Portugal

Fragilizados, técnicos são trocados a todo instante em Portugal

Há pouco mais de dois meses, a coluna abordava a dança dos técnicos no futebol português. Na época, aquilo já parecia inexplicável e de proporções difíceis de serem aumentadas. Mas aumentaram, especialmente nesta semana, que teve três demissões de treinadores em apenas dois dias.

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Agora, já são 17 trocas de técnicos em 13 clubes da primeira divisão lusitana. Destas, somente duas ocorreram porque os próprios treinadores quiseram sair. Foram os casos de Jorge Simão, que trocou o Desportivo Chaves pelo Braga e de Lito Vidigal, que deixou o Arouca para trabalhar no Maccabi Tel Aviv, de Israel. Ou seja, as outras 15 aconteceram por demissões.

A lista das últimas três vítimas é encabeçada por Manuel Machado (foto), demitido do Arouca apenas um mês e uma semana após ser contratado. A “justificativa” foram as cinco derrotas nos cinco jogos disputados ao longo deste período.

Além dele, também engrossaram a fila dos desempregados o sérvio Predrag Jokanovic, dispensado pelo Nacional, e Augusto Inácio, que estava no Moreirense. Inácio, aliás, é o mesmo que em janeiro havia conduzido o pequeno clube à épica conquista da Taça da Liga, mas que agora não aguentou a pressão de brigar contra o rebaixamento.

Dos 18 times que disputam o Campeonato Português, apenas cinco se mantêm com o mesmo técnico desde o início da competição: Benfica (Rui Vitória), Porto (Nuno Espírito Santo), Sporting (Jorge Jesus), Vitória de Guimarães (Pedro Martins) e Vitória de Setúbal (José Couceiro). O curioso é que Rui Vitória e Jorge Jesus, mesmo sem duas temporadas completas à frente de suas respectivas equipes, já são os técnicos mais longevos no cargo entre os comandantes de times da primeira divisão.

A intensa troca de comando chama a atenção e mostra, além da incoerência de muitos dirigentes, a fragilidade dos treinadores que trabalham em Portugal. Eles reclamam, por exemplo, dos baixos salários e dos curtos tempos de contrato. São, no fundo, uma categoria fragilizada, ainda que isso não se aplique aos comandantes das grandes equipes.

O que nem todos os clubes enxergam é que não pode ser coincidência o fato de que quatro dos cinco primeiros colocados do campeonato nacional serem times que não trocaram de treinador. O que nem todos os técnicos enxergam é que, enquanto não se unirem, a fragilidade de uma profissão – que por si só já é alvo constante de críticas de todas as partes – continuará sendo mais um grande empecilho para a realização do trabalho.

 

Foto de Anderson Santos

Anderson Santos

Membro do Na Bancada, professor da Unidade Educacional Santana do Ipanema da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), doutorando em Comunicação na Universidade de Brasília (UnB) e autor do livro “Os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol” (Appris, 2019).
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