90 Minutos de Sabedoria

Sabedoria não tem tamanho. Pode vir em uma tese de mestrado com centenas de páginas ou em pequenas frases lançadas em conversas ou entrevistas. Sabedoria não tem glamour. Pode vir de gente famosa durante uma entrevista ou de anônimos em conversas de rua. Sabedoria não tem campo de atuação pré-estabelecido. Pode estar na economia, na política ou no futebol nosso de cada dia. E, quando o assunto é futebol, a sabedoria é de domínio público. Já se falou tanta coisa a respeito do futebol desde que Charles Miller desembarcou aqui com a primeira bola debaixo do braço que a idéia de uma coletânea de frases sobre o esporte não parece uma má idéia.

E realmente não é. Tanto que o jornalista pernambucano Ivan Maurício resolveu pinçar, aqui e ali, algumas da mais importantes e significativas frases já proferidas a respeito desse esporte. O resultado desse ‘jogo’ de palavras está em “90 Minutos de Sabedoria – A Filosofia do Futebol em Frases Inesquecíveis”. Em 131 páginas, Ivan expõe o que de melhor – e de pior, também – já se falou sobre o esporte bretão no país.

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A escalação do time de frasistas é eclética. Tem os escritores Albert Camus e Françoise Sagan, passa pelos jornalistas José Trajano, Juca Kfouri, Juarez Soares e mais outros, pelo escritor e dublê de mago Paulo Coelho, por Vinícius de Moraes e Plínio Marcos e, claro, por jogadores e técnicos. Parreira (“gol é detalhe”), Gentil Cardoso e Lazaroni dão as caras no livro, assim como Marcelinho Carioca, Didi, Zizinho, Mirandinha (o segundo, ex-atacante do Corinthians no fim da década de 90), entre outros. As frases vem dispostas em ordem alfabética, obedecendo ao tópico a que se referem. Alguns jogadores têm direito a tópicos próprios, como Pelé, Zizinho, Didi e Dadá Maravilha.

Sintomaticamente, as melhores frases do livro são aquelas ditas por Neném Prancha, Nélson Rodrigues, João Saldanha e as que vêm do povo. O jeito despachado e irreverente daquele que é tido como um dos maiores filósofos da bola deste lado da Linha do Equador encontra um saboroso contraponto na eloqüência e sobriedade do dramaturgo Rodrigues e no temperamento irascível do falecido jornalista e ex-técnico da seleção brasileira de 1970. Quanto às frases populares, fica aquele famoso ditado: “a voz do povo é a voz de Deus”.

O título – que remete ao best-seller “Minutos de Sabedoria”, onde diz-se que a solução dos problemas está no abrir de uma página – é válido, e o livro é uma boa leitura para quem gosta de futebol. Apenas duas penalidades a marcar: a falta de atualização das informações dos autores das frases no final do livro e a falta de um tópico falando somente de Barbosa, o injustiçado goleiro da malfadada Seleção de 1950. Embora o tópico “goleiro” comece e termine com duas frases de Barbosa, ele – até pelo personagem que é – merecia mais espaço neste livro tão interessante.

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Equipe Trivela

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