandeira búlgara surgiu nas arquibancadas. Por falar nas notas do famoso diário esportivo italiano, na vitória fora de casa contra a Reggina, na temporada 2003/4, Bojinov fez dois golaços e recebeu um 8, nota altíssima pelos padrões do jornal. Foi um feito considerável para um jogador, à época, de 17 anos.

No bojo…

É patente que o Lecce cresceu com a efetivação de Bojinov no time titular, mas também é inegável que, nas ausências de Chevantón, o ´bebè´ e Konan renderam pouco. Isso não atenua a paixão que a massa ´gialorossa´ nutre pelo búlgaro, que desde seus tempos de ´campeonato primavera´ (torneio de juniores da ´Bota´) impressiona a todos que o vêem jogar.

O talento aguçado e a idade instigam a cobiça de grandes clubes europeus, como o Arsenal e o Barcelona, no qual Stoichkov passou a trabalhar. Dentro da Itália, a Inter e a Lazio manifestaram interesse de forma mais concreta, mas existe a chance de Bojinov ficar mais uma ou duas temporadas no Lecce. Enquanto desdobram-se as negociações que decidirão seu futuro profissional, esse ´homem entre garotos´, como o definiam aqueles que o observavam nas categorias de base, sonha com a chegada da noiva Vania à Itália e com uma brecha na seleção búlgara, se possível ainda na Eurocopa.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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