Enquanto o Marítimo encerrou uma era de 38 temporadas na elite, o Estrela da Amadora está de volta após 14 anos
O Estrela da Amadora faliu e precisou ser refundado, conquistando seu segundo acesso em três anos; já o Marítimo vinha de uma passagem pela primeira divisão que rendeu nove classificações às copas europeias

O Campeonato Português concluiu neste final de semana os playoffs de rebaixamento / acesso da primeira divisão. Santa Clara e Paços de Ferreira já tinham caído, enquanto Moreirense e Farense subiram diretamente. A última vaga na elite em 2023/24 teve um duelo de peso, entre a luta do Marítimo pela permanência e a chance de promoção ao Estrela da Amadora. No fim das contas, acontece uma troca simbólica para a Primeira Liga. O acesso do Estrela representa um retorno à primeira divisão após 14 anos, num processo que teve a falência do clube e a reconstrução nas divisões de acesso. Enquanto isso, a queda do Marítimo marca o fim de uma estadia de 38 anos na primeira divisão. A próxima edição da liga não terá representantes das ilhas.
O Marítimo fez uma campanha na qual flertou com o rebaixamento durante toda a temporada. Os verde-rubros passaram as primeiras 21 rodadas na zona de rebaixamento direto. Só a partir de então deixaram o Z-2, mas ainda assim sem nunca fugir da antepenúltima colocação e do risco de playoffs. O 16° lugar não era exatamente surpreendente, pela queda de rendimento dos madeirenses nas temporadas mais recentes, mas contrapunha o longo histórico na primeira divisão e o papel relevante que o time teve dentro da liga a partir dos anos 1990 – com direito a nove classificações ao menos para as preliminares de Copa da Uefa / Liga Europa.
Por outro lado, o Estrela da Amadora representa uma grande reconstrução. Os tricolores se tornaram participantes costumeiros da primeira divisão de Portugal a partir de 1988/89. Chegaram a conquistar a Taça de Portugal em 1989/90 e somaram 16 aparições na elite, até o início de uma grave crise financeira. Por conta das dívidas e dos salários atrasados, o Estrela foi rebaixado em 2008/09 da primeira para a terceira divisão – mesmo sem cair em campo. Tal processo culminaria na extinção da equipe em 2011. Formou-se então um novo Estrela, que se fundiu com o Sintra em 2020. O novo time conquistou o acesso na terceira divisão de imediato em 2020/21 e, na atual temporada, descolou a terceira posição na segundona – o que rendeu os playoffs.
O primeiro jogo dos playoffs aconteceu em 3 de junho. Dentro de casa, o Estrela da Amadora venceu por 2 a 1. Régis N'Do e Jean Felipe anotaram os gols, enquanto Cláudio Winck descontou para o Marítimo no final. Já neste domingo, nem mesmo o dramático 2 a 1 arrancado pelo Marítimo auxiliou. Os madeirenses fizeram o primeiro com Xadas e tomaram o empate de Miguel Lopes no primeiro tempo. O gol salvador aconteceu aos 51 do segundo tempo, num cruzamento de Cláudio Winck para a cabeçada de Chuchu Ramírez. Porém, nos pênaltis, o Estrela venceu por 3 a 2 e garantiu o acesso. O renascimento dos tricolores se torna completo.
O Marítimo conta com uma série de brasileiros na equipe. Marcelo Carné, Cláudio Winck, Renê Santos, João Afonso, Val Soares e Matheus Costa passaram dos mil minutos na campanha. Não evitaram o fim de um período que confirmou a importância do Marítimo entre os principais clubes de Portugal – com a primazia de possuir ainda um título da Taça de Portugal em 1925/26. Já o renascimento do Estrela da Amadora também conta com muitos jogadores do Brasil. Bruno Brígido, Jean Felipe, Mansur, Aloísio, Gustavo Henrique e Ronald superaram os mil minutos na segundona.
O Estrela da Amadora chegará à primeira divisão sob nova direção. Em maio, o clube anunciou a venda de 90% de sua Sociedade Anônima Desportiva (SAD, a SAF dos portugueses) para o grupo americano My Football Club. Os novos donos almejam comprar outros quatro times ao redor do mundo e contam com uma série de investidores, alguns de renome. Patrice Evra está entre as personalidades envolvidas no projeto. A empresa, que já teve outras experiências de menor expressão no futebol, promete aproximar os torcedores da tomada de decisões do dia a dia do clube. É ver como será a repercussão disso na elite de Portugal.
O final de semana também marcou o rebaixamento da B-SAD, a antiga dona dos direitos do Belenenses, da segunda para a terceira divisão do Campeonato Português. Depois do empate por 1 a 1 na ida dos playoffs, a equipe perdeu a volta por 1 a 0 em casa para o Länk Vilaverdense. A queda da B-SAD ocorre na mesma temporada em que o Belenenses, refundado pelos torcedores e com os direitos recuperados, conseguiu subir para a segunda divisão – em seu quinto acesso consecutivo. O União de Leiria foi outro a subir. Já o Länk Vilaverdense chama atenção por ter proprietários canadenses em sua SAD.