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A redenção do Tigre: um Falcao à moda antiga ressurge

Por Bruno Bonsanti

Quanto maior o salto, maior a queda. E quanto maior a queda, maior também a recuperação. Falcao estava muito alto quando caiu. Era um dos melhores atacantes do mundo. Tinha todas as armas: corpo, técnica e faro artilheiro. Depois de brilhar no Porto e no Atlético de Madrid, era esperado que acertasse com algum gigante da Europa, mas o Monaco arrebatou seus serviços por € 43 milhões. Pode usufruir deles em plena potência por apenas um semestre, até Falcao sofrer a séria lesão que o cortou da Copa do Mundo e colocou sua carreira em risco. Um forte baque, uma longa queda. Mas Falcao, 31 anos, enfim, dá sinais de recuperação. Nesta terça-feira, ressurgiu o Tigre à moda-antiga contra o Manchester City.

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Falcao teve a chance de ampliar a vantagem do Monaco para 3 a 1 e bateu muito mal o pênalti. Recebeu, também, a oportunidade de retomar sua carreira no Manchester United, depois no Chelsea, e não conseguiu. Estava tudo errado. Havia vontade, mas não havia físico, ritmo, tempo de bola, potência. Confiança. Foi para a Copa América e, mesmo no ambiente receptivo da seleção colombiana, continuava parecendo outro jogador. Por isso, o golaço que marcou sobre o City foi tanto a redenção do erro desta quarta-feira quanto de duas temporadas apagadíssimas. Uma ressurreição dupla resumida em um único lance.

Os sinais estavam presentes para todos apreciarem. Falcao é o terceiro artilheiro da Ligue 1, com 16 gols – quatro de pênalti – em 20 partidas, um a cada 81 minutos, marca superada apenas por Cavani nesta edição do Francês. Lidera o ataque arrasador do Monaco, o melhor das principais ligas europeias, com 76 tentos em 26 rodadas. No total, em todas as competições já tem 23. Para efeitos de comparação, sua melhor temporada na Europa foi a de 2010/11, com o Porto, quando marcou 38 vezes. Talvez não chegue a tanto desta vez, mas provavelmente não ficará tão longe.

O Monaco colhe os frutos de ter dado um voto de confiança para o atacante que não conseguiu se firmar em um Manchester United insípido ofensivamente, sob o comando de Louis van Gaal, e nem aproveitou a temporada ruim do Chelsea – décimo lugar na Premier League 2015/16 – para ganhar mais minutos de jogo. Sofreu com uma lesão na virilha em sua passagem por Stamford Bridge, que terminou com apenas 12 partidas e um gol. Não fosse esse voto de confiança, a equipe do Principado não teria um atacante letal e decisivo nas oitavas de final da Champions League.

É o que Falcao foi: letal. Na hora que Bernardo Silva recebe de Fabinho, o colombiano já aponta para a área. Queria o cruzamento, queria a bola. Segura o passo para não ficar impedido. Espera a definição da jogada. Fabinho domina e prepara o cruzamento, ao mesmo tempo em que Falcao avançava para a segunda trave. Executou o peixinho com tempo de bola perfeito para fazer 1 a 0. Centroavante puro, cuja mesma presença de área sofreu o pênalti cometido por Otamendi e que ele, em um lapso de concentração, bateu mal demais, para defesa fácil de Caballero.

Mas, se depender de mim, está tudo desculpado graças ao que ele fez em seguida. No terceiro gol do Monaco, apareceu o melhor do Falcao pré-lesão. O Falcao da técnica, da força e da finalização exuberante. Recebeu o lançamento no bico esquerdo da grande área e protegeu com o corpo. A bola veio pela sua esquerda, mas ele mexeu as pernas com rapidez para que ela passasse para a direita. Com um único toque usando a parte de fora do pé direito, tirou Stones da jogada. Com outro, evitou o desarme e adiantou para o meio da grande área. Com um terceiro, fez uma obra de arte. Encobriu Caballero, que estava adiantado, mas não muito adiantado. Não havia muito espaço sobrando para a bola realizar sua parábola em direção às redes. A finalização tinha que ser muito precisa. E foi.

A reação do Manchester City, que eventualmente venceu o jogo por 5 a 3, reduz um pouco a importância da atuação de Falcao dentro do universo das oitavas de final da Champions League – por mais que ela seja essencial para o Monaco poder vencer por até 4 a 2 em casa para se classificar. Mas ela continua sendo um alento para o torcedor do Monaco, da Colômbia e do futebol que vê ressurgir, nem que seja por apenas alguns minutos, um dos melhores atacantes de tempos recentes. A esperança, porém, é de que seja ainda por muitos anos.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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