Banho de Bola

Esporadicamente, surge nas discussões futebolísticas a questão da importância do técnico de futebol. Enquanto alguns atribuem-lhe grande parcela de responsabilidade pelos resultados práticos vistos em campo, outros preferem minimizar sua influência. Roberto Assaf integra o primeiro grupo. ´´Banho de Bola´´ é, essencialmente, uma pesquisa sobre treinadores, rica em pormenores e curiosidades. Das três partes que o compõem, a dedicada aos estrategistas da bola – desde os precursores ingleses Tom Rawthorne e Tom Slaney até os atuais – é a mais extensa e também a mais interessante.
Falemos, antes, dos dois outros segmentos do livro. ´´Espetáculos versus resultados´´ tem seis páginas e apenas orienta o olhar inicial do leitor, já que seu conteúdo é retomado posteriormente. ´´O Brasil na Copa do Mundo´´ é um adendo desnecessário, embora o autor nele veja ´´fatos que possam ter passado despercebidos´´. A revista Placar, por exemplo, trouxe em 1976 relatos minuciosos das campanhas brasileiras em Copas até então, e sua abordagem mostrou-se bem mais abrangente do que a de Assaf. Isso não significa que o autor dispunha de dados insuficientes para um enfoque mais esmiuçado; apenas revela a inadequação desse capítulo ao livro, visto que mereceria, talvez, um estudo à parte, no qual o autor pudesse expor, com mais espaço e detalhes, seu ótimo acervo memorialístico, já exibido em outras publicações e no cotidiano de seu trabalho jornalístico.
Na maior e melhor fatia do livro, o leitor se deleita com a verve de Gentil Cardoso, com a concepção do ´Wunderteam´ austríaco dos anos 30, com o trabalho de Gusztav Sebes à frente da estupenda seleção húngara de 1954. Assaf narra as proezas e os equívocos dos técnicos mais relevantes da história com um encadeamento preciso, apesar da dificuldade que isso pode ter gerado. Afinal, discorre-se sobre profissionais de diversos cantos da Europa e da América do Sul, e nem sempre é fácil estabelecer correlações entre eles.
Alguém poderia conjeturar que um texto repleto de pequenas biografias, recheadas de datas e estatísticas, tende a aborrecer o leitor. Entretanto, não é isso que acontece durante a leitura de ´´Banho de Bola´´. Tais informações não aparecem em listas cansativas de números intermináveis, mas sim com muita naturalidade, à medida que os segredos dos esquemas e as personalidades dos técnicos vão sendo descritos. Também se equivocaria aquele que vinculasse o alto grau de exatidão do estudo a uma possível frieza e imparcialidade nas análises nele contidas. Como o teor do livro pretende ser o de uma boa discussão de botequim, não faltam opiniões polêmicas.
O entendido e o leigo decerto apreciarão o livro, que no tocante à evolução tática do jogo é didático sem ser maçante. Algumas conclusões insólitas poderão ser tiradas, como a de que o discurso dos treinadores não mudou quase nada nas últimas cinco décadas. Trata-se de uma leitura agradável, sem dúvida, ainda que não se concorde com as teses de Assaf ou com sua escolha de técnicos tematizados, que inclui ninguém menos que Joel Santana mas exclui Foguinho – nome importante do futebol gaúcho – e Paulo César Carpegiani.