Portugal

A hora do Incrível Hulk

O Campeonato Português é visto como uma espécie de “patinho feio” dentre aquelas ligas consideradas mais “famosas” da Europa. Por vezes conta com jogadores brasileiros que acabam se destacando, mas mesmo quando esses fazem chover na temporada, ainda são vistos com bastante desconfiança – em alguns casos, com justiça, diga-se.

No entanto, o futebol que tem apresentado Givanildo Vieira de Souza com a camisa do Porto tem sido acima da média, e fez questão de mostrar isso na partida que mais dele se exigiria na atual época: o clássico contra o Benfica. E na goleada por 5 a 0 sobre o maior rival, Hulk foi mais uma vez o grande destaque, firmando-se como o grande nome da Liga Zon Sagres 2010/11.

A própria presença do brasileiro fez com que até o sempre confiante Jorge Jesus refletisse na forma como o Benfica deveria atuar. Preocupado com o perigo que Hulk causava, o treinador puxou David Luiz para a esquerda, com a intenção de impedir os avanços do atacante por aquele setor. No entanto, o zagueiro convocado por Mano Menezes encontrou enormes dificuldades para parar Hulk.

Enquanto isso, o time encarnado, visivelmente perdido, viu que não bastava tentar apenas bloquear o brasileiro, e que a organização tática dos donos da casa já havia levado os portistas a dominar o restante do gramado. Quando Jesus percebeu que o estrago fora feito, era tarde demais, e Hulk já deixava David Luiz na saudade, tal qual o Porto, que, como disse O Jogo, deu “um baile” nas Águias.

O segundo tempo de Hulk foi ainda melhor que o primeiro. Coentrão, que passou boa parte da etapa inicial tendo que ajudar David Luiz no setor esquerdo da defesa, acabou recuado de vez para a lateral. Sozinho, o lateral não conseguiu segurar Givanildo, e teve uma de suas atuações mais fracas com a camisa encarnada. Muito pela dificuldade em parar o portista.

O lance mais simbólico foi justamente o que resultou no quarto gol, já no fim da partida, quando Hulk, alçado nas costas de Coentrão, saiu atrás do rival, ganhou na força e na velocidade e só acabou parado em um pênalti desesperado do português. Fez ainda um golaço, nos acréscimos da segunda etapa, fechando o marcador e mais uma atuação de gala na liga.

A atuação contra o Benfica foi aquela para ratificar o momento excepcional que vive o atacante. E não é de agora, à bem da verdade, ainda que seja nesta temporada que Hulk esteja ficando em maior evidência. Desde que chegou a Portugal, em 2008, o brasileiro já vinha chamando atenção, mesmo não sendo titular e disputando posição com outros jogadores, como Farias e Cristian Rodriguez.

Em 2009/10, assumiu vaga no onze ao lado de Falcão Garcia, e enquanto esteve em campo, manteve o Porto na briga pelo título. No entanto, acabou suspenso por praticamente todo o torneio após confusão no túnel do Estádio da Luz, após clássico contra as Águias. Suspensão essa aplicada com base em um artigo equivocado e acabou anulada, quando já era tarde para os Dragões alcançarem o caneco.

Na atual temporada, Hulk vem sendo quase que um “espelho” da regularidade do Porto. É o artilheiro da competição com 10 gols – em 10 partidas -, e na atual época já marcou 15 vezes em 15 jogos, mesmo não sendo centroavante. Ganhou, ainda, o prêmio de melhor jogador da Liga Zon Sagres nos meses de setembro e outubro, e segue firme para ratificar o posto em novembro.

A grande fase do atacante revelado pelo Vitória – mas que deixou Salvador ainda muito cedo para jogar no futebol japonês – não se dá ao acaso. Hulk é sim um jogador de recursos técnicos. Tem bom domínio de bola e caracteriza-se principalmente por sua explosão, auxiliada não só pela sua velocidade, mas pela considerável força física – adequada a seu apelido.

Claro que se deve ponderar alguns fatores, como o Porto, apesar de ter atropelado o Benfica, ter superado rivais bem mais limitados no cenário nacional, além de não estar atuando na Liga dos Campeões, mas na Liga Europa. Não se pode esquecer que o conjunto portista dá grande auxílio ao brasileiro, com a qualidade de jogadores como Falcão à frente, Belluschi e Moutinho na armação.

Ainda assim, são três anos seguidos que Hulk tem mostrado condições de ser não somente o grande nome da liga portuguesa e mesmo de competições européias pelo Porto, mas de receber oportunidades na seleção brasileira, que vive estágio de renovação com Mano Menezes. Vive fase melhor que Robinho (não se entra no mérito aqui do quesito técnico) e está mais na ativa que André, por exemplo.

Houve, naturalmente, quem, ao ver seu nome em uma das últimas listas de Dunga, acreditasse se tratar de um novo Afonso Alves, principalmente aquela parte da imprensa que rechaça quem não atua nas quatro principais ligas do planeta ou no próprio Brasileirão, sem ao menos ter tentado ver o “gajo” jogar. Quem viu o que o “Incrível” fez com o Benfica domingo último certamente apagou qualquer comparação com o atacante ex-Heerenveen.

Sinais vermelhos

O sucesso de Hulk e do Porto tem seu oposto vivido por Benfica e Sporting. Os Encarnados, surrados pelos Dragões, encontram-se 10 pontos atrás do líder do campeonato, com 1/3 do torneio já disputado e cientes de que dificilmente os portistas tropeçarão tantas vezes na temporada. A cada dia, notam as dificuldades de depender quase que unicamente de Coentrão, Aimar e Carlos Martins, sendo o lateral o mais regular deles – tanto que, por isso, Jorge Jesus tenta puxá-lo sempre que possível ao meio.

E aí reside outro problema: Jesus tem “vestido a camisa” que, aqui no Brasil, pertence a nomes como Mário Sérgio ou Adilson Batista: a de professor Pardal. Se André Villas-Boas fez o simples e manteve o modo de atuação de seu Porto contra o Benfica, como entender o treinador das Águias, justamente quando deveria seguir com seu padrão de jogo, resolveu alterá-lo, desentrosando a defesa e perdendo Coentrão para ajudar um necessitado David Luiz na marcação.

O treinador benfiquista foi duramente criticado após o fracasso no Dragão, e fatalmente uma eliminação na primeira fase da Liga dos Campeões será crucial para uma demissão, que só não ocorre com tanta velocidade porque Jesus conta com uma elevada cláusula de rescisão. E além disso, por enquanto, não parecem haver nomes de peso para assumir o time que mais pressão sofre em Portugal.

O Sporting, por sua vez, sofreu um baque dos mais inesperados. Após perder a primeira, mesmo que com alguns tantos reservas, na Liga Europa, a derrota para o Vitória de Guimarães caiu como uma bomba. Nem tanto pelo adversário, que faz temporada muito boa sob o comando de Manuel Machado, mas pela forma como o time entrou em frangalhos após perder Maniche, bisonhamente expulso. E, claro, pelo tropeço ser em pleno Alvalade.

O técnico leonino, Paulo Sérgio, também está em situação delicada, e tem como sustentação a falta de concorrentes no mercado. No entanto, está claro que o treinador não tem conseguido manter uma regularidade, nem transparece ser tão enérgico com um time que intercala atuações bastante convincentes com outras em que se tenta entender no que efetivamente estão pensando os jogadores.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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