Torcedor relata: “Nada se aproxima do que vi no Japão”

Meu pai nunca foi muito fã de futebol. Nem de música. Ainda assim, me tornei um completo fanático por ambos. Ele sempre se proclamou torcedor do Santos, talvez para cutucar os dois filhos corintianos – segundo meu padrinho, são-paulino fervoroso. Ele mesmo considera uma falha dele não termos sido tricolores. O fato é que, por não ter tido uma influencia tão forte (e sou grato por isso), cresci frequentando todos os estádios e torcidas. Isso me permitiu ser um legitimo apaixonado por futebol. Por sinal, o Parque Antártica, na minha humilde opinião, era o melhor estádio para assistir uma partida – assim como o simpático Canindé e o “nosso” Pacaembu. E por este mesmo motivo, consegui acompanhar, talvez com impressionante isenção, os rivais que venceram durante os anos 1990 e começo de 2000.
O São Paulo do mestre Tele era um esquadrão que dava gosto de ver. Bateu todo mundo na América e, com muita propriedade, os impensáveis Barcelona e Milan. Vi ainda os fortes Grêmio e Cruzeiro perderem para Ajax e Borussia Dortmund (respectivamente), e o imbatível Vasco ser batido pelo, aí sim, imbatível Real Madrid. Lembro de ter ficado com uma ponta de tristeza pelo frango do incontestável Marcão (junto com Taffarel, os mais importantes arqueiros brasileiros da minha geração) na injusta derrota para o Manchester United. Ver seu time no Japão, ainda que não fosse reconhecido oficialmente pela Fifa (e já houvesse a conversa sobre o descaso dos europeus), era um jogão esperado o ano todo para aqueles que venciam a tão sonhada Libertadores.
Meu Coringão cresceu, venceu e se estruturou como time neste cenário. Sofremos por anos com o bullying de sermos “apenas” os maiores campeões do Paulistão – que nos últimos anos voltou a ser valorizado e comemorado por todo mundo. Isso gerou uma espécie de síndrome de superioridade, especialmente nos são-paulinos – claro, não todos (odeio as generalizações que são feitas com qualquer torcida). Mas, talvez, o fato de o tricolor ter vivido apenas glorias e conquistas, e nem sequer uma disputa daquelas pra não cair pra segundona, tenha criado uma certa empáfia nos torcedores que insistem em dizer que temos uma obsessão pela Libertadores e pelo Mundial. Não temos. Apenas queremos ganhar, como todo mundo.
Nós, corintianos, não temos obsessão alguma em alcançar os são-paulinos – talvez em alcançar o Independiente, o Boca Juniors ou o Peñarol. E nem estou falando aqui de Barcelona, Milan, Real Madrid e Bayern de Munique esses, sim, grandes campeões da historia. O São Paulo foi um grande (talvez o maior) dos anos 90. Atualmente, é uma disputa em aberto. E uma disputa que fica em torno das saudáveis rivalidades. Já sinto saudades do Palmeiras… Esses, sim, nossos grandes rivais. Tomara que caprichem ano que vem para voltarmos a fazer os grandes clássicos de nossas vitoriosas histórias.
O fato é que o sofrimento de longas filas, eliminações históricas e rebaixamento fizeram da torcida corintiana uma sofredora de plantão. Mas aprendemos e o time se preparou. E venceu de forma invicta e incontestável a Libertadores. Por isso, finalmente, tive a oportunidade de acordar cedo para ver meu time no Japão. Ou melhor, não acordei cedo. Como um legítimo louco do bando, fiz uma mochila e peguei um avião (ou melhor, três) para ver de perto o Corinthians no Mundial.
Tive a oportunidade de conhecer muitas cidades pelo mundo e nada, absolutamente nada, se aproxima do que vi durante uma semana no Japão. O mundo, e especialmente nós, brasileiros, deveríamos conhecer e aprender mais com a cultura e hábitos (de respeito e educação) japoneses. É um povo sem igual. Além de extremamente amistosos, possuem um senso de organização e coletividade de dar inveja até aos alemães. Talvez por necessidade, uma vez que Tóquio possui a mesma população de São Paulo e o agravante de um rigoroso inverno, terremotos, tsunamis e vulcões. Eles jogam no nível hard (ou Legendary, para os iniciados no Fifa).
Mas, hoje, santistas, são-paulinos, cruzeirenses, colorados, gremistas, vascaínos, palmeirenses, rubro-negros e todos os times da America – e do mundo – que me deem licença; meu Timão e o melhor do mundo.
Domo arigato, Japão e seu povo acolhedor.
Já estou louco pra conhecer Marrocos…
Celso Forster é colaborador da F451 e um dos milhões do bando de loucos. Foi até o Japão acompanhar o Corinthians no Mundial de Clubes.