Aucas: A primeira vez aos 60 anos?

Em 2005, o Aucas está completando 60 anos de idade. Apesar de já ter vivido tantas décadas no futebol, jamais faturou um título equatoriano na primeira divisão, ao contrário de oito adversários seus. Porém, essa fila pode estar chegando ao fim. No Torneio Apertura, a equipe está apenas três pontos atrás do líder – a LDU – e encontra-se na terceira posição (considerando até a oitava rodada). Pelo andar da carruagem, poderemos acompanhar dois fatos inéditos na história do clube: a volta olímpica e a conquista de uma vaga na Copa Libertadores. Haja comemoração!
Combustível para o surgimento
O nascimento do Aucas ocorreu graças ao aparecimento de uma companhia norte-americana bem conhecida por todos nós: a Shell. Em 1945, ela explorava depósitos de petróleo no leste do Equador. Seu gerente, junto de dois equatorianos (um engenheiro e um jogador de futebol), resolveram criar um time. As cores escolhidas foram o amarelo e o vermelho, para representar a Shell e a bandeira da província de Pichincha – local onde foi fundado o Aucas. Até no distintivo ficou o registro de uma outra homenagem. Dentro da letra ‘A’, pode ser visto um índio de uma tribo moradora da região. O nome da tribo, aliás, já é bem familiar para o leitor: Auca.
Os primeiros a vestir a camisa do Aucas foram ex-integrantes do Titán, uma equipe que, antes, havia sido a seleção militar. Na época, o campeonato equatoriano ainda não existia. Então, a solução era disputar o campeonato amador de Pichincha. De 1945 a 1949, só deu Aucas, que foi pentacampeão. Em 1951, voltou ao topo. No torneio nacional, o time passou a maior parte de sua história alternando-se entre a primeira e a segunda divisão.
Viagem internacional não será novidade
Participar de uma competição internacional não será nenhuma novidade para o Aucas. No dia 31 de julho de 2001, ele estreava na Copa Merconorte, perdendo para o Necaxa em seus próprios domínios. Deixando de lado a derrota e a má campanha (último lugar no grupo A), vale ressaltar que a permanência no cenário continental foi mantida, pois o time também esteve presente nas edições de 2002 e de 2004 da Copa Sul-Americana.
Além disso, um ex-atleta do elenco também já ultrapassou as fronteiras do Equador e foi motivo de orgulho. E foi uma viagem bem longa. A seleção nacional estreou em Copas do Mundo em 2002. Fazendo parte da delegação, estava um representante do Aucas: o zagueiro Geovanny Espinoza. Convocado pelo técnico Hernán Darío Gómez, ele não teve a oportunidade de entrar em campo, mas, sem dúvida, nunca se esquecerá dessa experiência.
A passagem agitada de Higuita
Quando o nome Higuita é pronunciado ou escrito, o que nos vem à cabeça? Abusado, trapalhão, bom cobrador de pênaltis e um mau exemplo fora dos gramados em determinadas ocasiões. Ao desembarcar no Aucas, em janeiro de 2004, o goleiro era uma esperança para a torcida, que não demorou a lhe dar demonstrações de idolatria. Um exemplo é o grito de guerra: “Que lo vengan a ver / que lo vengan a ver/ ese si es um arquero / es um arquero de selección / Higuita”.
Eram muitos aqueles que confiavam no novo reforço, principalmente pelo fato de se tratar de uma pessoa que já havia disputado uma Copa do Mundo (1990) e também possuía um título da Copa Libertadores em seu currículo (1989, com o Atlético Nacional). No entanto, os 37 anos de Higuita e sua constante falta de seriedade não eram tão animadores.
Analisando a passagem do colombiano pelo clube, pode-se até enxergar algo bastante positivo. Se levarmos em conta todas as partidas dos Torneios Apertura e Finalización (primeira e segunda fase do campeonato equatoriano, respectivamente), em 2004, o Aucas teve a defesa menos vazada. Mas o que ficará na memória, além de duas faltas a treinamentos, são dois episódios ocorridos durante o hexagonal final do campeonato equatoriano, que acabaram prejudicando a equipe e a imagem de Higuita.
Naquela fase, o Aucas teria pela frente, como primeiro obstáculo, o Olmedo. Após a partida, cujo placar apontou uma vitória de 2 a 1, Higuita foi obrigado a fazer o exame antidoping. O resultado, divulgado um mês depois, apontou a presença de cocaína em sua urina. Como conseqüência, o atleta foi dispensado do elenco e suspenso por seis meses.
O outro acontecimento pode ser comparado ao famoso gol do camaronês Roger Milla, na Copa do Mundo de 1990. Nesta vez, a diferença foi que Higuita percorreu um caminho maior com a bola nos pés. Em campo, estavam Aucas e El Nacional. Ele resolveu sair de sua área driblando, até que chegou à metade do campo e perdeu a bola para Erick de Jesús. Gol do adversário e derrota por 2 a 0, em casa.
Todos querem fazer gols
Se um colombiano não deixou uma boa impressão, outro vem realizando um excelente trabalho: o treinador Javier Álvarez. Escolhido para substituir seu compatriota Luis Fernando Suárez, que foi contratado pela seleção equatoriana, ele assumiu o comando do Aucas em agosto de 2004. Em breve, poderá se tornar um herói, por tudo o que foi dito no parágrafo inicial.
Planejada ou não por Álvarez, uma coisa é bem clara na trajetória do Aucas no Apertura 2005: a responsabilidade de fazer gols é dividida entre vários jogadores. Nove nomes contribuíram para os 11 tentos da equipe (John Tenorio, Manuel Cotera, Wilman Conde, Luis Rojas, José Estrada, José Cortez, Rolando Parrales, Renán Calle e Vilson Rosero). Daqui a um certo tempo, uma outra divisão poderá ser vista. Caso o troféu seja conquistado, muita gente irá erguê-lo.